Lobos continuam a rosnar: Portugal está pela segunda vez consecutiva no Mundial de râguebi
MANUEL DE ALMEIDA
Portugal vai estar num Mundial de râguebi pela terceira vez, a segunda consecutiva, depois de bater a Alemanha por 56-14 no segundo jogo do Rugby Europe Championship, que garantiu a ida às meias-finais da competição e consequente apuramento para o Mundial. Depois de 2007 e 2023, em França, a seleção nacional jogará em 2027 na Austrália
Desta vez não haverá 16 anos de espera ou palpitações de última hora: pela primeira vez na história, a seleção nacional de râguebi vai estar em dois Mundiais consecutivos. Depois da brilhante participação no Mundial de França em 2023, onde venceu as Fiji e empatou com a Geórgia, Portugal viajará para bem mais longe, para a Austrália, que vai organizar o Campeonato do Mundo de 2027. Será a terceira participação de Portugal no Mundial, onde se estreou em 2007.
Se para o Mundial de 2023 foi preciso passar as passas do Algarve, ou melhor, as passas do calor do Dubai, onde decorreu o derradeiro Torneio de Apuramento - e para o Mundial de 2007 foi preciso ir buscar o bilhete ao Uruguai - agora tudo foi bem mais fácil, em território nacional, no anfiteatro ao pôr do sol do Restelo. Não foi preciso um pontapé no derradeiro momento, como aquele de Samuel Marques em 2022, que quase fez falhar um batimento no coração de todo um país, antes de entrar e a festa explodir. A vitória por 56-14 frente à Alemanha no segundo jogo do Rugby Europe Championship confirmou o que já parecia certo desde a véspera, quando a Bélgica perdeu na Roménia.
Com o alargamento do Mundial de 20 para 24 equipas, Portugal sabia que a oportunidade de voltar à prova tornar-se-ia mais fácil. E não complicou a tarefa, quando ainda faltam mais de dois anos para as seleções aterrarem na Austrália. Não houve, nunca, margem para dúvidas. Frente a uma Alemanha com poucos argumentos técnicos, com a força mas sem a velocidade e a destreza da seleção nacional, a equipa portuguesa, dirigida pelo neozelandês Simon Mannix apontou dois ensaios ainda dentro dos primeiros 20 minutos, calmamente fazendo o caminho até ao Mundial.
MANUEL DE ALMEIDA
Hugo Camacho, médio de formação de apenas 1,68m, foi grande nos atos. Aos 9’ recebeu de João Granate para penetrar pelo eixo da formação e mergulhar até ao ensaio. Nem 10 depois, foi de José Lima a transmissão para a corrida super-sónica do jogador do Béziers. Com Joris Moura de pontaria afinada, Portugal colocou-se logo a vencer por 14-0.
Chegou depois dos dois primeiros ensaios portugueses o melhor momento alemão, que só aos 25 minutos apalparam a área dos 22 metros nacionais, sem consequências. E até ao intervalo, Portugal tornou-se dono e senhor da tarde, mostrando todos os seus pontos fortes, o jogo com a bola na mão, o timing de passe, as soluções encontradas por aquelas mãos, sem permitir à Alemanha ganhar terreno.
Nicolas Martins, por duas vezes, e Diego Pinheiro alargaram ainda mais a vantagem da seleção nacional, garantindo mais três ensaios e o ponto de bónus ofensivo antes do intervalo.
A vencer por 35-0, no início da 2.ª parte Portugal voltou a entrar de rompante na área de ensaio da Alemanha, com Joris Moura no passe em apoio, tão eficaz quanto com o pé, a oferecer o bombom a Simão Bento.
Um momento de descontração, vendo-se já na Austrália, permitiu à Alemanha reduzir aos 60’, num ensaio de Luis Ball, mas o adormecimento ficou por aí. Simão Bento bisou nos ensaios aos 67’, depois de José Lima abrir os buracos aproveitados para Raffaele Storti avançar e oferecer os pontos ao colega. Manuel Vareiro, que entrou para o lugar de Joris Moura, continuou com o aproveitamento perfeito nas conversões, que continuou quatro minutos depois, quando José Lima literalmente deu para as mãos o ensaio ao veterano Francisco Pinto Magalhães, que engordou a vantagem para 56-7.
Um ensaio de Felix Lammers e posterior conversão, após uma displicente saída de Portugal, colocou o resultado final em 56-14, nada que manchasse em demasia uma vitória claríssima de Portugal, seguida de amigável invasão de campo, com adultos e muita miudagem a festejarem mais história para o râguebi português, desta vez sem esperas, pela primeira vez de forma direta. A Austrália lá estará à espera da equipa que, em França, há dois anos, com o seu divertido e dinâmico jogo, deixou toda a gente com um sorriso na cara.