Em 2018, ano de eleições, a Associação Mutualista Montepio Geral, dona do Banco Montepio, promoveu uma alteração que, à luz do Fisco, a obrigou a começar a pagar IRC. Foi uma mudança tal que, tendo em conta as normas contabilísticas e fiscais, a sua situação patrimonial marcadamente negativa disparou e passou para terreno positivo, um balão de oxigénio, como foi chamado na altura (haveria impostos a descontar no futuro e isso engordou o ativo da associação por via dos chamados ativos por impostos diferidos).
Palavras difíceis para entender aspetos contabilísticos fechados, mas, agora em 2024, em ano de eleições, foi a SAD do FC Porto que promoveu uma alteração contabilística com a qual conseguiu modificar a sua situação patrimonial marcadamente negativa. Decidiu reavaliar um dos principais ativos e isso melhorou aquilo que efetivamente tem.
São duas empresas, duas realidades distintas, duas situações diferentes. Com um aspeto em comum: de um dia para o outro, os ativos engordaram. Se na associação mutualista foram os ativos por impostos diferidos, na SAD do FC Porto foram ativos fixos tangíveis (que se podem tocar e calcular): o Estádio do Dragão.
Este tipo de reavaliações não são inéditas, são escudadas por auditores, nada aponta para nenhuma irregularidade; mas são desencadeadas normalmente pelas empresas quando procuram melhorar a sua situação patrimonial, se estiverem numa situação deficitária. Era (e continua a ser, dado que o património é ainda negativo e inferior ao capital social) o caso da SAD do FCP, como há os anos ocorreu com a associação mutualista. Em cada uma delas também se aproximavam as eleições.
Este passo da SAD do FC Porto é, ainda assim, uma inversão do agravamento dos capitais próprios que se vinha sentido e que é alcançada pela direção de Pinto da Costa antes do embate nas próximas eleições, em abril, em que André Villas-Boas se perfila como principal concorrente - e que usa a fragilidade das contas como argumento.
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