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Fernando Gomes e a revisão estatutária do FC Porto: “Não conhecia bem, só fui sabendo pela comunicação social quando surgiu todo o alarido”

Fernando Gomes e a revisão estatutária do FC Porto: “Não conhecia bem, só fui sabendo pela comunicação social quando surgiu todo o alarido”
JOSÉ COELHO

No âmbito da 20.ª sessão do julgamento da Operação Pretoriano, o antigo dirigente portista explicou que não esteve presente na comissão que elaborou a proposta de alteração de estatutos, garantindo tratar-se exclusivamente de um "assunto do Conselho Superior e da Mesa da AG"

O ex-administrador da SAD do FC Porto, Fernando Gomes, também vice-presidente no quadriénio 2020-24, negou esta segunda-feira qualquer envolvimento na proposta de revisão estatutária do clube em votação na assembleia geral (AG) de novembro de 2023.

No âmbito da 20.ª sessão do julgamento da Operação Pretoriano, o antigo dirigente portista explicou que não esteve presente na comissão que elaborou a proposta, garantindo tratar-se exclusivamente de um "assunto do Conselho Superior e da Mesa da AG".

"Com o anterior presidente da Mesa da AG [José Manuel Matos Fernandes], tinha-se falado vagamente na necessidade de alterar os estatutos, por modernidade, mas não era um problema da administração. Nunca tive qualquer participação ou fui chamado para a comissão. Não conhecia bem a proposta, só fui sabendo de algumas coisas pela comunicação social quando surgiu todo o alarido", assegurou o ex-presidente da Câmara Municipal do Porto.

A inquirição à testemunha arrolada por Fernando Madureira durou escassos minutos, nos quais relatou também as "reações ruidosas" ao discurso de Jorge Nuno Pinto da Costa na reunião magna, sem conseguir identificar, no entanto, se eram manifestações a favor ou contra o presidente em funções.

Já Miguel Brás da Cunha, que foi reeleito para o Conselho Superior do clube em abril de 2024, através da única lista que apenas concorria ao órgão, detalhou os trabalhos de desenvolvimento de revisão dos estatutos ao longo de quatro anos, dos quais fez parte.

"No dia de tomada de posse dos órgãos sociais, em 2020, tivemos oportunidade de nos dirigirmos a Pinto da Costa para manifestar a nossa disponibilidade para intervir na proposta de revisão dos estatutos. A comissão foi aprovada por unanimidade, Adelino Caldeira esteve apenas na primeira reunião. Não éramos alheios ao que se passava, a maioria pensava que a proposta servia para favorecer a direção, mas tínhamos apenas em conta o interesse manifesto do clube", afirmou.

Por sua vez, Jorge Guimarães, antigo presidente do Conselho Fiscal, denunciou que Lourenço Pinto, então presidente da Mesa da AG, se manifestou ativamente contra o artigo que determinava a implementação das alterações após as eleições aos órgãos sociais, algo que considerava não ter "qualquer fundamento jurídico", exigindo a entrada em vigor imediata.

"Essa alteração fez-se por causa de Lourenço Pinto, que teve uma intervenção muito pouco comedida para um presidente da Mesa da AG. A proposta de mudança do artigo 84, que determinava que as alterações só entravam em vigor depois das eleições, foi aceite pela maioria do Conselho Superior, contra a nossa vontade", acusou.

Narrou ainda as "três situações de confronto" que presenciou na AG, apelidando-as de "inadmissíveis", tendo revelado também que Pinto da Costa e Adelino Caldeira haviam manifestado previamente as suas preocupações a Lourenço Pinto, numa reunião que decorreu dias antes, sobre a forma como o ato estava a ser organizado.

Terá sido Jorge Guimarães a interceder para que os trabalhos findassem, perante a insistência de Lourenço Pinto em prosseguir.

"O senhor presidente Jorge Nuno Pinto da Costa disse numa entrevista que me pediu para acabar com assembleia, mas isso é falso. Foi a forma dele de validar a atitude que eu tomei", declarou.

De resto, foram também ouvidos o cantor Alberto Índio e Hugo Moreira dos Santos, antigo administrador da SAD 'azul e branca', que destacaram as valências de caráter de Fernando Madureira.

Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno da AG do FC Porto, ocorrida em 20 de novembro de 2023.

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.

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