O líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, foi um dos 12 detidos nesta quarta-feira no âmbito da operação “Pretoriano”, relativa à investigação sobre os incidentes ocorridos na assembleia geral do FC Porto a 13 de novembro de 2023. Mas esta está longe de ser a primeira vez em que “Macaco”, como é conhecido, está no centro das atenções.
Nascido em 1975, cresceu na Ribeira, com a bola sempre presente. Integrou a claque do FC Porto ainda na adolescência e foi lá que conheceu a mulher, Sandra – que também foi detida –, com quem tem quatro filhos. Desde então, dedica a vida a apoiar o FC Porto, onde lidera a claque há mais de 20 anos.
Ao mesmo tempo, foi jogando futebol em clubes locais. A polémica fez-se sentir sobretudo no Canelas 2010, onde jogou entre 2012 e 2021. Vários adversários recusaram-se a jogar contra a equipa, devido a episódios de intimidação e agressões. “Admito que temos uma maneira de jogar mais viril, mais empenhada. O futebol é isso mesmo, não é ballet ou natação, modalidade onde não há contactos”, justificou ao Expresso em 2016.
Fora das quatro linhas, Madureira deu que falar quando se licenciou em Gestão do Desporto e, depois, concluiu o mestrado no ISMAI, em 2017, com um projeto intitulado “Bancada Total: uma inovação ao serviço do clube”. O orientador do mestrado, Henrique Pinhão Martins, descreveu-o à revista “Visão” como “um aluno exemplar”. O trabalho foi classificado com 17 valores, apesar de conter sucessivos erros ortográficos e de pontuação. O reitor do ISMAI chegou mesmo a pedir um “procedimento inspetivo” à Inspeção-Geral da Educação e Ciência para analisar o caso.
Também fora do campo, foram surgindo dúvidas sobre a origem dos rendimentos do líder dos Super Dragões, que assumiu ter uma “vida de luxo”. “Mas não ganho nem declaro o ordenado mínimo. Declaro às Finanças um rendimento anual de cerca de 60 mil euros”, afirmou em 2018, numa entrevista ao “Correio da Manhã”.
“Tenho, em sociedade com o meu sogro, uma guest house e um restaurante na Batalha, no Porto. Tenho também prédios onde exploro o alojamento local”, indicou. Em 2021, era dono de sete imóveis: três casas, um terreno para construção, lugares de estacionamento, uma loja e um armazém, localizados no Porto e em Vila Nova de Gaia.
Voltando às bancadas, Madureira já chegou a estar impedido de entrar em estádios, por situações como incitamento à violência. Em 2022, por exemplo, encontrou uma solução: comandar a claque do lado de fora do estádio do Vizela. No mesmo ano, enquanto dirigente do Canelas, foi punido com suspensão de dez meses e multa pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol por sistemática violação de uma anterior suspensão de 135 dias. Apesar de o regulamento disciplinar proibir que se exerça qualquer atividade ou cargo relacionados com desporto, impedindo a presença do sancionado em recintos desportivos, Madureira foi visto e identificado em sete jogos da Liga 3.
Para o líder dos Super Dragões, uma claque de futebol “não é um grupo de escuteiros ou de excursionistas a Fátima”, mas sim uma “micro-sociedade”, onde “há polícias e ladrões, delinquentes e boa gente de todos os estratos sociais e profissionais, de juízes a advogados ou professores”, afirmou em 2018. “Macaco” reconheceu que, quando em grupo, a agressividade dos adeptos é “potenciada”, confessando que ele próprio não é “um professor de moral e religião”.
Ao longo dos anos, a relação da claque com o clube nem sempre foi pacífica. A SAD do FC Porto chegou mesmo a cortar relações com os Super Dragões em 2006. Na altura, Madureira disse que o grupo ia “deixar de ser o escudo da SAD”. O tempo passou e, agora, o líder da claque é um dos principais apoiantes de Pinto da Costa, que deverá apresentar a recandidatura à presidência do clube no domingo.
“Para derrubarem o Rei, têm de passar por cima de nós”, escreveu no Instagram em novembro. A publicação surgiu depois de o presidente do FC Porto ter dito, em entrevista à SIC, que o admirava. “Não tenho amizade especial com Fernando Madureira, não é meu parceiro de todos os dias. Tenho boa relação, admiro-o, porque se formou, fez o seu curso”, declarou Pinto da Costa.
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