FC Porto

Ministério Público faz buscas na SAD do FC Porto

Ministério Público faz buscas na SAD do FC Porto
Quality Sport Images/Getty

Sede da SAD do FC Porto está a ser alvo de buscas feitas pelo Ministério Público devido a alegadas suspeitas de fraude, abuso de confiança e branqueamento de capitais resultantes de um processo originado pela Operação Cartão Vermelho com negócios que envolvem o clube, particularmente uma antiga venda de direitos televisivos à Portugal Telecom

Ministério Público faz buscas na SAD do FC Porto

Hugo Franco

Jornalista

Ministério Público faz buscas na SAD do FC Porto

Rui Gustavo

Jornalista

Ministério Público faz buscas na SAD do FC Porto

Anabela Campos

Jornalista

Ministério Público faz buscas na SAD do FC Porto

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A sede da SAD do FC Porto está a ser alvo de buscas, esta segunda-feira, da parte do Ministério Público (MP) e da Autoridade Tributária (AT) devido a suspeitas de fraude, abuso de confiança e branqueamento de capitais ligadas a um processo originado pelas investigações da Operação Cartão Vermelho.

Os nomes de Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto, e de Pedro Pinho, como dois empresários que estarão a ser alvos de buscas. Também a casa do presidente do FC Porto, Pinto da Costa, é alvo de buscas.

É que as suspeitas com contratos para as transmissões dos jogos de futebol do clube referem-se particularmente uma antiga venda de direitos televisivos à Portugal Telecom (atual Altice) que rondam os 500 milhões de euros.

Estão também a ser realizadas buscas no Banco Carregosa, no Porto, alegadamente com relação aos direitos televisivos do FC Porto e sobre a transferência de 2,5 milhões de euros suspeitos realizados pelo empresário Pedro Pinho para uma conta de Alexandre Pinto da Costa. Negócio em que estará também envolvida a Altice.

Em causa também estarão negócios ligados à transferência de seis jogadores para o FC Porto e de comissões sob suspeita recebidas por empresários do futebol.

Até ao momento, o FC Porto não fez qualquer comentário a esta operação.

A agência Lusa, que cita fonte da investigação, revela que estas buscas fazem parte de um processo autónomo da Operação Cartão Vermelho, que investigou crimes económicos relacionados com o ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que chegou a ser detido em julho.

Além de Vieira, também o seu filho Tiago Vieira, o empresário José António dos Santos e o agente desportivo Bruno Macedo foram constituídos arguidos no verão. São todos suspeitos dos crimes de burla qualificada, abuso de confiança agravada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Estão em causa alegadas fraudes do dirigente encarnado em negócios e transações com o Estado, Benfica e Novo Banco que ascendem a mais de 100 milhões de euros.

De acordo com o MP, o ex-presidente do Benfica e as empresas que domina criaram "esquemas de fraude" para delapidar o património da Benfica SAD, do Novo Banco e do Estado português, "quer em sede de arrecadação de impostos quer em sede de financiamento público ao fundo de resolução e ao mecanismo de acordo de capital contingente". São pelo menos 32 as contas bancárias que merecem apensos dedicados no inquérito que investiga Luís Filipe Vieira e os seus negócios e relações com José António dos Santos e Bruno Macedo.

Em julho, a revista "Sábado" revelou que o agente desportivo Bruno Macedo, um destes quatro detidos na operação, é uma das peças-chave do processo, nomeadamente a empresa que criou em 2009. Entre os anos 2016 e 2018 foram realizados negócios que avaliados em 18 milhões de euros, dos quais mais de 3,2 milhões foram lucros e a maioria deles realizados com o FC Porto e com o Benfica.

Outro agente desportivo que pode ser importante para a investigação é Pedro Pinho, filho do antigo presidente do Rio Ave, José Maria Pinho e homem de confiança do presidente do FC Porto. Este empresário tem há vários anos negócios com Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto que é um dos principais alvos da investigação do MP. E a sua casa é também um dos alvos das buscas desta segunda-feira.

Pedro Pinho faturou 16 milhões de euros ao FC Porto em cinco anos com a transferência de vários jogadores para o clube. Este agente de futebol foi identificado por agressão a um repórter de imagem da TVI, após o jogo Moreirense-FC Porto, em abril. Pedro Pinho foi acusado pelo Ministério Público de três crimes e vai responder em tribunal por ofensa à integridade física qualificada, de atentado à liberdade de informação e de dano com violência.

Banco Carregosa e Altice

Com sede no Porto, o Carregosa é uma das entidades financeiras com que a SAD do FCP vai mantendo ligações, sendo que as investigações serão sobretudo por movimentações em contas de clientes.

O Carregosa defende que as investigações são aos seus clientes: "Confirmamos que no âmbito de um inquérito que se encontra em segredo de justiça aberto contra entidades suas clientes, o Banco Carregosa foi hoje objeto de buscas, tendo o Banco prestado a sua melhor colaboração às autoridades que aqui se deslocaram para o referido efeito".

O banco de nicho, especialmente no mercado de banca privada (altos rendimentos) e não ao público em geral, realizou um financiamento de curto prazo para a SAD do FCP este ano. Em fevereiro, foi executada a operação de papel comercial, com empréstimo de 14,75 milhões de euros, com vencimento em setembro de 2021, segundo o último relatório e contas – não há detalhes sobre se houve pagamento na maturidade.

Não foi a única vez que uma operação deste género aconteceu, já que em 2017 também houve uma operação idêntica (que tinha os passes de jogadores Danilo e Filipe como garantia, a hipoteca do estádio do Dragão e valores a receber pela transferência de André Silva).

O banco tem sido contratado, juntamente com outras instituições, para ajudar à distribuição das obrigações da FCP Porto SAD, como voltou a acontecer este ano, com a emissão 2021-2023.

Altice

Em fevereiro de 2016, o Expresso revelou que Hernâni Vaz Antunes, empresário que pediu uma comissão de €70 milhões à Oi pela alegada intermediação da venda da PT Portugal à Altice - a qual acabou por ver negada - , foi um dos pivôs da negociação da Meo para compra dos direitos de transmissão. Assíduo nos corredores da sede da PT e apontado como o braço direito do acionista portugês da Altice, Armando Pereira, o empresário bracarense esteve presente nas várias reuniões que a Meo foi fazendo com os clubes de futebol. E na altura a sua parcipação nas negociações como intermediário causou estranheza nos outros clubes e inclusive na NOS.


A PT fechou então contratos com o FC Porto, o Rio Ave e o Vitória de Guimarães e Hernâni Vaz Antunes foi uma voz ativa nas negociações. A operadora negociou com estes três clubes os direitos de transmissão de TV a partir de 2018 e durante dez anos. Vaz Antunes tinha estado também nas negociações com os clubes da Segunda Liga: Chaves, Farense, Académico de Viseu, Famalicão e Aves.

No dia 25 de janeiro desse ano, houve uma reunião 'patrocinada' pelo Benfica, nas instalações deste clube no Seixal, entre a Altice e os clubes da Segunda Liga. No final do encontro, José Godinho, presidente da comissão de clubes da Segunda Liga, enviou um e-mail a todos os clubes a informar que as negociações com a Meo estavam concluídas tendo sido estabelecidos os princípios gerais.

No mesmo e-mail informa ainda que, "cada clube interessado em fechar contrato, deverá contactar, para o efeito, o sr. Hernâni (917######), ou o dr. Bruno Macedo (966######), que estarão ao dispor".

Bruno Macedo, também de Braga e em tempos ligado ao marketing do clube bracarense, tem sido o braço direito de Hernâni Vaz Antunes nas negociações dos direitos televisivos entre a Meo e todos os clubes de futebol.

Os dois empresários não fazem parte dos quadros da Altice. E não houve buscas na sede da Altice, como confirmou fonte oficial da empresa. Mas Hernâni é amigo de Armando Pereira, acionista da Altice, com quem tem negócios. E foi Hernâni Vaz Antunes quem desde o tempo em que a Altice era dona da Cabovisão negociou com os vários fornecedores os contratos do grupo de telecomunicações em Portugal. É um intermediário e recebia comissões por isso.

Em abril deste ano, a Sábado noticiava que Alexandre Pinto da Costa terá recebido do empresário Pedro Pinho cerca de 2,5 milhões de euros após o negócio da intermediação com a Altice das transmissões dos Jogos de futebol dos dragões. E explicava que este negócio tinha começado por render ao empresário e advogado Bruno Macedo um total de 20 milhões de euros, pagos em prestações de 12 meses e em duas grandes tranches: primeiro 10 milhões, depois, a partir de 2021, outros 10 milhões. A Sábado dizia ainda que o montante acordado com a Altice nunca teve como destino apenas Bruno Macedo e a empresa BM Consulting. Este ter-se-ia comprometido a repartir o montante com Pedro Pinho (10 milhões) e Hernâni Vaz Antunes (5 milhões).

(Notícia atualizada pela última vez às 21h50)

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dpombo@expresso.impresa.pt