A morte gera quase sempre unanimidades. Mas até nisso Jorge Nuno Pinto da Costa deverá ser um caso à parte: o homem que foi presidente do FC Porto durante mais de quatro décadas construiu uma figura pública que sempre suscitou paixões radicais. Adorado por muitos, que vêem nele, mais do que o símbolo de um clube, o maior paladino de uma cidade e de uma região que forçou a sua afirmação contra o centralismo umbiguista da capital. Odiado pelos outros, os que associam as suas vitórias a uma era conflituosa e polémica do futebol português. A sua personalidade ambígua – de amante da poesia a interlocutor truculento, da profunda religiosidade à acidentada vida romântica, das fidelidades e afetos aos ódios de estimação – também explica esta bipolarização.
A 8 de setembro de 2021, Pinto da Costa, então com 84 anos, recebeu o diagnóstico que o impeliu a escrever o diário que deu origem ao livro “Azul Até ao Fim”: tinha um tumor maligno. É assim que começa esta espécie de diário, que no contexto da sua derrota nas eleições de 2024 para a presidência do FC Porto, assume contornos de testamento político. Mas, valha a verdade, nas pouco mais de 200 páginas do livro, ficamos sem a noção exata do que pretendia o seu autor, porque as referências pessoais e íntimas têm aqui tanto peso (ou até menos) do que as memórias de dirigente desportivo e os recados enviados a quem o rodeou, ou enfrentou, durante estes anos.
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