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CMVM suspende ações da SAD do FCP devido a revelações da entrevista de Pinto da Costa

CMVM suspende ações da SAD do FCP devido a revelações da entrevista de Pinto da Costa
Gualter Fatia

Um dia depois de Pinto da Costa falar à SIC, indicando que a SAD do FCP irá ser financiada a metade dos juros que agora paga, a CMVM determinou que a SAD tem mais informações a dar ao mercado

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) decidiu suspender a negociação das ações da SAD (sociedade anónima desportiva) do Futebol Clube do Porto (FCP), depois de, na noite de segunda-feira, o presidente do FCP, Jorge Nuno Pinto da Costa, ter dado uma entrevista à SIC Notícias.

Como normalmente acontece, o regulador do mercado de capitais não indicou o que está na base da sua decisão: a CMVM diz que aguarda “a divulgação de informação relevante ao mercado”. O Expresso sabe que a entrevista é o motivo para a determinação da entidade presidida por Luís Laginha de Sousa.

A decisão foi tomada pelas 9h25, mas só comunicada depois das 10h. As ações da FCP SAD fecharam a negociar nos 1,15 euros na quinta-feira, não tendo sido transacionadas na segunda-feira, nem esta terça-feira, agora por determinação da CMVM.

A entrevista de Jorge Nuno Pinto da Costa, dada em contexto eleitoral e em que André Villas-Boas, seu adversário, foi um dos seus alvos, é o motivo para a suspensão da negociação das ações, o que mostra que a administração da CMVM considera que foram dadas informações pelo presidente da SAD que não tinham sido transmitidas aos investidores. A autoridade tem de assegurar que a informação é passada de igual forma a todos os acionistas e investidores.

O que disse Pinto da Costa

Sobre a Quadrantis, entidade que estará a financiar a SAD, Pinto da Costa disse à SIC que, “com o financiamento que está a ser feito”, o fundo irá cobrar “cerca de metade dos juros” que neste momento o clube paga, escusando-se a adiantar valores e remetendo mais explicações sobre questões financeiras para uma apresentação que vai acontecer na sexta-feira. No relatório e contas da SAD relativo ao primeiro semestre fiscal, a Quadrantis nem sequer surge mencionada.

Na entrevista, Pinto da Costa criticou ainda a CMVM por ter decidido abrir uma averiguação à compra de ações da SAD, por ter feito aquisições a menos de um mês da apresentação de contas, o que é proibido pela lei do mercado de capitais. “Isso é assunto? Por amor de Deus”, afirmou.

Não é a primeira vez que o regulador pede explicações à SAD do FCP devido a afirmações de Pinto da Costa. A CMVM pediu explicações à SAD no início do ano, por ter falado em capitais próprios positivos quando a situação patrimonial da SAD era negativa – depois, a SAD teve de vir emendar e explicar o que estava em causa.

FCP vai fazer “reformulação de dívida”

Após a suspensão das ações pela CMVM, a SAD do FCP fez, entretanto, um comunicado ao mercado: “espera fechar definitivamente o contrato com uma reputada empresa internacional, com reconhecida experiência na otimização das receitas comerciais relacionadas com grandes equipamentos desportivos, até 30 de junho de 2024”.

Segundo o comunicado, e confirmando algo já noticiado, a parceria consubstancia-se “na participação minoritária numa das empresas com os direitos comerciais do Grupo FC Porto, através da injeção de capital por um montante estimado entre os 60 e 70 milhões de euros, como anteriormente comunicado ao mercado, a sociedade irá elevar assim os capitais próprios em igual montante”.

Há um mês, o jornal “Record” avançou já que seria a Sixth Street, que tem acordo com o Real Madrid. Esta sociedade será acionista da empresa a constituir e não da própria SAD (como está a acontecer no Sporting, que procura um parceiro para a empresa).

Ainda assim, na nota aos mercados, foi dada uma informação adicional: “Apesar de não ter ainda fechado um financiamento neste sentido, a Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD está a negociar uma reformulação da sua dívida de médio e longo prazo, num montante estimado de 250 milhões de euros, a uma taxa de juro competitiva em termos de mercado”.

O passivo da SAD do FCP era, no fim de 2023, de 513 milhões de euros, apresentando um ativo ligeiramente inferior, o que resulta no capital próprio negativo de 9 milhões de euros. Os empréstimos bancários, emissões obrigacionistas, papel comercial e factoring ascendiam a cerca de 220 milhões naquela data.

Não são mencionadas, no comunicado, as entidades com que a SAD está a fechar os negócios, nem no caso da parceria dos direitos comerciais, nem no financiamento a obter.

Notícia atualizada às 11h20 com mais informações, nomeadamente o comunicado da FCP SAD

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