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Opinião

Futebol Clube do Porto: Ano Zero

Não é o fim do FC Porto. Calma. Nunca percebi aquela pulsão, aquele desejo de muitos adeptos benfiquistas de desferir o golpe definitivo que reduzisse o FC Porto a cinzas, talvez esfomeados por uma vitória que expurgasse de uma vez por todas o medo cénico dos espíritos benfiquistas. Esta época trouxe duas vitórias inequívocas, duas goleadas, e posso garantir-vos: o FC Porto não vai acabar. Porém, não acabando, vive o seu ano zero - está em ruínas, é terra devastada

É a terra devastada. Os adeptos que no domingo foram ao Estádio do Dragão viram um cenário de ruínas, escombros, esqueletos de prédios, crateras fumegantes. O jovem Rodrigo Mora, um génio na semana passada, apareceu com aquele ar neorrealista, triste e chamuscado, dos miúdos que, no pós-guerra, sobreviviam graças a esquemas, a pedir chocolates às tropas aliadas. Se não me engano, saiu de campo com uma bicicleta roubada.

Nem sequer houve muita indignação. Quando Pavlidis marcou o terceiro golo – o primeiro jogador do Benfica a marcar três golos no campo do Porto – muitos adeptos abandonaram o estádio com a resignação e o asseio do funcionário despedido que recolhe os pertences da secretária. Em tempos não muito longínquos, ir para o intervalo a perder 2-0 com o Benfica em casa desencadearia motins, incêndios, arremesso de bolas de golfe. No domingo, disseminou-se pelas bancadas apenas uma vaga nada violenta de mágoa.

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