Antigo treinador dos dragões apresentou esta quarta-feira, na Alfândega do Porto, o seu projeto de candidatura ao sufrágio que deverá acontecer em abril, com criticas à gestão de Pinto da Costa e já com algumas medidas em cima da mesa. Nomes para os órgãos sociais, para já, não há, com o candidato a prometer novidades na próxima semana
Jornalista
Foi numa esgotada Sala do Arquivo da Alfândega do Porto, com 700 pessoas a assistir que André Villas-Boas apresentou, por fim, uma candidatura há muito anunciada. Sob o lema “Um Porto de todos/Só há um Porto”, o antigo treinador do clube traçou o retrato atual do emblema, falou de uma gratidão a Jorge Nuno Pinto da Costa que não pode significar estar refém, referiu os problemas financeiros dos dragões e falou, em traços gerais, algumas das medidas do seu programa, que será detalhado nas próximas semanas.
A assistir na sala estiveram antigos jogadores do clube como António Sousa (e o filho, Ricardo Sousa), Nuno Valente, Jorge Costa, Maniche, Rolando ou Helton. Figuras da política como Carlos Abreu Amorim ou Tiago Mayan Gonçalves também marcaram presença, tal como Joaquim Oliveira ou Cecília Pedroto, viúva de José Maria Pedroto.
Nomes para os órgãos sociais, para já, não há, com Villas-Boas a prometer novidades na próxima semana, não só na administração executiva como direção desportiva ou financeira.
Villas-Boas prometeu a entrada do FC Porto tanto no futebol feminino sénior como no futsal e ao nível financeiro diz que haverá um corte em metade nos salários da administração, bem como tectos financeiros nos prémios anuais. Anunciou ainda que criará a Fundação FC Porto e assegurou que, consigo à frente dos destinos do clube, o associativismo será para manter e que o clube não está à venda.
“Caras amigas e caros amigos, sou candidato à presidência do FC Porto. Um passo para o qual me preparei para seguir as vossas exigências. Um passo tomado com consciência com um único propósito: o de servir o FC Porto. Quero um Porto mais forte, competitivo, vencedor, sou candidato porque quero um FC Porto dos sócios e para os sócios. O nosso compromisso é com a vitória”
“‘As vitórias de um clube dependem da capacidade de construir uma estrutura ganhadora, da competência e de manter e se houver necessidade disso reconstruir ou deixar que outros com visão de futuro assumam esse papel. A história não é benevolente com quem se mantém refém do passado’. Esta frase é de 1979 [de Pedroto], plena de sabedoria e que parece mais atual que nunca. Sim, estamos sempre e eternamente grato a Jorge Nuno Pinto da Costa. Será para sempre o presidente dos presidentes do FC Porto, mas é tempo de mudança. É tempo do FC Porto se lançar para uma nova fase da sua vida e construir um futuro mais ganhador assente em princípios de ética e transparência”
“Construir valor, crescer enquanto clube, organização, propagar a nossa cultura, construir equipas competitivas e propagar o associativismo que tanto nos orgulha. Parecemos capturados por um conjunto de interesses alheios ao FC Porto que ferem os valores fundamentais da nossa instituição. Nos últimos 10 anos, o FC Porto conseguiu encaixar mais de 700 milhões de euros em vendas de jogadores e em 2015 fez o maior contrato de transmissões televisivas no valor 457 milhões de euros. A realidade atual é que temos um passivo de 500 milhões de euros e uma dívida financeira de 310 milhões. As nossas contas entraram em total descontrolo. Vive agarrado por gratidão a uma gestão sem nexo”
“São inúmeros os jogadores a sair a custo zero e as contratações falhadas, por falta de rigor e planeamento. Ou será que servem os interesses de outros alheios ao FC Porto? Estamos a chegar cada vez mais tarde aos talentos, onde éramos uma referência. Encontrar um jogador à FC Porto é uma responsabilidade perante os sócios”
“Apresento a candidatura para acabar com o status quo, onde impera o medo e onde ninguém se pode exprimir livremente sem ser ameaçado ou censurado. Tenho um programa arrojado e transformador, uma equipa competente. É a candidatura de uma equipa que eu tenho o prazer de liderar. Ao longo das próximas semanas vamos apresentar os membros dos órgãos sociais que estão nesta candidatura, administração executiva e não executiva e gestão desportiva. 2024 deve ficar marcado pelo título de campeão nacional e não pela eleição do seu próximo presidente”
Programa desportivo
“Uma gestão desportiva experiente, estruturada, profissional. Uma direção de scouting capaz de identificar e escolher de forma criteriosa o talento e planeamento a curto, médio e longo prazo, seja na formação, equipa principal ou nas modalidades. Um gabinete de performance capaz de potenciar e otimizar o talento. Metodologia de formação unificada, sem medo da emancipação precoce dos jogadores na equipa principal. Uma aposta séria no futebol feminino, com o completar dos escalões de formação em falta e no escalão sénior. Lançar as bases para a criação do futsal no clube, primeiro nos escalões e depois equipa sénior”
Centro de alto rendimento no Olival
“Ainda há dias o presidente da CM da Maia disse que o FC Porto terá de comprar o resto dos terrenos da sua academia em hasta pública. E o que é que acontece se o FC Porto não os conseguir comprar? E se um clube rival os comprar? A academia continua a ser uma promessa eleitoral em 2024. Há dois anos, quando nos lançámos neste candidatura fizemos duas chamadas para dois proprietários e encontrámos o proprietário de um terreno a 1000 metros do atual centro de treinos. Será que o melhor que conseguimos fazer em 8 anos foi encontrar um terreno na Maia em que parte dos terrenos vai a hasta pública? No Olival junta-se uma obra mais eficaz em termos de custo, operação, que vai permitir aos escalões de formação maximizar os campos que têm à sua disposição e uma obra que torna possível dotar a equipa principal, B, sub-19 e finalmente a equipa de futebol feminino de uma estrutura de Liga dos Campeões. Nas próximas semanas vamos dar a conhecer aos sócios os planos de arquitetura para esta obra, bem como as imagens 3D e discutiremos em sede de campanha os custos e as possibilidades de financiamento para esta obra, tudo às claras e na máxima transparência para com os sócios. Infelizmente sobre esta situação estamos reféns da atual direção, que a três meses das eleições quer tomar decisões estruturantes para o futuro. Temos a obrigação para contratos que venham a ser assinados, mas estamos a olhar com muita apreensão para a academia da Maia”
Vertente financeira
“Consideramos fundamental em primeiro lugar uma análise detalhada das razões do atual descalabro financeiro. A disciplina financeira e orçamental e um modelo operacional mais rigoroso são fundamentais. A estruturação de custos e a renegociação da dívida. Uma otimização do cash flow com potenciação de receitas. Com profissionais credíveis, de sucesso e respeitados no mercado. A transparência e a boa governança como uma obrigação do FC Porto. Não temos medo nem vergonha em dizer com quem trabalhamos. Todos os custos em intermediações de vendas de jogadores ou negócios estruturantes serão declarados no nosso portal de transparência. Na remuneração fixa da administração, cortaremos em mais de 50% os encargos atuais. Na variável será aplicado um tecto máximo de 60% da remuneração fixa e um pagamento condicionado apenas a ponderadores positivos, desportivos e financeiros”
Fundação FC Porto
“Um dos motivos de maior orgulho desta candidatura é ver nascer a Fundação FC Porto. Será portadora dos valores do FC Porto usando o poder do desporto como veículo da promoção do bem, da educação, da saúde, igualdade de direitos e do igual acesso a oportunidades. O objetivo é que seja financiada pelo próprio clube através do mecanismo de solidariedade e por parceiros em iniciativas que a própria irá lançar”
Modalidades
“O compromisso com a vitória estende-se também às modalidades. No basquetebol, no andebol, no voleibol, no boxe, no desporto adaptado, na natação, no e-gaming. O nosso compromisso é continuar a apoiar as modalidades com um modelo de gestão rigoroso permitindo às mesmas atingir a auto-sustentabilidade. Gostávamos de vos apresentar uma ideia inovadora: promover o espírito do desporto amador, criando um fundo que permita comparticipar despesas associadas em inscrições em diferentes modalidades aos sócios do FC Porto. Em cada sócio, um atleta do FC Porto”
Manter o associativismo
“Porque não fomentar a criação da Associação Europeia de Clubes de Associados, com o Barcelona, com o Athletic Bilbao? Não estamos aqui para vender o clube a ninguém, estamos para promover o associativismo. Onde proliferam os grupos de clubes, os clubes satélite é fundamental para FC Porto promover o associativismo. Isto é uma vantagem competitiva, temos cultura, tradição, valores. E é isso que devemos cimentar”
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