Opinião

O Valor Acrescentado do Desporto

O Valor Acrescentado do Desporto

Laurentino Dias

Ex-secretário de Estado do Desporto

Grandes marcas mundiais de desporto, ou os maiores eventos desportivos europeus, mundiais e olímpicos, não têm apenas os nossos melhores atletas a representar Portugal. Têm também inúmeras empresas portuguesas que são, em muitos casos, líderes mundiais, medalhas de ouro das respetivas indústrias. Quem vê provas de canoagem internacionais pode ler na esmagadora maioria das canoas em competição (de dezenas de países) o nome “Nelo”: é de Vila do Conde, e é um dos maiores fabricantes mundiais de canoas

1 - A Associação Industrial Portuguesa anunciou há dias que vai formalizar o “cluster das indústrias e tecnologias do desporto” em colaboração com empresas, instituições e entidades relacionadas com o desporto. Na sua nota pública, a AIP refere que o volume de negócios das atividades económicas relacionadas com o desporto ultrapassam anualmente os 5.700 milhões de euros, sendo que as exportações em 2023 representaram mais de 2.000 milhões de euros.

Está claro, especialmente se vier a ser desenvolvida nas suas diversas vertentes, que se trata de uma iniciativa de grande alcance e relevo, pois abre uma nova visão do mundo desportivo quando integrado na realidade social e económica de que emerge, e onde desempenha um papel de grande notoriedade.

Alinha-se como grande objetivo capacitar pessoas e empresas, e promover a sua internacionalização e competitividade, o que coincide em grande medida com o segmento desportivo dedicado ao alto rendimento.

Feliz coincidência ou não, os últimos relevantes resultados desportivos chamaram a atenção para uma infraestrutura desportiva de topo no nosso país - o Velódromo de Sangalhos - e a respetiva modalidade desportiva - o ciclismo de pista - que promove modernas tecnologias no fabrico de bicicletas e outras componentes. Acresce que esta infraestrutura acolhe permanentemente ciclistas e equipas de classe mundial, e que sobretudo se situa numa região de fortíssima indústria de produção de bicicletas.

Pode constituir-se um bom exemplo e, quem sabe, um excelente ponto de partida para outras plataformas de ligação desporto/empresas ou alto rendimento/alta tecnologia, potenciadas em outros Centros, com outras autarquias e diferentes federações desportivas.

Sempre foi claro para mim que as infra-estruturas desportivas especializadas (vulgo Centros de Alto Rendimento) podem constituir polos de desenvolvimento local ou regional, pois congregam várias componentes que, quando conjugadas e otimizadas, são mais-valias para todos os parceiros.

O Desporto oferece, desde logo, o prestígio e a imagem dos seus melhores, o seu exemplo de sucesso nacional, europeu e até mundial, a nossa participação no estrangeiro em eventos de nível europeu e mundial, ou mesmo a sua realização em Portugal, com todas as promoções possíveis de produtos e marcas que lhes sejam associadas.

Nos recentes Jogos Olímpicos de Paris, foi patente nos órgãos de comunicação social escrita, e sobretudo televisionada, a associação de alguns prestigiados atletas a um conjunto de marcas em spots publicitários diversos. Essa presença é sinal evidente de que é reconhecidamente vantajoso e rentável para as empresas construir uma relação entre o seu produto ou marca e o atleta/campeão.

Isto é válido para diferentes setores da economia, dos mais tradicionais aos tecnologicamente mais evoluídos. E é bom que se saiba que em Portugal não há apenas atletas de renome mundial como Ronaldo, Rosa Mota, Nelson Évora, Bernardo Silva, Fernando Pimenta ou Vanessa Fernandes e tantos outros! Há também empresas que são campeãs no mundo das mais sofisticadas tecnologias, nomeadamente de material desportivo. Empresas como uma conhecida e reconhecida, que produziu, na PR têxteis, em Barcelos, os fatos de competição dos grandes campeões Usain Bolt e Yohan Blake!

Grandes marcas mundiais de desporto, ou os maiores eventos desportivos europeus, mundiais e olímpicos, não têm apenas os nossos melhores atletas a representar Portugal. Têm também inúmeras empresas portuguesas que são, em muitos casos, líderes mundiais, medalhas de ouro das respetivas indústrias. Quem vê provas de canoagem internacionais pode ler na esmagadora maioria das canoas em competição (de dezenas de países) o nome “Nelo”! É de Vila do Conde, e é um dos maiores fabricantes mundiais de canoas.

Há muitos outros exemplos, e inesgotáveis áreas de conjugação do mundo desportivo com o mundo empresarial, com mútuas vantagens que dolorosa e inexplicavelmente vêm sendo desperdiçadas. E aí o desporto perde, as empresas perdem, o país perde.

A AIP, ao anunciar para breve a formalização do cluster que “abraça” desporto e empresas, abre uma via de sucesso garantido, que os atletas e instituições desportivas também abraçarão, que as empresas potenciarão, e que naturalmente todos aplaudiremos.

2 - Hoje começam em Paris os Jogos Paralímpicos, que vêm agora capturar a nossa atenção. 27 atletas em representação de Portugal participam em 10 modalidades, mostrando que no nosso país acreditamos que o desporto de facto é de todos e para todos, e muito importante na vida das pessoas portadoras de deficiência.

José Lourenço, presidente do Comité Paralímpico Português, afirmava na partida para Paris que este é “o primeiro ciclo completo em que se verificam condições de equidade entre olímpicos e paralímpicos”. Ainda bem. É Portugal no bom caminho. Resta desejar boa sorte a esta nossa bela equipa em Paris, com o mesmo orgulho e admiração pela vitória já conseguida da classificação para os Jogos com que há semanas brindámos os seus colegas olímpicos. Força Portugal!

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