Opinião

Mourinho e Guardiola trocaram alfinetadas ao jeito de toma lá, dá cá. Ambos são geniais, não será um troféu a mais ou a menos que apaga isso

Mourinho e Guardiola trocaram alfinetadas ao jeito de toma lá, dá cá. Ambos são geniais, não será um troféu a mais ou a menos que apaga isso

Duarte Gomes

ex-árbitro de futebol

Pep Guardiola e José Mourinho têm lugar cativo na galeria dos notáveis, sublinha Duarte Gomes. Ambos são geniais naquilo que fazem e o resto é só o resto. São momentos, acontecem e muitas vezes surgem pela insistência ardilosa de alguns jornalistas, mesmo assim... é de evitar

I. O mundo do desporto continua a presentear-nos com momentos fantásticos e outros menos bonitos.

Até certo ponto, percebe-se.

São muitas emoções. Há demasiada coisa em jogo a cada jogo, em cada prova ou competição e é normal que isso estimule emotividade e exaltação. Excesso até.
Mas há o tal limite que profissionais de topo, desportistas de eleição, nunca devem ultrapassar.
Recentemente, dois dos melhores pilotos de Fórmula 1 decidiram lavar roupa suja em praça pública, não conseguindo conter para dentro trivialidades que a imagem e bom-nome da modalidade bem dispensavam.
Independentemente das razões de um ou de outro, independentemente da maior ou menor gravidade do que está em causa (a Federação Internacional Automóvel que resolva diferendos relevantes), quando a disputa entre dois extraordinários profissionais acaba nos jornais pela via do ‘ele é um bully vs ele é que me ameaçou’, algo vai mal.
Zero maturidade e pouco brilho de duas estrelas maiores que escolheram a birrinha, o amuo de meninos, os recados pela imprensa.
Alguém que lhes diga que, cá fora, ninguém quer saber se as comadres estão de costas voltadas, se jantam uma ao lado da outra ou se dão apertos de mão antes de fazerem ó-ó. Sejam profissionais, façam aquilo que são principescamente pagos para fazer e não ofendam os milhões de fãs que conquistaram nos quatro cantos do globo.
Estamos habituados a números destes noutras bandas, mas ver galácticos agirem como se fossem grãos de areia faz alguma confusão.
II. A outro nível, dois dos mais conceituados treinadores do mundo - um orgulhosamente nosso - também não resistiram a umas alfinetadas mútuas, ao jeito de toma lá, dá cá. São momentos, acontecem e muitas vezes surgem pela insistência ardilosa de alguns jornalistas, mesmo assim... é de evitar. Guardiola e Mourinho têm lugar cativo na galeria dos notáveis, são geniais naquilo que fazem e não será um troféu a mais ou a menos que apagará essa realidade. O resto é só o resto.
III. Tal como a qualidade dos árbitros é avaliada pelas suas decisões e a dos guarda-redes pelo número de golos (não) sofridos, a dos treinadores é escrutinada pelos resultados. O mundo do futebol tem esta capacidade, de olhar apenas para o produto final, negligenciando o trabalho, sacrifício, dedicação, compromisso e seriedade entregues arduamente no trajeto. Um universo friamente resultadista, a que nem dirigentes e presidentes de SAD's às vezes escapam.
Pelo meio, bons árbitros, excelentes guarda-redes, grandes treinadores e dirigentes competentes são esmagados por uma das poucas máquinas capazes de transformar heróis em vilões (e o seu contrário) em questão de dias.
A urgência dos números é quase sempre maior que a paciência para esperar que apareçam. Está tudo errado.

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