Uma coisa é certa: mesmo que vença todos os seis jogos que faltam até ao fim do campeonato, o FC Porto não fará uma segunda volta tão boa como a primeira, no múmero de pontos conquistados. Será a segunda vez que tal acontece com Sérgio Conceição, embora a amostra não seja grande coisa, porque esta será apenas a terceira temporada que cumpre na totalidade, no mesmo clube
O momento em que Felipe e Osório, tão brutos quanto imprudentes, colidiram para deixarem Nathan correr livre na pradaria e picar a bola sobre Casillas; o momento em que quem ladeava Maurides não atacou o espaço e o deixou cabecear a bola, à vontade e com força; e todos os momentos fora estes, em que o FC Porto tentou e insistiu, mas não conseguiu marcar um golo ou mais do os que sofreu do Belenenses, garantiram uma coisa: os dragões vão fazer uma segunda volta pior do que a primeira.
É um destino ao qual não podem fugir, culpa da inevitabilidade dos números das seis jornadas que faltam realizar no campeonato. Caso vencesse em todas, o FC Porto faria 18 pontos que, somados aos 25 que já tem em 11 jogos da segunda volta, não chegariam, sequer, para igualar os 45 pontos com que terminou a primeira rodada.
A primeira liga tem 18 equipas, todas jogam contra cada uma por duas vezes, são 34 jornadas e porque há estatísticas e vontade em falar nelas, faz-se um meio termo ao 17º jogo do campeonato.
E esta época será a segunda vez na carreira de Sérgio Conceição em que uma equipa por ele treinada piora na última metade do campeonato. Em pontos, claro.
Mesmo que vença todos os jogos - incluindo na Luz, contra o Benfica, daqui por duas semanas - o FC Porto também acabará a segunda volta do campeonato com as mesmas vitórias (14) que logrou na primeira. Mas sempre com menos pontos, mesmo que marque mais golos e que sofra menos, o que implica supor e entrar na futurologia, coisas que não vamos fazer.
Certo é afirmar que Sérgio Conceição vai padecer de algo que, factualmente, só lhe acontecera no Sporting de Braga, em 2014/15. Com o futebol intenso, a preferir poucos e verticais passes em vez de muitos e curtos passes a acontecerem calmamente, que o treinador quis para os minhotos, eles somaram mais pontos, vitórias e golos marcados até à 17ª jornada, em comparação com o que se seguiu.
Na segunda metade da época, o Braga ganhou e marcou menos e viu a balança compensar nas coisas más - os golos sofridos e as derrotas aumentaram.
Essa foi apenas a segunda temporada completa para o técnico que, aí, passámos a conhecer mais como o tipo genuíno, emotivo e fervilhante a reagir aos momentos mais agitados de um jogo, com tudo o que isso tem de bom e de mau. Na época anterior já o fizera com a Académica, no clube mais perto do sítio onde ele nasceu (Ribeira de Frades, a cinco quilómetros de Coimbra).
Com a equipa que joga de negro somou mais um ponto na segunda volta, melhorando nas vitórias e nos empates e, sobretudo, na forma como atacavam e defendiam - das poucas coisas que são seguras constatar, olhando apenas para os golos marcados e sofridos. E aqui referimo-nos a um tempo em que o campeonato era mais curto (30 jornadas) e, logo, menos desgastante.
Estas duas épocas constituem a magra amostra que temos de Sérgio Conceição, pois foram as únicas que o treinador cumpriu, na íntegra, com uma só equipa.
Antes, ele fez duas meias épocas no Olhanense, primeiro a pegar no que outros deixaram e, depois, a deixar para outros pegarem, entre 2012 e 2013. Foi a primeira experiência como treinador principal num clube remendado e instável, onde não cumpriu mais de 20 jogos no campeonato em qualquer uma das temporadas que passou no Algarve.
Ele também fez dois terços de uma temporada no Vitória, em Guimarães, onde chegou à 6ª jornada e, sim, levou-o até ao fim. Fazendo uma hipotética divisão das 28 partidas que cumpriu no campeonato, a primeira volta teria sido bem melhor do que a segunda. Ou seja, os primeiros 14 encontros comparados com os 14 seguintes: 21 pontos, seis vitórias, três empates e cinco derrotas contra 13 pontos, duas vitórias, sete empates e seis derrotas. O ano passado houve a experiência em Nantes, em França, também não experienciada desde o arranque da época.
O moral deste exercício de recordar o que já aconteceu e compará-lo ao que está a acontecer é que, no fundo, é impossível de comparar. Porque o cansaço, a quebra física, ou lesões, que temos visto em alguns dos jogadores (Danilo, Brahimi, Alex Telles, Marega) que puxaram pela grande dinâmica coletiva do FC Porto, durante quase sete meses, e a insistência, sem alternativas de jogo, num plano que pressupunha o seu rendimento para resultar, não aparecem nos números.
E, em relação às duas únicas épocas completas que Sérgio Conceição completou, as estatísticas também não mostram os momentos de forma dos futebolistas, as eventuais lesões, as subidas de rendimento dos adversários ou a sorte e o azar de a bola entrar nas balizas, que também contam.
Resumindo, não refletem o contexto. Sem o qual nenhum número serve para ofererer uma explicação, ou conclusão.
A única coisa que se pode concluir é que Sérgio Conceição, pela segunda vez na carreira, terá uma segunda volta de campeonato pior do que a primeira. Seja quais forem as voltas que acabem por contribuir para isto (mas, para elas, haverá tempo no final do campeonato).