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O que diz o R&C do FC Porto: renegociar dívidas, vender jogadores, reembolsar investidores, e-mails e Fede Varela

O que diz o R&C do FC Porto: renegociar dívidas, vender jogadores, reembolsar investidores, e-mails e Fede Varela
Paulo Duarte

Sem Liga dos Campeões, as receitas da SAD do FCP afundaram. Vieram os prejuízos e, com isso, a situação patrimonial ressentiu-se. A venda de atletas será o passo essencial para tentar resolver a situação e para cumprir as regras da UEFA. Mas a sociedade também está a renegociar dívidas. E há €35 milhões para reembolsar a investidores já em junho

O que diz o R&C do FC Porto: renegociar dívidas, vender jogadores, reembolsar investidores, e-mails e Fede Varela

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A Futebol Clube do Porto – SAD registou prejuízos de 52 milhões de euros entre junho e dezembro, face ao mesmo período de 2018. A quase totalidade das rubricas de receitas, da bilheteira à televisão mas sobretudo a Champions, cairam face ao ano anterior.

As contas prejudicam a situação patrimonial da sociedade liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa, que tem agora responsabilidades 86 milhões de euros acima do seu ativo. A venda de jogadores e a renegociação de dívida fazem parte do caminho que a empresa tem de percorrer.

Um caminho em que, em breve, há já um trabalho: há uma emissão de 35 milhões de euros para devolver aos investidores e adeptos que subscreveram as obrigações em 2017.

Este é um trajeto pelo relatório e contas do primeiro semestre da sociedade anónima desportiva do FCP.

Receitas em quebra generalizada

Começando pelas receitas, as notícias não são positivas para o FCP. A participação nas provas da UEFA representava mais de metade das receitas da SAD no primeiro semestre de 2018, mas, um ano depois, nem chegam a corresponder a um quinto. De quase 61 milhões, passaram para pouco mais de 9 milhões. Deve-se à falta da participação na Liga dos Campeões.

Só que este não foi o único problema nesta primeira fase da temporada 2019/2020. Das várias rubricas de receitas, só a parcela de publicidade e sponsorização (Meo, Unicer, New Balance e ainda a publicidade no Porto Canal) subiu ligeiramente. De resto, tudo perdeu proveitos, desde o merchandising, à bilheteira, passando pelos direitos de transmissão televisiva. O FCP justifica estas duas últimas quedas com o calendário de jogos – aliás, ao longo do relatório e contas, a SAD refere que as contas semestrais são enviesadas por efeitos de calendário e que é preciso esperar pelo ano completo para se tirarem conclusões definitivas.

Seja como for, as receitas afundaram de €107 milhões, no primeiro semestre de 2018, para os €52 milhões, um ano depois. Este número trouxe um problema operacional. É que os custos (fornecedores, pessoal e afins), que estavam nos 74 milhões em dezembro de 2018, fixaram-se nos 75 milhões no mesmo mês de 2019. Conclusão: as receitas não chegaram para compensar as despesas registadas no período.

Nas sociedades anónimas desportivas, a venda dos direitos dos jogadores costuma ser uma significativa alavanca dos resultados – compensando eventuais deslizes nos proveitos ou aumentos de custos. Porém, os resultados com passes de jogadores da SAD geraram perdas de 18 milhões entre julho e dezembro. A SAD azul e branca defende que foi uma opção não vender atletas para já. Mas terá de fazê-lo até ao próximo junho.

O prejuízo

Tendo em conta a evolução destes indicadores, o resultado líquido foi negativo e, em vez dos lucros de 7 milhões no primeiro semestre da temporada 2018/2019, a SAD registou agora perdas de 52 milhões.

“Perspetiva-se a necessidade de efetuar um valor considerável de mais-valias de transferências para que a sociedade consiga atingir um resultado positivo no final da época”, assinala o documento. Aliás, o clube diz mesmo que “dispõe no plantel de atletas suficientes" para conseguir cumprir as regras de equilíbrio financeiro acordadas com a UEFA para assegurar o “fair-play financeiro”.

O jornal ”A Bola“ quantifica e escreve esta segunda-feira que serão necessárias vendas capazes de realizar mais-valias de 100 milhões de euros.

E o património?

Os números negativos não se ficam pelo dinheiro que entrou e saiu no primeiro semestre desta temporada e com a sua comparação com o mesmo período de 2018. Também a fotografia que se pode tirar ao balanço do clube mostra uma situação a precisar de soluções.

O prejuízo tem, obviamente, influência no património da FCP – SAD. O capital próprio de uma empresa corresponde à diferença entre o que uma empresa detém/aquilo a que tem direito (ativo) e aquilo que uma empresa deve/as responsabilidades (passivo); e vai sofrendo com os resultados que vão sendo registados.

O capital próprio – que corresponde à situação patrimonial – da empresa já era negativo: estava nos -32 milhões, em 2018. Agora, sobretudo devido ao prejuízo, afundou até aos -87 milhões.

Isto porque o ativo (valor de atletas, recebimentos de clientes, etc) deslizou dos 365 milhões para 358 milhões, enquanto o passivo (empréstimos, dívidas a terceiros) disparou de 397 milhões para 445 milhões. A diferença entre ativo e passivo até é maior quando olhando para os valores “correntes”, cuja liquidação ocorre no prazo de 12 meses.

Como superar?

A inversão, antecipa a administração de Pinto da Costa, será com base em três fatores. Houve financiamentos concluídos em janeiro, que “possibilitarão um acréscimo de disponibilidade a rondar os 30 milhões de euros”. A SAD também espera a “renegociação de prazos de vencimento de dívidas correntes”, ainda que não concretize que dívidas são essas.

E há ainda a tal “previsão do eventual encaixe financeiro e/ou financiamento de créditos garantidos com a alienação de direitos desportivos de jogadores, tal como tem vindo a ser prática nos exercícios anteriores”.

Negociações que terão de ter em conta que, para já, a FCP, SAD terá de devolver 35 milhões de euros aos investidores e adeptos que investiram 35 milhões de euros na emissão obrigacionista de 2017, cuja maturidade é atingida em junho deste ano.

A auditora da SAD, a EY, escreve, na sua certificação, que prevê-se “a manutenção do apoio financeiro das instituições financeiras e outras entidades financiadoras, nomeadamente através da renovação e/ou reforço das linhas de crédito existentes, bem como o sucesso futuro das operações de alienação de direitos de inscrição desportiva de jogadores, tal como previsto nos orçamentos de exploração e tesouraria, o qual é essencial para o equilíbrio económico e financeiro do grupo e para o cumprimento dos compromissos financeiros assumidos”.

E mais duas notas

Para além dos números, há outras indicações. Como já noticiado, o FCP vai para o Tribunal Constitucional contestar a condenação no caso dos e-mails. E o clube assume convicção nessa decisão.

“O conselho de administração, sempre suportado na opinião dos seus assessores legais, continua firmemente convicto de que a parte da sentença que foi desfavorável será, a final, revogada, e defenderá, como se demonstra, esta convicção até às últimas instâncias”, indica, no relatório e contas.

Sobre a transferência de Fede Varela, em que o Celta de Vigo pede 10 milhões aos dragões e ao Stade Nyonnais por incumprimento do contrato de trabalho, há uma tentativa de acordo, mas o prazo está a acabar. As partes estão à procura de um entendimento, pelo que o caso na justiça espanhola está em suspenso. Mas só há cinco meses para chegar o acordo: “A solicitação das partes no intuito de negociarem um eventual acordo levou o juiz a suspender a audiência pelo menos até julho de 2020. Sem prejuízo, frustrando-se as mencionadas negociações, a mesma será em princípio remarcada para novembro de 2020”.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dcavaleiro@expresso.impresa.pt