A PGMOL, empresa que gere os árbitros do futebol profissional da Premier League inglesa, tem tentado de tudo para melhorar o nível da sua arbitragem.
A entidade gerida por Howard Webb (a quem tenho o privilégio de chamar amigo) tem agora divulgado um conjunto de iniciativas que assentam na tentativa de credibilização da classe junto dos diferentes atores do espetáculo.
Webb, dirigente experiente e de reconhecida competência, sabe bem que parte do sucesso do setor passa (também) pela forma como é percecionado cá fora.
Se clubes, imprensa e adeptos acreditarem que os árbitros são pessoas de bem que apenas tentam dar o seu melhor, o ambiente será menos tenso e crispado. A pressão negativa, a desconfiança e os ataques tenderão a diminuir, o que lhes dará mais "liberdade" para fazerem o seu trabalho com outro foco e motivação.
É quase matemático e só não percebe isso quem não percebe nada disto.
Depois de optar por falar abertamente (na televisão) sobre lances discutíveis e de ter tornado públicos áudios de conversas entre árbitros e VAR's, o ex-internacional inglês prepara-se agora para divulgar lista com as simpatias/preferências clubísticas dos seus árbitros, numa declaração de interesses que será o mais transparente possível.
A ideia surgiu na sequência de críticas do Nottingham em relação a Stuart Attwell, alegadamente adepto do Luton Town, nomeado como vídeo árbitro numa derrota controversa do Forest com o Everton (jogo da época passada). Na altura as três equipas lutavam para evitar a despromoção.
A medida é muito discutível, mas não deixa de matar pela raíz eventuais focos de especulação que não fazem qualquer sentido por estes dias: se jogadores, treinadores e jornalistas têm geralmente um "clube do coração" não permitindo que isso belisque o seu brio profissional, porque seriam os árbitros os únicos a deixar-se afetar por esse facto? Uma idiotice com prazo de validade (há muito) ultrapassado.
Gerir arbitragem de futebol de topo nos dias de hoje é um exercício de grande dificuldade. As maiores preocupações são obviamente as internas: primeiro profissionalizar os árbitros de elite e dar-lhes meios, recursos e condições para se dedicarem em exclusivo à função. A partir daí exigir-lhes trabalho, compromisso e responsabilidade. Os treinos em sala e em campo devem ser diários, uma constante, porque só a repetição traz "perfeição". A preparação teórica, técnica, psicológica e o trabalho de equipa devem ser aprimorados o mais possível. Cada jogo é uma oportunidade para mostrar competência, foco, entrega total. E quem não estiver à altura, não pode pertencer à elite.
Externamente é preciso mostrar ao mundo, de forma ponderada, estratégica e consistente, que esta equipa - a terceira equipa em campo - é composta por pessoas sérias que não têm nada a esconder. Pessoas que se regem por padrões de transparência, seja na forma como trabalham, seja na forma como são nomeadas, classificadas, promovidas ou despromovidas.
O futebol de hoje tem que ser um livro aberto, onde tudo, mas mesmo tudo, possa ser auditado a qualquer hora, porque quem não deve não teme e a arbitragem nada deve a ninguém.
Howard Webb sabe disso. E mesmo consciente que jamais colherá elogios transversais - as críticas ferozes estão sempre à distância do penálti que se segue -, caminha da forma certa, apostando no reforço de qualidade para dentro e na demonstração de honestidade para fora.
Não é apenas inteligência, é competência e essa, meus amigos, é uma bênção que não toca a todos.
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