Opinião

E Pluribus Unum e a defesa do futuro do Benfica

E Pluribus Unum e a defesa do futuro do Benfica

Raquel Vaz Pinto

Investigadora e professora

Nós, Benfiquistas, precisamos de fazer a ruptura total com o Vieirismo estatutário. Vieira já não está no poder, mas estes Estatutos - que vão a votos este sábado - foram feitos para os Vieiras desta vida

A aventura estatutária que começou a 18 de Novembro de 2021 termina no sábado, dia 8 de Março, numa Assembleia Geral Extraordinária.

Começo por elogiar o Presidente da Mesa da Assembleia Geral, José Pereira da Costa, pela sua explicação de como serão os procedimentos e transparência deste processo e, sobretudo, pela forma como teve de assumir o leme deste navio estatutário e transformou as «Tormentas» em «Boa Esperança». Quero também deixar o meu agradecimento ao Presidente Rui Costa por ter cumprido a sua promessa.

A aventura para chegarmos a este dia foi intensa e tivemos momentos de entusiasmo, de preocupação, de frustração, de debate e de empenho. Tendo em conta que somos um clube com 400 000 fiéis e milhões de crentes pelo mundo fora, não poderia ter sido de outra forma. Para mim, o mais importante é termos Estatutos que sejam mesmo E Pluribus Unum. Em 2023, escrevi: "Quero reiterar que não interessa quem fez o quê desde que a versão final dos Estatutos reforce a institucionalização do Benfica em detrimento de conjunturas e pessoas. O nosso clube já teve derivas presidencialistas e conjunturas destrutivas que cheguem e eu não quero que se repitam."

Na minha perspectiva, a proposta que vai a votos cumpre este desígnio. Há muitos aspectos que merecem destaque, tais como a limitação de mandatos, a dignidade estatutária do nosso Hino, a representação fiel do nosso emblema, a remuneração e responsabilização executiva, a maior justiça entre os anos de sócio e o número de votos, entre tantos outros.

Mas, sobretudo, esta proposta vale pelo seu todo e pela forma como deixa o Benfica mais defendido e mais habilitado para fazer face aos enormes desafios que temos.

Por tudo isto, foi com perplexidade que assisti nas últimas semanas à inundação de alegadas notícias sobre a "ilegalidade" dos Estatutos e de mensagens nas redes sociais sobre a "instabilidade" e o "elitismo", entre outros, desta proposta. A dado momento e tendo em conta que vivemos num mundo de gente como Trump e Putin e de conceitos peregrinos como "factos alternativos", pensei sinceramente que afinal íamos descobrir que a Rússia invadiu a Ucrânia e tem conduzido uma guerra desumana e criminosa devido aos… Estatutos do Benfica.

Concordo com tudo o que está nos Estatutos? Claro que não. Mas, depois de tantas reuniões e assembleias onde o debate foi intenso e os argumentos foram esmiuçados, rebatidos ou reforçados, o resultado final foi o de termos reaprendido a negociar, a ceder e a encontrar um caminho comum.

Vou ser muito directa sobre a importância destes Estatutos.

Nós, Benfiquistas, precisamos de fazer a ruptura total com o Vieirismo estatutário.

Vieira já não está no poder, mas estes Estatutos foram feitos para os Vieiras desta vida.

Por último, o argumento comparativo face a outros clubes portugueses.

O Sporting virou a página 'carvalhista' e até o Porto fez a ruptura com Pinto da Costa. Repito, até o Porto.

Fê-lo nas urnas e de forma inequívoca e limpa. Não quero ser deselegante para quem já morreu, mas para o PSEC - Processo de Santificação Em Curso – do antigo presidente do Futebol Clube do Porto, não contem comigo. A declarações como as de Pedro Proença, que afirmou "o futebol português deve uma vénia a Pinto da Costa"… a única coisa que se pode responder é isto:

Vénia? Só a nossa, feita pelos jogadores aos adeptos no Estádio da Luz!

Em tempos escuros, difíceis e tenebrosos da ditadura portuguesa, o Benfica foi uma Luz democrática.

No dia 8 de Março de 2025, aprovar a proposta de Estatutos é honrar essa memória e essa história e ir ao encontro das palavras que tantas vezes cantamos na Catedral: "Benfica, o amor da minha, das nossas vidas!"

Raquel Vaz Pinto foi membro da Comissão de Revisão dos Estatutos criada pelo Benfica e escreve com o antigo Acordo Ortográfico.

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