Martín Anselmi analisa passagem pelo FC Porto: dos “cinco meses de trabalho de sobrevivência” à falta “de clareza”
Carl Recine - FIFA
Despedido do FC Porto depois do Mundial de Clubes, o treinador argentino assumiu num podcast no seu país que a equipa precisava de descanso depois de uma época "para esquecer" e que já estava a preparar a nova temporada e algumas contratações quando saiu, para ser substituído por Francesco Farioli
Martín Anselmi foi o mais recente convidado do podcast Clank!, do reconhecido jornalista argentino Juan Pablo Varsky, para uma longa conversa sobre futebol onde o antigo treinador do FC Porto falou pela primeira vez da passagem curta pelo futebol português, que terminou depois da eliminação precoce do Mundial de Clubes.
De regresso à Argentina depois de sete anos a correr vários países a treinar, o jovem técnico assume que está agora a aproveitar para se reencontrar. “Acho que tanto eu como a minha equipa técnica precisávamos de um travão, passámos sem parar um único dia por três países, três continentes distintos, culturas distintas. E era bom estar sem trabalhar para olhar para este processo, desconstruir-nos, para que apareçam novas ideias, para ganhar frescura. Pessoalmente, já me sentia muito esgotado”, começou por assumir, antes de falar dos meses de pressão vividos no FC Porto.
Sublinhando que gosta de trabalhos longos, de “empatizar” com os sítios por onde passa (“Gosto de chegar e saber quem representamos, qual é a sua cultura, o que já ganhou o clube, o que querem os adeptos, como são as pessoas, a cidade”), cedo entendeu que o seu novo clube vivia um momento complicado, que só piorou pouco tempo depois de Anselmi substituir Vítor Bruno.
“Chegámos a um clube enorme, como o FC Porto, com muito prestígio na Europa, a meio da temporada, uma temporada que já estava a ser má, com uma direção com muito desejo de mudar, de renovar. Não a cultura, porque a cultura do FC Porto é espectacular, mas a maneira de fazer as coisas. O plantel estava muito desfalcado e havia pressão. Eu sentia que havia jogadores que precisavam de alguém que absorvesse a pressão, que os protegesse”, explicou.
“Em cinco meses, de certa forma, fizemos um trabalho de sobrevivência. Porque chegámos e o plantel era um. Aterrámos e três dias depois fomos à Sérvia jogar para a Liga Europa, em que tínhamos de ganhar. Ganhámos com um golo do Nico González e nesse fim de semana o Nico vai para o City, depois vendeu-se o Galeno para a Arábia Saudita e já não deu para substituir talvez os dois jogadores mais significativos que tinha o plantel. O mercado estava fechado”, continuou o treinador, agora sem clube, confessando que “a nível pessoal” o FC Porto “exigiu muito” de si.
A gota de água para o divórcio entre o técnico argentino e o FC Porto seria mesmo o Mundial de Clubes, onde a equipa, diz, chegou já com necessidade de descansar e parar. Nessa altura, a sua equipa técnica já preparava a nova temporada. “Ganhámos os três últimos jogos, praticamente já com o mercado claro, já tínhamos falado com reforços, alguns deles que acabaram por chegar agora. O Mundial de clubes era perigoso, porque íamos depois de 18 dias sem competir, depois de terminarmos uma temporada para esquecer”, apontou, sublinhando que “os jogadores precisavam de ir de férias e voltar um mês depois”, necessitavam “de frescura, de começar do zero”.
Ira L. Black - FIFA
“O Mundial custou muito aos europeus. Eu sabia que o primeiro jogo ia ser determinante, mas tínhamos noção que ia ser difícil para nós o Mundial, sabíamos que tínhamos de descansar. Isto não é uma desculpa, mas era a cabeça que precisavam de descansar, porque ali percebemos o quão dura estava a ser a temporada para eles”, seguiu. Sobre a competição nos Estados Unidos, Anselmi diz que acredita que o “jogo com o Palmeiras foi muito bem planificado”, mas que levou a equipa “ao limite”. Ainda assim, o argentino tirou bons pormenores do jogo, gostou “do ambiente, da intensidade, do ritmo, da parte tática”, num jogo que o desafiou como treinador.
Anselmi assumiu os erros cometidos no jogo seguinte, contra o Inter Miami, dizendo mesmo que faltou alguma “humildade” por parte da sua equipa: “O Luis Suárez correu 10,8 quilómetros nesse dia, com a idade que tem e com tudo o que ganhou. Nenhum jogador nosso correu essa distância”, sublinhou, lembrando também a atitude diferente no jogo seguinte, contra o Al Ahly, que terminou com um empate 4-4.
Ainda sobre o FC Porto, Martín Anselmi frisou que gosta de se “responsabilizar” e analisar o que não correu tão bem. “Perceber o que estou a fazer mal, para ser melhor. Para melhorar tens de olhar para ti mesmo e dizer ‘fiz isto mal’, ter essa humildade. Sem essa humildade não vais melhorar. No processo FC Porto fizemos muitas coisas em que não tínhamos a clareza suficiente”, apontou.