Opinião

Há males que vêm por bem: o IPDJ tem os dias contados e o desporto vai ficar a ganhar

Laurentino Dias, antigo secretário de estado do desporto e juventude, escreve sobre a posição que terá o desporto no novo governo, depois da área da juventude ter ganhado estatuto de ministério

Em meados de 2011, no último Governo do PSD, foi apregoada como muito importante para a reforma da administração pública e a poupança de meios financeiros, uma política de fusões de organizações, comissões e institutos públicos.

Meses após a sua tomada de posse, estava o PM Passos Coelho a responder a perguntas parlamentares quando foi inquirido sobre essa promessa de fusões que até aquele momento não tinham sequer sido iniciadas ou conhecidas.

Sem resposta ou exemplo para apresentar das tão prometidas fusões, lançou um rápido olhar suplicante de ajuda ao seu braço direito que ali o acompanhava, o ministro Miguel Relvas. Este, rápido e brilhante, segredou-lhe e ofereceu a resposta, ou melhor, a necessária bóia de salvação.

Relvas, ao tempo, tutelava as áreas da juventude e do desporto que tinham, cada uma, o seu instituto. Estava salva a honra do Governo! O ministro oferecia ao seu Primeiro Ministro o que tinha ali à mão e ninguém contestaria pois eram da sua tutela.

Na tão aguardada resposta, Passos Coelho garantiu que o Governo cumpriria mesmo o seu propósito de um vasto processo de fusões e dava já como exemplo a juventude e o desporto. Sublinhe-se que, não sabendo bem do que estava a falar, não foi sequer capaz de identificar correctamente o nome dos dois institutos.

Foi este o momento solene em que, num debate na AR, as áreas da juventude e do desporto ficaram a saber que iriam ser “fundidas”. E foram. Demorou algum tempo porque a surpresa trouxe embaraço. Mas, para mal dessas duas áreas, lá se fez a fusão que, sobretudo na área do desporto, não teve, que eu saiba, nenhum aplauso.

Ora, no novo Governo, a área da juventude (que pena não ter sido a área do desporto) ganhou estatuto de ministério, o que significará a impossibilidade prática de continuar a conviver num mesmo instituto com o desporto que terá inevitavelmente uma Secretaria de Estado sob tutela de outro ministério.

O IPDJ, Instituto Português do Desporto e Juventude tem, assim, os dias contados.

Há males que vêm por bem. O desporto vai ficar a ganhar. E, por ironia do destino, o mesmo PSD que fez, anos atrás, tão grossa asneira, vai proceder à sua retificação. Assim seja. A bem do desporto.

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