O antigo presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e empresário nortenho afirmou ao Expresso está na hora de Jorge Nuno Pinto da Costa e o Conselho de Administração da SAD do FC Porto prestarem contas aos acionistas, sócios e adeptos dos 'dragões' , assegurando que “situação é de tão grave que a cidade devia unir-se para tentar resolver o descalabro financeiro do clube”.
“Se enquanto administrador de uma empresa apresentasse contas deste calibre, demitia-me. € 51,8 milhões de prejuízo no primeiro semestre da época é grave, mas ainda me angustia mais não vislumbrar na atual administração um sinal de mudança de política de gestão ou uma receita alternativa para inverter os crónicos exercícios negativos”, avisa o acionista que, em meados de fevereiro, descartou ser candidato à presidência do FC Porto, mas agora remete para o próximo sábado uma declaração sobre as eleições de 18 de abril.
Após quase três décadas de corrida a solo, Jorge Nuno Pinto da Costa, que se recandidata ao cargo pela 15.ª vez, irá enfrentar nas urnas José Fernando Rio, o comentador do Porto Canal que anunciou este domingo, na RTP3 a corrida à presidência dos azuis-e-brancos, dois dias depois de ter comunicado a saída da estação detida pelo FC Porto. Nas eleições, que prometem ser as mais concorridas de sempre da era Pinto da Costa, também Martins Soares, o único candidato que ousou enfrentar o eterno líder dos 'Dragões' nas urnas, avançou à TSF a sua vontade de voltar a candidatar-se, mesmo tendo somado resultados residuais em 1988 e em 1991.
Um e outro anúncio de candidatura precipitaram-se após o FC Porto ter apresentado o maior prejuízo semestral negativo da história da SAD criada em 1997, menos € 6 milhões do que o resultado líquido consolidado negativo da época 2015/16 (€ 58,4 milhões), contas que colocaram o clube no radar do fair play financeiro da UEFA até junho de ano em curso.
Para João Rafel Koehler, as contas enviadas sábado à CMVM ameaçam, não só colocar de novo a SAD portista de novo na mira da troika dos clubes, mas a própria sobrevivência do clube, “em falência técnica com quase € 90 milhões de capitais próprios negativos”. “Estas contas precisam ser muito bem escrutinadas, pois os sócios e acionistas têm o direito de saber a razão pela qual 40% do dinheiro das transações de jogadores se perdem em comissões, partilhas de passes e outros custos”, alerta o empresário, sublinhando que, nos últimos cinco anos, dos € 438 milhões resultantes de transações de passes “apenas entraram nos cofres do clube € 257 milhões”.
Hora de debate, sem delito delito de opinião
Ao Expresso, o empresário lembra que durante os últimos quatro anos de mandato de Pinto da Costa esteve calado, mas que numa altura em que o clube vai a votos “é preciso falar verdade e explicar como é que entre aquisições e venda de jogadores as contas apontem para um prejuízo de € 65 milhões com amortizações e imparidades”, enquanto no plano desportivo “o clube tenha ganho dois títulos em 25 possíveis”, nos últimos cinco anos.
“A única explicação é má prática de gestão financeira e desportiva. Este tipo de gestão é uma insanidade”, frisa, acrescentando que o clube de que é sócio desde pequeno arrisca hipotecar o seu futuro nos próximos 15 anos. Koehler não tem duvidas que o resultado do primeiro semestre da época em curso “envergonha” o clube, sustentando que “o passivo corrente nunca foi tão mau - € 214 milhões -, tendo em conta um total de ativos correntes de pouco mais de € 90 milhões”.
O afastamento da fase de grupos da Liga dos Campeões foi a justificação avançada pela administração da SAD para os maus resultados financeiros: em 2018, a equipa de Sérgio Conceição somou € 60.8 milhões na Champions e esta temporada não foi além dos € 9.4 milhões. À CMVM, os Dragões anunciaram ainda um passivo total de € 444.5 milhões contra um ativo de € 357.5 milhões.
Numa nota do Relatório e Contas, a auditora Ernst & Young sublinha uma “incerteza material” relacionada com a atividade da SAD, que “pode colocar dúvidas significativas sobre a capacidade do Grupo em se manter em continuidade”. “As demonstrações financeiras foram elaboradas no pressuposto da continuidade das operações, prevendo-se a manutenção do apoio financeiro das instituições financeiras e outras entidades financiadoras, nomeadamente através da renovação e/ou reforço das linhas de crédito existentes, bem como do sucesso das operações de alienação de diretos de inscrição de jogadores, essencial para o equilíbrio financeiro do Grupo”, avisa a consultora.
Os tipos de apoios de instituições financeiras e de outras entidades financiadoras aludidos no relatório são outras questões que João Koehler quer ver esclarecidas, bem como quais os jogadores cujos passes são detidos integralmente pelo clube até 19 de março, último dia de apresentação de candidaturas. “É muito salutar que surjam vários candidatos e que se reflita e debata a atual conjuntura. Não existe delito de opinião, nem sequer no FC Porto”, remata.