Seleção nacional caiu perante o País de Gales por 28-8, mas cumpriu o objetivo de fazer um ensaio no seu primeiro jogo deste Mundial de França, tendo estado por cima do encontro em várias ocasiões
Jornalista
O ano de 1994 foi há mesmo muito tempo. Foi nesse ano que Portugal sofreu uma das piores derrotas de sempre, um 102-11, em Lisboa, frente ao País de Gales. Todos estes anos depois, Gales continua a ser uma potência mundial e vários dos jogadores portugueses continuam a ter empregos ou estudos universitários com os quais fazem malabarismos para ao final do dia jogarem râguebi. Mas também, nesse período, chegaram a dois Mundiais e este sábado, em Nice, na estreia neste Campeonato do Mundo de 2023, não houve sacos de pancada. Portugal errou e perdeu, por 28-8, mas vão longe esses tempos em que se rezava aos deuses do râguebi para sofrer o menos possível.
Com as bancadas bem compostas de adeptos portugueses e sem a chuva que Portugal temia, as lágrimas de José Lima no hino ligam esta seleção àquela de 2007 - as emoções, essas, continuam lá. Mas hoje, com todas as diferenças, a seleção nacional joga outro râguebi e na 1.ª parte chegou a estar por cima em longos pedaços do jogo, falhando mesmo, logo aos 5 minutos, num pontapé aos postes de Samuel Marques, a oportunidade de abrir o marcador.
Aos 10’, um excelente pormenor de Louis Rees-Zammit deu a Gales o primeiro ensaio, com direito a um festejo à Cristiano Ronaldo como que para nos lembrar que, sim, Portugal havia entrado na cabeça dos jogadores galeses, hiper-favoritos mas algo perdidos. Halfpenny não falhou a conversão.
Nos minutos seguintes, Portugal cheirou várias vezes o ensaio, cirandando dentro dos 22 metros de Gales, com as arrancadas de Nuno Sousa Guedes levantarem os adeptos. Aos 16’, depois de uma jogada do mediador de seguros, faltou velocidade a Nicolas Martins para, isolado, colocar Portugal no marcador. Com dois 50:22 - situação em que, num chuto ainda dentro da metade defensiva de uma das equipas, a bola sai na linha lateral já dentro dos 22 metros da equipa adversária, dando alinhamento para quem ataca - Portugal sondou o ensaio, mas ele não chegou. Aos 37’, numa penalidade, Samuel Marques fez os primeiros três pontos para Portugal neste Mundial.
Nos derradeiros minutos da 1.ª parte, Gales carregou e fez novo ensaio e posterior conversão antes do apito para o intervalo. O resultado de 14-3 parecia penalizador para Portugal, que se bateu olhos nos olhos com os fortes rivais galeses, jogou melhor râguebi mas demonstrou, a tempos, alguma falta de paciência nos momentos atacantes.
A 2.ª parte começou muito mal para Portugal e com uma avalanche de posse para Gales, que capitalizou. Samuel Marques falhou um segundo pontapés aos postes aos 50’ e minutos depois chegaria mais um ensaio galês, por Jack Morgan. Com a conversão, o marcador saltou para 21-3.
A reação ao ensaio do adversário foi extraordinária, com Portugal a começar um dos melhores períodos, respondendo com um ensaio fruto de uma jogada estudada que surpreendeu e maravilhou quem assistia e comentava o encontro: num alinhamento, Rafael Simões subiu, olhou para um lado e colocou a bola no outro, onde surgiu Nicolas Martins a romper pela defesa galesa. Primeiro ensaio para Portugal neste Mundial e com estilo. Marques falharia a conversão, mas a seleção nacional cumpria um dos seus objetivos.
Nos últimos minutos, já com alguns jogadores portugueses visivelmente desgastados, Gales ainda faria mais um ensaio, por Faleteu, permitindo à equipa ganhar o ponto de bónus ofensivo. No final, Portugal era uma equipa orgulhosa, mas ciente dos erros cometidos, que ofereceram pontos desnecessários a Gales e roubaram mais alguns à seleção nacional, que volta a jogar no sábado, frente à Geórgia, no papel o encontro em que os Lobos terão mais hipóteses de conquistar uma primeira vitória em Campeonatos do Mundo - 1994 foi há mesmo muito tempo.
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