Sempre que é preciso encontrar um novo lateral-esquerdo, o coração dos benfiquistas bate mais depressa, suores frios agitam o corpo, entra-se num estado febril, um prenúncio de doença. É uma espécie de stress pós-traumático. O lugar é o gatilho que faz disparar os medos mais fundos de um benfiquista, de que os tempos do Vietname regressem, de que um Pesaresi reencarnado venha assombrar aquela faixa da Luz
Deve ser por masoquismo, ou então por aquele prazer ambíguo de revisitar lugares onde fomos infelizes, mas de vez em quando gosto de recordar os plantéis do Benfica durante aquele período negro entre o final dos anos 90 e a primeira metade deste século. Lá estão os Pembridges e os Pringles, os Sabrys e os Saunders, os Bossios e os Bermúdez. Nem todos eram maus. Gamarra, Preud’Homme, Poborsky, Brian Deane, Robert Enke ou Pierre van Hooijdonk tiveram a infelicidade de apanhar um Benfica de tanga, sem rei nem roque. Mas quando se olha para a galeria de laterais-esquerdos desses anos é que se tem verdadeira noção do desastre.
Escalona, Scott Minto, Ricardo Rojas, Bruno Basto, Diogo Luís, Steve Harkness, Jorge Ribeiro, Pesaresi ou Fyssas. De todos estes nomes, só Fyssas deve trazer boas memórias muito à custa do triunfo na final da Taça contra o Porto de Mourinho. Os restantes, alguns bastante promissores, outros que pouco ou nada tinham para dar, são a Jolly Roger, a bandeira dos piratas, a sinalizar o caos, a desordem e o naufrágio iminente que era o Benfica da altura. Se o clube era um lugar amaldiçoado, o epicentro da maldição era o lado esquerdo da defesa.
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