FC Porto

Não basta dizer Basta!, e é bastante fácil dizer porquê

Não basta dizer Basta!, e é bastante fácil dizer porquê
Octavio Passos

O FC Porto empatou com o Boavista (2-2) num jogo em que praticamente tudo lhe saiu ao contrário: a mensagem de revolta alimentada durante a semana resultou num arranque sofrível e o clube sofreu dois golos do rival citadino pela primeira vez na história; depois do empate, Sérgio Oliveira falhou um penálti e o VAR anulou a reviravolta de Evanilson que seria épica, por ação do pé esquerdo do filho de Sérgio Conceição

Não basta dizer Basta!, e é bastante fácil dizer porquê

Pedro Candeias

Editor de Sociedade

O professor Jesualdo Ferreira anda nisto há demasiado tempo para o tomarmos por ingénuo: não é, e no seu quilométrico currículo - escrito com alguns títulos, vários clubes, com endorsements à competência e ao pragmatismo - estou seguro que consta a habilitação “David e Golias”.

Quer isto dizer que Jesualdo sabe como travar combates contra quem está duas ou três categorias de peso acima do seu; e o seu Boavista e o outrora seu FC Porto estão separados por vários quilos. Apesar do momento menos fogoso e indefinido que se vive no Dragão, que levou primeiro à colocação e depois à remoção de tarjas com a expressão BASTA! do estádio.

Portanto, o sabido Jesualdo montou um esquema tático e mental bastante simples na visita à casa do FC Porto. A saber: cinco defesas, três médios e dois avançados, com destaque para o talentoso Angel Gomes e para o poderoso Elis; ordem para defender bem, tapar os flancos e partir em contra-ataque. A estratégia funcionou lindamente na primeira-parte, por mérito próprio e também beneficiando de uma apatia incomum do FC Porto no ataque e na defesa, não encontrando caminhos para a baliza de Léo e tapando mal os que levavam à de Marchesín.

Por sua vez, o Boavista, pouco interessado em ter a bola, mas sem perder a objetividade, criou quatro oportunidades de golo e marcou dois golos até ao intervalo. Num canto no seguimento de um canto, por Jackson Porovo (8’), e por Elis (45’), que aproveitou um cruzamento de Mangas para, enfim, bater Marchesín - o argentino negara-lhe o golo em duas ocasiões anteriores com duas boas defesas, uma delas a um remate em moinho muito telegénico.

Se Conceição quisesse dar a volta a uma desvantagem histórica - nunca o Boavista fizera dois golos no Dragão -, teria necessariamente de mexer na estranha equipa que escalara, com João Mário e Fábio Vieira no meio-campo, Diogo Leite a central e Sarr a defesa-esquerdo, possivelmente a gerir um plantel castigado e cansado pela sequência de jogos. Resultado disso, um FC Porto permeável aos contragolpes, pouco agressivo a recuperar a bola e permissivo nos duelos; basicamente, a antítese do FCP. Pepe e Conceição seriam assertivos e eloquentes nas críticas, no final do jogo.

A segunda-parte

Andamos nisto há tempo suficiente para tomarmos o treinador Sérgio Conceição como um homem que vai em modas: não é, e quando é para mudar, muda-se e pronto. Portanto, e de uma vez só, Conceição retirou Diogo Leite, Fábio Vieira e João Mário, três jovens campeões da Youth League, e pôs Zaidu na linha (Sarr foi para o centro), Grujic no meio-campo e Otávio um bocadinho mais à frente deste. O sinal era claro e sonoro como um épico raspanete de balneário: os miúdos estavam a jogar mal e saíram.

Estas alterações por atacado foram justificadas instantaneamente com a subida de nível da equipa. Grujic trouxe músculo, Zaidu largura e o cruzamento para Otávio cujo remate, que Rami travou com o corpo, deu o tiro de partida para a recuperação, depois da largada em falso da primeira-parte. Aos 54’, nove minutos passados sobre a revolução das cabines, o inevitável Taremi reduziu (1-2), na sequência de um lançamento de linha lateral que a defesa do Boavista abordou deficientemente.

Desse momento em diante - e excluindo um contra-ataque que o sempre competitivo Pepe impediu -, só o FC Porto procurou algo de positivo num jogo que foi alternando entre faltas e lampejos de qualidade dos azuis e brancos. Num desses momentos, Sérgio Oliveira disparou para defesa de Léo (77’); instantes volvidos, este par reencontrar-se-ia num penálti convertido por Sérgio (82’, 2-2), já com Francisco Conceição em campo.

Para os mais distraídos, Francisco Conceição é filho de Sérgio Conceição, e este teria sido um mero apontamento de crónica, não tivesse Francisco participado em dois lances que poderiam ter reescrito o final. No primeiro, conquistou um penálti que Sérgio Oliveira falhou; no segundo, entrou área dentro, chutou para uma defesa de Léo que Evanilson aproveitou para fazer o 3-2 posteriormente invalidado pelo VAR por mão do avançado brasileiro.

Entre o clímax do golo e a frustração provocada por Manuel Mota, houve um abraço de um pai a um filho e foram seguramente ditas coisas inconfessáveis um ao outro que não ficaram para a história, mas perdurarão na memória de ambos.

Octavio Passos

Pouco depois, o jogo acabou, com o quarto empate consecutivo do FC Porto. Já ninguém se lembra de quando aconteceu coisa igual, nem tão pouco do tempo que perdurou a mensagem BASTA!.

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