Opinião

Faltam árbitros no futebol português. Os que há também estão em pré-época

Faltam árbitros no futebol português. Os que há também estão em pré-época

Duarte Gomes

ex-árbitro de futebol

O futebol português tem hoje no ativo tantos árbitros como tinha no final da década de 90. Não é apenas feio, é inadmissível e sinal de que pouco foi feito para inverter a tendência. Mas a FPF quer profissionalizar quem escolheu esta profissão, além de os humanizar aos olhos de todos, explica Duarte Gomes, o novo diretor técnico nacional de arbitragem

Na passada semana, alta intensidade na preparação dos nossos árbitros de elite e da categoria C3. Os seminários de início de época, que tiveram lugar na Cidade do Futebol e no Luso, foram pensados e preparados para dotá-los com as ferramentas necessárias para iniciarem 25/26 na melhor forma.

Como referiu em entrevista recente o Presidente da Direção FPF, sabemos bem onde estamos e para onde queremos caminhar. A arbitragem é uma das áreas em que há muito a fazer, do aumento maciço do número de árbitros (e respetiva retenção) à necessária reformulação no plano formativo. É também importante caminhar rumo à profissionalização efetiva dos que dirigem jogos na elite, dando-lhes condições para que possam exercer a função com foco, compromisso e entrega. O mérito - apenas esse, para eles e para elas - será o fator que determinará quem chegará ao topo e quem se estabelecerá noutras categorias.

A pretensão é ambiciosa e não se constrói de um dia para outro. Para que se tenha uma ideia, o futebol português tem hoje no ativo tantos árbitros como tinha no final da década de noventa. Não é apenas feio, é inadmissível e sinal de que pouco foi feito para inverter a tendência.

Sabemos que não é fácil atrair jovens para esta carreira, mas também sabemos que nada é impossível: é preciso criar estímulos (financeiros, de projeção de carreira e de segurança, por exemplo) para lhes provar que a arbitragem é uma alternativa válida para quem quer estar ligado ao futebol, não tendo a habilidade/oportunidade que abençoa a minoria que atinge os escalões profissionais.

O caminho faz-se caminhando com paciência, consistência e noção de um rumo bem definido.

Regressando aos cursos dos árbitros C1 e C3, convém sublinhar o nível de exigência colocado por todos os que os prepararam e pelos próprios árbitros, absolutamente insuperáveis no compromisso, atitude e nível de empenho. Ao longo desses dias, tivemos dezenas de horas em sala e outras tantas em campo. Analisámos lances para padronizar critérios, insistimos nos aspetos que detetámos como menos afinados e valorizámos as muitas situações que queremos manter.

Queremos consistência, coragem e firmeza, com humildade, elevação e personalidade. Todos perceberam a importância desse posicionamento como forma de credibilizar a imagem da classe e aumentar o aceitação das decisões. Mais respeito é sinónimo de menos protestos, menos infrações, menos cartões, logo maior tranquilidade e fluidez de jogo. Não sendo a única, é uma conta simples de fazer.

Numa das ações que levámos a cabo na nossa casa - a casa do futebol, onde todos agora cabem -, convidámos sociedades desportivas e imprensa a estarem presentes. Quisemos que todos ouvissem o mesmo, ao mesmo tempo. A resposta foi esmagadora, o que nos encheu de orgulho.

Conseguimos que o anfiteatro principal da Cidade do Futebol enchesse com quase trezentas pessoas - entre árbitros, árbitros assistentes, vídeo árbitros, observadores, representantes de clubes e jornalistas - para assistirem às orientações gerais para a época e às sessões "Recomendações para Árbitros" e "Alterações às Leis de Jogo".

Para nós é importante que todos saibam o mesmo e todos percebam o que se pretende, nem que seja para fundamentar a crítica.

Também por isso já demos formação técnica in loco a dezenas de sociedade desportivas, para que estejam sintonizadas com o essencial antes da bola começar a rolar.

A estratégia passará sempre por aí: abrir as portas, mostrar processos, criar dinâmicas e humanizar: o árbitro pode errar, mas não é desonesto. Pode falhar, mas nunca o fará de propósito.

Este novo paradigma comunicacional e de nível de trabalho pode ser a fórmula certa para atingirmos as nossas metas a longo prazo. Vamos tentar, sabendo que nada fazer não é opção.

Venham os jogos.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt