FC Porto deu explicações, mas CMVM mantém suspensas as ações da SAD
As ações da SAD do FCP continuam impedidas de serem negociadas em bolsa. A suspensão determinada pela autoridade do mercado de capitais durante a manhã ainda não foi levantada
As ações da SAD do FCP continuam impedidas de serem negociadas em bolsa. A suspensão determinada pela autoridade do mercado de capitais durante a manhã ainda não foi levantada
Jornalista
A SAD do Futebol Clube do Porto deu explicações ao mercado e à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) pelas 11h desta terça-feira, 2 de abril, para contextualizar as declarações do seu presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa. Porém, não foram suficientes para, ao fim da tarde, a proibição da negociação das ações ser levantada.
Num comunicado a meio da manhã, a SAD do Porto explicou a parceria para os direitos de exploração comercial da SAD do FC Porto, ainda que não identificando com quem será feito o negócio, e mencionou uma “reformulação da sua dívida”, no montante de 250 milhões de euros, igualmente sem indicar com que entidade está a negociar, e falando numa “taxa de juro competitiva em termos de mercado”.
Essas foram as explicações dadas pela SAD do FC Porto depois de a CMVM ter determinado a suspensão da negociação das ações em bolsa, mas, mesmo após a divulgação de tais informações, o regulador manteve a decisão: não há negociação das ações.
Assim, esta terça-feira não houve negociação em nenhuma das duas vezes em que as ações da SAD do FCP podiam trocar de mãos: tendo em conta a reduzida liquidez, as ações da SAD do FCP não estão em negociação contínua, apenas podem ser transacionadas por leilão, duas vezes por dia.
Questionada, a CMVM não respondeu ao Expresso sobre o motivo pelo qual ainda não levantou a suspensão das ações, nem tão pouco foi possível obter resposta do departamento de comunicação do FCP.
A bolsa portuguesa já encerrou esta terça-feira, pelo que só esta quarta-feira poderá voltar a haver transação de títulos da SAD azul e branca. E ainda não é certo, porque a negociação não foi ainda permitida: é o comunicado da suspensão da negociação que continua no site do regulador presidido por Luís Laginha de Sousa.
A CMVM pedira informação adicional no início desta manhã porque, na entrevista à SIC Notícias na segunda-feira, Pinto da Costa fez revelações sobre aspetos que não tinham sido ainda adiantados ao mercado, nomeadamente sobre os custos de financiamento com o fundo Quadrantis.
Sobre a Quadrantis, entidade que estará a financiar a SAD, Pinto da Costa disse à SIC que, “com o financiamento que está a ser feito”, o fundo irá cobrar “cerca de metade dos juros” que neste momento o clube paga, escusando-se a adiantar valores e remetendo mais explicações sobre questões financeiras para uma apresentação que vai acontecer na sexta-feira. No relatório e contas da SAD relativo ao primeiro semestre fiscal, a Quadrantis nem sequer surge mencionada.
Na entrevista, Pinto da Costa criticou ainda a CMVM por ter decidido abrir uma averiguação à compra de ações da SAD, por ter feito aquisições a menos de um mês da apresentação de contas, o que é proibido pela lei do mercado de capitais. “Isso é assunto? Por amor de Deus”, afirmou.
Não é a primeira vez que o regulador pede explicações à SAD do FCP devido a afirmações de Pinto da Costa. A CMVM pediu explicações à SAD no início do ano, por ter falado em capitais próprios positivos quando a situação patrimonial da SAD era negativa – depois, a SAD teve de vir emendar e explicar o que estava em causa.
No comunicado desta manhã, após o primeiro pedido da CMVM, a SAD do FCP disse que está à espera de “fechar definitivamente o contrato com uma reputada empresa internacional, com reconhecida experiência na otimização das receitas comerciais relacionadas com grandes equipamentos desportivos, até 30 de junho de 2024”.
Segundo o comunicado, e confirmando algo já noticiado, a parceria consubstancia-se “na participação minoritária numa das empresas com os direitos comerciais do Grupo FC Porto, através da injeção de capital por um montante estimado entre os 60 e 70 milhões de euros, como anteriormente comunicado ao mercado, a sociedade irá elevar assim os capitais próprios em igual montante”.
Há um mês, o jornal “Record” avançou já que seria a Sixth Street, que tem acordo com o Real Madrid. Esta sociedade será acionista da empresa a constituir e não da própria SAD (como está a acontecer no Sporting, que procura um parceiro para a empresa).
Ainda assim, na nota aos mercados, foi dada uma informação adicional: “Apesar de não ter ainda fechado um financiamento neste sentido, a Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD está a negociar uma reformulação da sua dívida de médio e longo prazo, num montante estimado de 250 milhões de euros, a uma taxa de juro competitiva em termos de mercado”.
O passivo da SAD do FCP era, no fim de 2023, de 513 milhões de euros, apresentando um ativo ligeiramente inferior, o que resulta no capital próprio negativo de 9 milhões de euros. Os empréstimos bancários, emissões obrigacionistas, papel comercial e factoring ascendiam a cerca de 220 milhões naquela data.
Não são mencionadas, no comunicado, as entidades com que a SAD está a fechar os negócios, nem no caso da parceria dos direitos comerciais, nem no financiamento a obter.
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