O Mundial ainda era um vislumbre a quase dois meses de distância temporal, de tareias físicas em treino, de corpulência para ser limada e cabeças a ajustar às exigências do pináculo do râguebi. Em meados de julho, sob o calor implacável de uma manhã, em Oeiras, um sexagenário francês só tirou o seu boné branco quando recolhemos ao que está debaixo da velha escadaria de pedra precipitada sobre o principal campo de râguebi do Complexo Desportivo do Jamor.
Calmo e ponderado, Patrice Lagisquet tem o corpo a descansar no sofá de um hall onde consta a camisola vestida pelos ‘Lobos’ em 2007. Depois de um treino da seleção, o selecionador português desde há quatro anos reconhece, como não, as dificuldades dos jogadores partiram, na sua maioria, de um contexto amador, mas vinca como a sua missão é torná-los “competitivos”, dizendo-o e repetindo-o sem dó. E quere-os, sobretudo, a “jogar ao seu melhor nível e fieis à sua identidade”. Seja contra quem for, porque é possível fazerem-no.
Pareceu um pouco chateado no treino. O que estava a irritá-lo?
É porque não estávamos a trabalhar como devíamos, não estávamos a ver exatamente o que queríamos nestas sessões de treino. E também porque foi a primeira assim, com tanta velocidade, e tinham que se adaptar. Às vezes, peço que façam coisas e eles precisam de tempo, mas, quando não tens muito, tens de gritar - apesar de algo que nunca faço nas minhas outras funções, na minha outra 'vida', gritar com pessoas. Só comecei a fazê-lo nos treinos de râguebi, há mais de 20 anos, porque tens esta espécie de emergência em fazer coisas num curto período de tempo. E também o faço para colocar o jogador sob stress, porque durante a competição eles também o terão e estarão cansados devido ao contacto físico, mas terão que tomar decisões e ser espertos.
É um truque para os desafiar e acordá-los?
Sim, também. Sei que se o conseguirem fazer sob estas condições, durante o jogo também serão capazes de o fazer.
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