Râguebi

A África do Sul já não terá o seu diretor técnico de râguebi (e ex-selecionador que venceu o último Mundial) a servir de aguadeiro

A África do Sul já não terá o seu diretor técnico de râguebi (e ex-selecionador que venceu o último Mundial) a servir de aguadeiro
David Rogers/Getty
Rassie Erasmus era o treinador dos springboks quando o país conquistou o Mundial, em 2019, cargo do qual prescindiu para se dedicar ao de diretor técnico nacional da Federação de Râguebi da África do Sul. No verão, quando a World Rugby permitiu que cada seleção pudesse ter três aguadeiros durante os jogos, ele assumiu uma das vagas para poder estar perto dos jogadores. Porém, já não o fará durante os jogos que a seleção terá em novembro, contra Escócia, Inglaterra e Gales

O aguadeiro costuma ser assunto jocoso no desporto de rua ou nos jogos de piadas entre comparsas. Ser a pessoa responsável por levar as águas a outros em modalidades de equipas ganhou o calo de ser motivo de chacota no anedotário fácil, de ser quase uma ofensa de bolso, mas, no râguebi, há muito que ser a pessoa responsável por levar pequenas garrafas a quem está a suar em campo é uma função calha a qualquer jogador, seja quem for.

Mas, no râguebi, o carregador das garrafas de água não se afunila para uma só função a cumprir por alguém unicamente designado para tal. Levar o líquido a quem está no campo, a jogar, é uma missão atribuída muitas vezes a um jogador que não seja titular nessa partida, que veste o colete sinalizador de estar a cumprir esse desígnio. Tal e qual o que Rassie Erasmus tinha no corpo, este verão, durante os jogos da digressão dos British & Irish Lions pela África do Sul.

Em julho, no trio de partidas que fechou a aventura da seleção reunida a cada quatro anos e só com jogadores das ilhas britânicas, viu-se o grande e oculado do sul-africano a correr campo dentro, adornado por um fluorescente sinal de “H2O” nas costas, sempre que surgia um pontapé de penalidade ou uma pausa após um ensaio — e com uma garrafa na mão. Só que Rassie Erasmus é, desde 2017, o diretor técnico nacional da Federação de Râguebi da África do Sul, cargo que dividiria, durante pouco mais de um ano, com o de selecionador.

Ashley Vlotman/Getty

O treinador levou os springboks à vitória no Mundial de 2019, no Japão, cessando pouco depois das funções e sem querer prolongar-se no posto no qual deu a terceira conquista da prova (depois de 1995 e 2007). Por momentos do trio de encontros vistos este verão, parecia estar a encarnar de novo nessas funções, algo que não se verificará na digressão que a África do Sul se prepara para fazer pela Europa, no próximo mês, com jogos frente à Escócia, o País de Gales e a Inglaterra.

Rassie Erasmus lá estará, embora “na condição de diretor técnico”, confirmou Jacques Nienaber, o selecionador do país que esteve no camarote — é costume o treinador principal assistir ao jogo na tribuna dos estádios, de onde passa instruções para outros membros da equipa técnica que estão junto ao campo — a ver como o aguadeiro distribuía pequenos pedaços de palestra pelos jogadores. “Agora vai estar connosco lá em cima, com as suas funções normais”, revelou o treinador, durante uma conferência de imprensa.

Jacques Nienaber atribuiu a não frequente presença de um membro da equipa técnica, muito menos da estrutura da federação, a levar águas aos jogadores, a uma decisão da World Rugby. Durante a digressão dos British & Irish Lions, a entidade que manda no râguebi mundial permitiu a cada equipa ter três aguadeiros, ao contrário dos normais dois, que “deu a oportunidade ao Rassie” de partilhar arrabaldes com os jogadores durante os encontros.

O que fez de garrafas de água na mão não são as únicas ações que Erasmus tem debaixo de olho. No próximo fim de semana, o antigo selecionador da África do Sul será ouvido pela World Rugby devido a um vídeo, de 62 minutos, no qual criticou vários erros de arbitragem dos jogos com os Lions. O diretor técnico foi inicialmente acusado de ter publicado o vídeo, embora a federação sul-africana já tenha defendido que se tratou de um leak.

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