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André Villas-Boas aponta sinais “positivos e bons” para a sua candidatura e diz que Pinto da Costa está “refém de João Rafael Koehler”

André Villas-Boas aponta sinais “positivos e bons” para a sua candidatura e diz que Pinto da Costa está “refém de João Rafael Koehler”
SOPA Images

A menos de uma semana das eleições para a presidência do FC Porto, Villas-Boas concedeu uma entrevista à SIC onde se mostrou confiante em relação ao resultado, mas exultando os sócios a regularizarem as quotas para poderem exercer o seu direito de voto. Antigo treinador diz ainda ter informações que o clube está “em incumprimento” do fair play financeiro, que Pinto da Costa “continua a esconder a realidade” aos associados e que o negócio com a Ithaka “valia o dobro”

“Um destino de vida, uma missão”. Não são novas as palavras de André Villas-Boas sobre a sua candidatura à presidência do FC Porto e a seis dias da eleições do clube, onde surge como a mais dura oposição que Jorge Nuno Pinto da Costa já enfrentou em mais de 40 anos, o antigo treinador falou dos sinais “positivos e bons” que tem recebido sobre a possibilidade de vitória em entrevista à SIC, mas insistiu na necessidade dos sócios “regularizarem as quotas” para fazerem parte “da mudança”.

Sem surpresa, a entrevista a Villas-Boas passou pelo momento desportivo e financeiro do FC Porto, da possibilidade do clube ficar novamente sob alçada do fair-play financeiro da UEFA e da relação com o presidente que, sublinhou o candidato, terá ficado mais tremida depois do Marselha, então por si treinado, jogar com o FC Porto em 2020 para a Liga dos Campeões. “Disse ao presidente que achei incorreto da parte dele não me ter recebido no Dragão”, apontou Villas-Boas.

Sobre a situação desportiva, André Villas-Boas deixou claro que, na I Liga, “o FC Porto não está ao seu nível” e que “18 pontos” de desvantagem para o líder são uma distância “demasiado” grande. “Não é algo que nos orgulhe, mas é uma motivação para as épocas seguintes”, disse, lembrando que, quando chegou ao FC Porto como treinador, o clube vinha também de um 3.º lugar e uma época menos conseguida. O nome de Sérgio Conceição parece, no entanto, continuar a ser visto com bons olhos pelo candidato, mas Villas-Boas diz que, em caso de vitória no sábado, tal terá de ser para “decidir a dois”.

“Sento-me com ele, explico-lhe as minhas motivações, mostro-lhe o programa”, apontou, sublinhando, no entanto, que tem “uma visão muito clara quanto à visão desportiva”, para a qual já apresentou Andoni Zubizarreta para diretor desportivo e Jorge Costa para diretor do futebol. Sobre esta estrutura, Villas-Boas reconhece que “os treinadores podem sentir-se mais, ou menos, confortáveis” com ela e que convém “perceber as motivações dos treinadores”. O candidato da lista B não foi claro sobre se já tem outras hipóteses em cima da mesa caso Conceição não aceite continuar no banco dos dragões na próxima temporada.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Sobre Andoni Zubizarreta, Villas-Boas considerou “ingratas” algumas críticas ao ex-jogador espanhol, pelos seus trabalhos em Barcelona e Marselha. “Sabe o que representa uma cultura desportiva”, sublinhou, assinalando a importância da formação (e o número de atletas lançados pelo Barcelona na vigência de Zubizarreta em Camp Nou) como um pilar fundamental na política desportiva do clube para o futuro.

A lâmina pairante do fair-play financeiro poderá ser um dos primeiros problemas para a nova direção que for eleita no próximo sábado. “Da informação que recolhemos, o FC Porto está em incumprimento, haverá uma coima e uma suspensão de três anos. É revelador de dois fatores: de um presidente que continua a esconder a realidade aos sócios e, em segundo, será mais um fator de pressão para uma nova direção”, frisou Villas-Boas, que reafirmou que será um presidente não remunerado: “As pessoas devem servir os clubes em vez de se servirem deles”. Sobre os custos que advêm da contratação de mais pessoas para a estrutura, como Zubizarreta, o antigo treinador lançou que “quando se paga mal pelas más competências é que é um problema”.

A situação financeira e os juros de João Rafael Koehler

Sobre as contas do clube, que estão “numa situação limite”, Villas-Boas reforçou os “€500 milhões de passivo e os €350 milhões de dívida financeira”, que levam o clube, de acordo com o candidato, “a continuar a antecipar receitas”. Villas-Boas diz ainda ter informações de “usos abusivos em termos de despesas de representação, cartões de crédito”, para lá dos salários pagos à administração. Prometeu ser implacável por quem se tenha “servido e abusado do FC Porto” e um “plano de contingência para os próximos três ou quatro meses”.

João Rafael Koehler foi um dos alvos dos dardos do candidato da lista B, que diz já ter pedido informações sobre a situação financeira à atual direção, mas sem resposta. “A única pessoa com toda a informação é um candidato a vice-presidente da lista A, que tem acesso a informações de taxas de juro, das que ele cobra e das outras”.

Koehler e José Fernando Figueiredo, candidato a CFO da lista de Pinto da Costa, estão “associados a um fundo de onde tentaram levantar capital para emprestar ao FC Porto”, diz Villas-Boas. “Em fevereiro, nos prospectos da Quadrantis, falava-se de um retorno de 7.5%, mais 1,5% de fees de gestão. Por isso ao FC Porto ia cobrar mais de 10%. Ontem o próprio admitiu que esses seriam os valores cobrados por esse fundo”, continuou o antigo técnico, que diz que o FC Porto pode procurar melhores condições de mercado e acusando Pinto da Costa de estar “refém de João Rafael Koehler”.

“Este candidato que se apresenta a sufrágio para 2028 não é o mesmo com a força, carisma e determinação que conhecemos. Está refém deste fundo, destes investidores, porque lhe foram emprestando dinheiro para poder pagar salários, fornecedores, etc”, continuou, revelando que quer “recorrer aos melhores”, ou seja, “à banca internacional” para financiar o clube e que tal é possível “pela credibilidade” do seu candidato a CFO, Pereira da Costa, e à sua própria “reputação” internacional.

Ainda sobre a crise financeira do clube, Villas-Boas diz que Pinto da Costa “serviu exemplarmente o FC Porto durante 42 anos” mas a situação agora mudou: “A extensão do que iremos encontrar será alvo da nossa melhor atenção”.

NUNO BOTELHO

O negócio de venda de 30% dos direitos comerciais do estádio à sociedade Ithaka por 25 anos também mereceu reparos de André Villas-Boas. “Acho que os direitos valem pelo menos o dobro, valem mais do que 65 milhões de euros por 30%”, sublinhou, dizendo, no entanto, “não ter dúvidas da qualidade” do parceiro, não fechando as portas a uma renegociação do mesmo caso as cláusulas assim o permitam - Pinto da Costa disse que o contrato poderia ser revogado até 1 de julho.

A academia e os Super Dragões

Pinto da Costa e André Villas-Boas têm visões distintas sobre o que deverá ser o novo centro de treinos do FC Porto. Depois da compra dos terrenos na Maia, o projeto do atual presidente terá na terça-feira o pontapé inicial e Villas-Boas deu a entender à SIC que não vai travar as obras, ainda que queira olhar para “os contratos assinados” e ver “o melhor para o FC Porto”.

“Mas o que eu não posso permitir é que o FC Porto se atrase novamente numa obra das suas infraestruturas, o que tem acontecido desde 2016. Não seria ético ou moralmente digno”, disse.

O candidato negou ainda as acusações (ou “barbaridades”, como as qualificou) de que consigo o FC Porto iria trabalhar com apenas um empresário, em exclusivo. “Não, em absoluto. O FC Porto não se livra de trabalhar com todos os empresários, mas tem de procurar melhores condições”, disse, sublinhando que é “frequente no FC Porto” usar serviços de “intermediação de que não precisa”.

Sobre a Operação Pretoriano, diz que é sua intenção tornar o FC Porto assistente nos dois processos que estão abertos no Ministério Público, o de agressões aos sócios e do caso da bilhética, uma questão que a sua direção também terá intervenção: “Temos vindo a registar falhas de valor em relação a bilhética, temos melhor lucro que os nossos rivais. Queremos analisar o porquê. Quero igualdade e equidade de direitos entre sócios e simpatizantes do FC Porto. Isso faltou em detrimento de determinado grupo organizado”.

Se Fernando Madureira tem condições para continuar a ser líder dos Super Dragões? Villas-Boas sublinha que Macaco “é o presidente da Associação Super Dragões”, que é preciso aguardar, mas que tem “ideias muito próprias” sobre a questão das claques.

“Há uma regulamentação nova que tem de ser feita e as claques estão disponíveis para se sentarem com o clube”, afirmou.

Já questionado sobre a relação com rivais, Villas-Boas apontou que ela é necessária para construção de um melhor produto, “pelo bem comum” do futebol português.

E sobre o dia seguinte às eleições, caso vença, ainda há muitas dúvidas. É também dia de clássico com o Sporting e Villas-Boas não sabe ainda onde se sentará no Estádio do Dragão: “Temos levantado a questão ao Dr. Lourenço Pinto, porque interessa perceber o que vai suceder”, garantindo que os seus “dois lugares anuais” continuam nas bancadas do Dragão e que “não é impossível” que se sente no seu lugar de sempre.

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