Dizer de peito-feito, em julho, aquando da apresentação de Francesco Farioli como o seu terceiro treinador em pouco mais de uma época, que este seria “o maior mercado de transferência da história do FC Porto” soava, mais do que a confiança, a um presidente sabedor de algo que aí vinha. O clube, de facto, farto se mostrou a gastar €94,3 milhões de jogadores e André Villas-Boas sabia então o que o mundo ficou a saber neste 1 de outubro: os dragões apresentaram “o resultado líquido mais elevado da sua história” fruto dos €39,2 milhões de lucro da SAD em 2024/25.
O resultado consolidado, enviado esta quarta-feira à Comissão de Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM), demonstra que o FC Porto tirou as contas do negativo em que terminaram e época anterior (- €21 milhões), notando o clube que tal se conseguiu sem a participação na Liga dos Campeões, indicando que jogar na Liga Europa significou “uma diferença” nas receitas vindas da UEFA de €47,8 milhões. “Excluindo este efeito das provas UEFA, atenuado pelo impacto do Mundial de Clubes [receita de €17 milhões], os proveitos operacionais teriam aumentado cerca de 5%”, defendem os dragões na nota enviada à entidade.
O sorriso vindo das contas do FC Porto contrasta com a palidez da prestação da equipa principal de futebol: ficou em 3.º lugar do campeonato, a 11 pontos do Sporting e a nove do Benfica, vencendo a Supertaça no arranque, mas decaindo ao longo da temporada que iniciou com Vítor Bruno e acabou com Martín Anselmi, ambos despedidos por André Villas-Boas. “Foi um exercício vivido em circunstâncias particulares que, desportivamente, ficou aquém das expectativas e dos pergaminhos do FC Porto”, reconheceu o presidente, na comunicação à CMVM.
A época conheceu um cinto a apertar-lhe a cintura, o clube pouco contratou no futebol e, a meio da aventura, até vendeu dois dos seus principais jogadores (Nico González, por €60 milhões ao Manchester City, e Galeno, saído para o Al-Ahli a troco de €50 milhões). Foi, nas palavras de Villas-Boas, “um período de intensa reestruturação operacional e financeira” que permitiu o que a SAD pôde agora apresentar: além dos proveitos de €100,4 milhões com vendas de jogadores, conseguiu uma redução de €10 milhões nas despesas com serviços externos e de €7,4 milhões nos custos com pessoal. Só em jogadores e treinadores, essa ‘poupança’ foi de €9,9 milhões e o corte atingiu todos, até no Porto Canal.
A mais considerável melhoria do FC Porto, em 42%, aconteceu nos proveitos (€6,4 milhões) com bilhetes de época para o Estádio do Dragão, cujas vendas aumentaram em 25% face à época anterior. Nos números mais gordos, o passivo total do clube quase nada se alterou - dos €520,8 milhões passou aos €519,2 -, embora o défice nos capitais próprios tenha sido reduzido em 91%, dos €113,7 milhões para os €10,4 milhões, em parte, graças à renegociação do contrato com a Ithaka, empresa espanhola, para a exploração dos direitos comerciais do Estádio do Dragão, originalmente assinado por Jorge Nuno Pinto da Costa pouco antes das eleições que perdeu, em 2024, para André Villas-Boas.
A fechar a introdução ao resumo das contas enviado à CMVM, o presidente portista indicou o que já se vira nos pouco meses desta época. “Reduzimos de forma significativa o impacto do incumprimento apurado no exercício anterior e criámos condições para um investimento sustentável na equipa principal de futebol”, escreveu, ao confirmar as “ambições renovadas” do FC Porto.
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