O futebol é qualquer coisa, de facto. Por entre tanto que já nos oferece, tem ainda a capacidade de, no mesmo instante, fazer-nos sentir a leveza do orgulho e o peso da perda.
Mais logo (escrevo este artigo na manhã de quarta-feira, dia 13), não serão apenas os portugueses que jogam no Paris Saint German ou no Tottenham a entrarem em campo. O nosso país estará igualmente representado por João Pinheiro e pela sua equipa, nomeados pela UEFA para dirigirem a Supertaça Europeia.
Não. Não é um jogo qualquer. É uma final. A grande reentré em 2025/26. Um momento que reúne muitos campeões, milhões de espetadores e mediatismo à escala global. A escolha pela "nossa" equipa de arbitragem traz consigo uma mensagem clara: Portugal volta a ser novamente respeitado nestas andanças, as do mais alto nível e isso são excelentes notícias.
O que está aqui em causa não é apenas a distinção de um homem ou da sua equipa: é a validação de muitos anos de trabalho, expressa em bons desempenhos, em observações atentas, em resultados positivos. Estamos a regressar à elite mundial, jogo a jogo, passo a passo e lidamos bem com isso.
Mas enquanto celebramos esta nomeação, não podemos nem devemos esquecer a perda recente de um grande do futebol português. O Jorge Costa não era apenas um dos eternos capitães do FC Porto, era um símbolo de liderança e resiliência dentro e fora do campo. Era de seleção, da seleção. Pessoas assim, que vivem o futebol uma vida inteira, com intensidade absoluta, merecem que o seu legado permaneça imortalizado. E merecem que se prolongue em pequenas vitórias como aquela que teremos em Udine, na Supertaça Europeia, quando virmos tantos portugueses em palco.
São estes contrastes que tornam o futebol demasiado próximo da vida. De um lado a alegria de ver uns a jogar ou a arbitrar uma final europeia; do outro a dor ainda marcante do adeus prematuro a quem nos tocou de tão perto.
Entre a glória e a perda, o sorriso e as lágrimas, encontramos a razão que nos mostra o porquê deste jogo mexer tanto connosco: porque é feito de pessoas, de histórias e momentos que nos lembram que nada é garantido e que tudo deve ser vivido responsavelmente... mas com muita intensidade e entrega.
Já nós, neste lado de cá, o da arbitragem, não podemos deixar que estas pequenas vitórias passem despercebidas, porque somos constantemente relembrados das nossas derrotas. Devemos continuar a divulgá-las com orgulho, a explicar como as conseguimos e a querer estar cada vez mais perto de todos os que acompanham o espetáculo.
Quando João Pinheiro, Luciano Maia e Bruno Jesus entrarem mais logo no "Bluenergy Stadium" não levarão apenas o apito, as bandeirolas ou os cartões: levarão o nome do seu país, a credibilidade da sua classe e a esperança de que cada vez mais jovens vejam nesse exemplo apelo suficiente para abraçarem uma carreira que é, em boa verdade, uma das mais nobres que o jogo alguma vez criou.
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