Os resultados afunilam visões e estreitam, às vezes com palas nos olhos que nada mais deixam ver, a perceção de certos embates desportivos. Dez anos é uma catrefada de tempo, na última década a seleção nacional partilhou nove jogos de râguebi contra a Geórgia e ganhou nenhum, o melhor feito durante esse pecúlio foi um empate (25-25, em 2022) e para os binóculos avistarem uma vitória é preciso apertar o foco a 2005, durante a qualificação para a primeira façanha do país amador em assuntos ovais que chegou ao Campeonato do Mundo (em 2007). Abrindo o plano, ao todo só quatro de 25 jogos sorriram aos portugueses, é uma fatura pesada, mas há quem garanta, sem hesitar, que “a Geórgia nunca gosta de jogar com Portugal”.
Tomaz Morais tem a memória do seu lado, mais do que ninguém. Era o selecionador nacional há 18 anos, na última vez que houve alegria dos ‘Lobos’ no final de uma partida onde georgianos terminaram desgostados. “A forma como muitas vezes os contrariamos, como somos inteligentes a jogar e também por termos uns três quartos com muita velocidade, que utilizam muito bem a bola e procuram muito bem o espaço”, diz, ciente, seguro e repente de uma crença, ao vincar que os próximos adversários no Mundial “não gostam mesmo de defrontar Portugal”. O antigo treinador não teme os senhores do Cáucaso, donos de outra estampa física, matulões vulgarmente apelidados de ‘Lelos’ quando a conversa é sobre râguebi.
A alcunha é emprestada de um desporto ancestral da Geórgia, desprovido de regras, feito de centenas de homens aos empurrões e quase à bulha por uma bola que pesa entre 16 e 18 quilos. O Lelo Burti, hoje jogado uma vez por ano, na Páscoa Ortodoxa e numa aldeia do país, é bruto, é poderoso e é brutal, como os jogadores georgianos que Portugal enfrentará, sábado (13h, RTP), na partida tida como a mais acessível para acontecer a primeira vitória da história num Mundial. Armaduras físicas à parte, Tomaz Morais não desarma da sua crença: “É um bom momento para defrontamos a Geórgia, estamos com muito bom ritmo, muita intensidade e altamente motivados.”
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