A Austrália é um monstro do râguebi que está a passar mal. Mesmo assim, “nunca na vida” Portugal “pensaria em ganhar”

A meio da primeira parte do Austrália-Gales houve um momento quase paradigmático, ilustrativo pelo menos, das agruras que afetam quem veio da ilha dos cangurus para jogar râguebi no Mundial. Os europeus tinham acabado de fazer uma falta e Ben Donaldson, ornamentado com a sua tímida amostra de penteado moicano, chutou a bola para fora de campo. A perder no resultado, os australianos queriam tentar ir para o ensaio, mas, no alinhamento a seu favor, quase tropeçaram neles próprios e nem lograram erguer alguém para disputar o lançamento, estilhaçando a sua imagem de preparação para uma situação estática tão relevante no jogo.

A consequência foi servida a escaldar, com uma garfada que lhes escaldou as beiças quando a provaram: a bola foi direta às mãos de Jac Morgan, o número 7, que se apressou a olhar lá bem para o fundo do campo, pontapear a oval e a tentativa sair-lhe como se fosse um ávido chutador, sendo ele um avançado. Perdendo então por 10-6, aos australiano até acontecia verem um grandalhão feito para limpar rucks ou empurrar em mélêes os castigar com uma execução perfeita de 50:22 que é capaz de ser o pontapé mais complicado de lograr hoje no râguebi - quando, dentro do seu meio-campo, um jogador pontapeia uma bola para bater dentro da área de 22 metros adversária antes de sair do campo e assim conseguir um alinhamento a seu favor.

O lapso foi mais do que episódico, ilustrando a estrambólica prestação de uma potência do râguebi neste torneio. A incaracterística Austrália seria atropelada com estrondo (40-6) pelos galeses, juntando essa derrota à já sofrida perante as Ilhas Fiji (22-15), o primeiro resultado a agravar a sofrível perceção trazida para a competição pelos Wallabies. “Vendo os últimos jogos, foram realmente fracos. Sem fazer nada de especial, Gales ganhou a uma Austrália completamente sem soluções”, atesta Pedro Leal, antigo internacional português que se prestou a comentar para a “Sport TV” a última partida dos irreconhecíveis cangurus.