Só um homem viveu a jornada de apuramento do campeão de inverno como se fosse verão: Bruno Lage. Na conferência de imprensa brincou, meteu-se com os jornalistas, esclareceu equívocos com a bonomia de quem vive num eterno agosto, até se prontificou a responder a mais perguntas, todas as que quisessem. Não sei se já percebeu que os benfiquistas, ainda que moderadamente felizes por mais um troféu, estão a assimilar a perda de seis pontos nas últimas jornadas. Que, no final da primeira volta, o Benfica siga atrás deste Porto e de um Sporting atingido por um João Pereira, é motivo da maior tristeza. Uma tristeza digna de um “campeão de inverno”
Campeão de inverno. De certeza que não é um oxímoro? Ou um título irónico? No meu bairro havia um casal muito pobre, e de aspeto condizente com a pobreza, ao qual, com a maldade típica dos pequenos meios, alguém deu o nome de “casal feliz”. Há outros casos de títulos aviltantes. O “rei do tremoço”, por exemplo. A grandeza da monarquia era apoucada pela pequenez e insignificância do tremoço. Parece-me que com o pomposo e, segundo dizem, agora oficial “campeão de inverno” acontece algo semelhante.
Antigamente, quando o “campeão de inverno” era apenas uma brincadeira, um gracejo para assinalar a equipa que dobrava o meio do campeonato em primeiro, era levado mais a sério. Agora querem que o levemos a sério, outorgando o título ao vencedor da Taça da Liga, e é por isso que nos dá vontade de rir. Porque antes não era glória nenhuma. Era até um aviso para que o líder não se deslumbrasse. O campeão de inverno era “campeão de inverno”. Hoje quase nos obrigam à genuflexão reverente perante o Campeão de Inverno!
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