Villas-Boas inicia uma “nova era” no FC Porto apelando ao “bom-senso da administração” da SAD: “O clube não tem dois presidentes”
FC Porto
Na tomada de posse, o presidente eleito afirmou que assume o cargo “legitimado por um amplo apoio”, que vem da “vontade expressa dos sócios numa mudança” que se manifestou nas eleições. Sublinhando o legado “eterno” de Pinto da Costa, que “será sempre respeitado”, Villas-Boas terminou com uma mensagem para os administradores da SAD: “A vossa renuncia não seria, jamais, considerada, como ato de fuga, mas sim como ato nobre que vos elevaria”
André Villas-Boas é um homem sempre atentos aos sinais, ao que uns chamariam “coincidências” e outros “destino”. Em linha com essa forma de pensar, com esse hábito para procurar tendências e uma certa ordem cósmica superior aos assuntos mundanos, a primeira frase do seu discurso como recém-empossado presidente do clube dos seus sonhos teve este toque de destino: "Nesta mesma sala do Dragão, aos 32 anos, tornei-me treinador do FC Porto, num ano mágico, e agora torno-me no 32.º presidente do FC Porto, o que muito me orgulha”.
O arranque do Villas-Boas presidente piscou o olho ao Villas-Boas treinador, o histórico líder de 2010/11, do campeonato sem derrotas, da Taça de Portugal e da Supertaça, do último título europeu do futebol profissional. E da última conquista de Pinto da Costa, o homem que sai após 42 anos de liderança.
Numa sala com figuras como Fernando Gomes, presidente da FPF, Pedro Proença, líder da Liga, Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, ou cardeal e bispo de Setúbal Américo Aguiar, o fim da manhã foi, simultaneamente, de começo e fim. Villas-Boas anunciou o “início de uma nova era”, mas as atenções estavam, também, voltadas para quem saía.
Quando Pinto da Costa subiu ao palanque para assinar a ata da transição, deu-se uma ovação de pé. Aplauso unânime que se repetiu depois das palavras que AVB dedicou ao seu já antecessor no cargo: “Não existem palavras para descrever ou até agradecer tudo o que fez pelo FC Porto Jorge Nuno Pinto da Costa. O presidente dos presidentes não é metáfora, é memória, respeito e gratidão, mas é, sobretudo, obra, vitória e glória, uma folha de serviços única que traz consigo um pensar vivo e presente. O seu legado é eterno e será sempre respeitado”.
A passagem de testemunho de Pinto da Costa para André Villas-Boas
FC Porto
A tomada de posse de André Villas-Boas, mas também de António Tavares (presidente eleito da Assembleia-Geral), Angelino Ferreira (conselhos fiscal e disciplinar) e Fernando Freire de Sousa (conselho superior) marcou o assumir de funções dos novos órgãos sociais do FC Porto. Não obstante, na administração da SAD, a sociedade que gere o futebol profissional, a sucessão vai sendo mais lenta.
Villas-Boas tem tentado acelerar o processo de transição na Sociedade Anónima Desportiva, mas, até agora, nenhum dos cinco dirigentes colocou o lugar à disposição. Dois dias antes da posse, AVB disse que a SAD não estava a entender a vontade dos sócios e, na parte mais relevante do seu discurso, voltou, em tom institucional, a bater na tecla.
“Apelo ao bom-senso da administração da SAD do FC Porto. A vossa renúncia não seria, jamais, considerada, como ato de fuga, mas sim como ato nobre que vos elevaria. O clube não tem dois presidentes”, considerou, numa parte final do discurso que não recolheu aplauso unânime da plateia. “O clube tem um presidente eleito pela vontade expressa dos sócios numa mudança. Atrasar o inevitável é adiar a construção de um FC Porto mais forte de futuro e estou seguro que é isso que vossas excelências o desejam”, atirou.
Para o novo presidente, as eleições foram “uma das mais belas páginas do associativismo” dos dragões, decorrendo “de forma exemplar”. Villas-Boas louvou a “direção irrepreensível” do presidente cessante da mesa da AG, Lourenço Pinto. “ Em nome de todos os portistas, agradeço a dedicação, empenho e coragem”, disse AVB.
FC Porto
Olhando ao futuro, o novo presidente prometeu um projeto assente em “três pilares fundamentais”. O primeiro, diz, é um “FC Porto dos associados”, que seja “representativo da emoção e amor de cada um por esta instituição”; o segundo é um clube “vencedor, indomável, imortal, temido pelos seus adversários, que joga em cada campo e modalidade para ganhar”; o terceiro é um “FC Porto moderno, arrojado, organizado, estruturado, transparente e financeiramente sustentável”.
Consciente das dificuldades de substituir um presidente único na história do futebol mundial, Villas-Boas sublinhou o “amplo apoio” que o “legitimam" no cargo, não só pelos números da votação (ganhou com 80,28% dos votos), mas também por ter sido “a maior participação da história do clube”, com “mais de 27 mil sócios”.
Villas-Boas garante “empenho, dedicação e amor ao FC Porto”, assegurando “trabalho e visão que nos transportará para a modernidade”. “Estamos prontos e temos visão clara e projeto definido para o clube”, garantiu.
Villas-Boas pede “humildade” e fala de “processo sensível”
Depois da tomada de posse e do discurso inicial, André Villas-Boas falou aos jornalistas, sublinhando que “o tempo urge, porque há decisões fundamentais que devem ser tomadas”, explicando as declarações finais em que apelou à renúncia dos administradores da SAD.
“Seria sempre uma renúncia que facilitaria processos de decisão, de direção e seria também um ponto de referência para os funcionários que se encontram aqui entre um presidente de um clube e um presidente de uma sociedade anónima desportiva”, continuou. “Não posso fazer mais pedidos, quanto mais rápida for esta transição melhor, a 30 ou 31 de maio é tarde, mas cabe aos próprios decidir por sua conta”, sublinhou, deixando como exemplo os processos eleitorais de Sporting e Benfica em que as transições das direções de clube e SAD são feitas no mesmo dia.
O novo presidente do FC Porto voltou a sublinhar que a sua direção apenas aceitaria cooptar José Pedro Pereira da Costa “ou outro dos vices” caso estes tivessem “poder total e liberdade de veto sobre a comissão executiva”, algo que não é possível se a atual direção da SAD não renunciar. Villas-Boas reconhece, ainda assim, que “do ponto de vista da troca de documentação” a sua equipa está a “obter todas as informações necessárias”.
Utilizando não poucas vezes a expressão “processo sensível”, André Villas-Boas anunciou ainda que nos próximos dias irá ao Olival para apresentar-se e à sua equipa ao plantel principal do FC Porto. Mário Santos, novo responsável do pelouro, já se reuniu com todos os diretores das modalidades.
Sobre o processo de construção da futura academia do FC Porto, o antigo treinador confirmou já ter tido “conversas iniciais com os presidentes das Câmaras de Gaia e Maia” - de recordar que o projeto de centro de alto rendimento de Villas-Boas se situa perto das instalações do Olival. “É uma decisão maior, de grande responsabilidade, vamos tomando conta dos dossiês para tomar a melhor decisão”, frisou, apontando que a academia da Maia ainda não tem orçamento nem “projeto financeiro”.
Comentando praticamente em tempo real as declarações de Jorge Nuno Pinto da Costa à SIC Notícias, em que o candidato derrotado recusou uma possível renúncia ao cargo de administrador da SAD e ainda anunciou que estará no banco de suplentes na final da Taça de Portugal, no Jamor, André Villas-Boas sublinhou que o papel de Pinto da Costa na final nunca estaria em causa, mas não sem deixar uma mensagem forte à direção que está de saída do FC Porto.
“Na construção de uma organização moderna, transparente, ditada por uma vitória estrondosa é lamentável que o FC Porto não seja o exemplo”, disse, assumindo que não está “satisfeito com a situação” e que “devia haver mais humildade” da parte de quem ainda tem poder na SAD, para que a transição seja o mais suave possível.
*Notícia atualizada às 14h19 com a reação de Villas-Boas às declarações de Jorge Nuno Pinto da Costa