Opinião

O exemplo importa, e importa muito. Ronaldo é um modelo a seguir e está condenado a carregar essa cruz

O exemplo importa, e importa muito. Ronaldo é um modelo a seguir e está condenado a carregar essa cruz

Duarte Gomes

ex-árbitro de futebol

É verdade que o craque português deu uma cotovelada num adversário, foi expulso e digeriu mal uma decisão da equipa de arbitragem na Arábia Saudita, prolongando a sua insatisfação durante largos segundos. Será penalizado por isso. Mas também é verdade, escreve Duarte Gomes, que CR7 e todos os que, como ele, têm legiões de fãs e admiradores espalhados pelo mundo, devem tentar aprender com estes momentos tendo em conta o impacto que podem ter junto dessas multidões de seguidores

Cristiano Ronaldo foi expulso no jogo com o Al Hilal depois de reação mais intempestiva, na sequência de um "quid pro quo" com Al Bulayhi.

O jogador português não controlou as emoções em momento de maior tensão, numa altura em que o Al Nassr estava em desvantagem e mais longe de chegar à final da Supertaça.
Não há moral do autor deste artigo (ou de quem quer que seja) para fazer juízos de valor sobre a conduta do capitão da seleção portuguesa e por duas razões muito simples:
- A primeira é porque nenhum de nós sabe o que é estar na sua pele, ou seja, nenhum de nós sabe o que é ser a figura desportiva mais mediática e escrutinada do planeta, com tudo o que de bom e de mau isso acarreta.
- A segunda é que todos nós também já tivemos momentos em que baqueámos, em que reagimos sem pensar, permitindo que o coração falasse mais alto do que a razão.
Quem nunca?
Mas devemos tentar ser honestos na reflexão que tudo isto propõe: a constatação da nossa limitação terrena perante situações de maior stress não anula a obrigação de assumirmos as responsabilidades do que fazemos, quando o que fazemos não está certo.
Quando o nosso comportamento não é o esperado, é importante termos encaixe e maturidade para aceitarmos as consequências daí inerentes.
É verdade que o craque português digeriu mal uma decisão da equipa de arbitragem, prolongando a sua insatisfação durante largos segundos. Será penalizado por isso e em breve estará de regresso, para desfilar aquele talento único que Deus lhe deu.
Mas também é verdade que CR7 e todos aqueles que, como ele, têm legiões de fãs e admiradores espalhados pelo mundo, devem tentar aprender com estes momentos, tendo em conta o impacto que podem ter junto dessas multidões de seguidores.
Quem é um modelo a seguir, uma referência para tantos, está condenado a carregar essa cruz, a da obrigação ética e moral de dar sempre o melhor exemplo. Quando não o faz, mais do que convidar à crítica exterior (quase sempre perversa e mesquinha), corre o risco de incentivar os seus fiéis a criarem réplicas dessas condutas.
Anadolu
Em Portugal, há uma relação direta entre o que acontece na I Liga e o que sucede depois a nível distrital: sempre que há confusão em campo, comportamentos censuráveis ou declarações bombásticas, há padrão de repetição a nível não profissional e de formação. Uma má jornada "cá em cima" é quase sempre sinónimo de uma péssima jornada "cá em baixo". Não é matemático, mas é quase.
O exemplo importa. E importa muito.
Não se pode pedir a ninguém que se demita da sua humanidade ou que seja um autómato num mundo tão pressionante como é o do futebol de alta competição. Pode-se apenas recordar os seus maiores talentos que é importante terem noção do peso tremendo que carregam sobre os seus ombros, a toda a hora.
Não é um preço assim tão caro para pagar numa vida que, por mérito próprio, também oferece coisas muito positivas.

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