Râguebi

Noah Caluori corre a mais de 35 km/h, mas a Inglaterra é que não perdeu tempo a convocar o novo diamante do râguebi

Noah Caluori corre a mais de 35 km/h, mas a Inglaterra é que não perdeu tempo a convocar o novo diamante do râguebi
Dan Mullan - RFU

“Não te magoes”, pensou o jovem de 19 anos quando se estreou a marcar um ensaio no campeonato inglês. Mais tarde, no dia em que pela primeira vez integrou o 15 dos Saracens, repetiu cinco vezes o feito. Uma titularidade bastou para entrar na convocatória de uma seleção a viver na ânsia de voltar aos títulos

Ter molas nos pés nem sempre é o atributo mais valorizado nos jogadores de râguebi. Para os mais ofensivos, rapidez e uma ductilidade que permita passar entre as fechaduras das portas que vão sendo fechadas constituem atributos superiormente apreciáveis. Noah Caluori também dá essas garantias, mas acrescenta-lhes à vontade na descolagem. Bem trabalhada, é uma qualidade útil.

Aguardava ele estacionado na direita quando Owen Farrell lhe tentou fazer chegar a bola ao pontapé, numa trajetória bombeada q.b. para dar tempo ao ponta de chegar à zona de validação. Quando se elevou de modo a contactar com a oval, já para lá da linha de ensaio, o pulo que deu permitiu-lhe colocar a cintura acima da cabeça do adversário mais próximo. Há fotografias que o comprovam. E uma nota: o defensor também estava a saltar. Por muito pouco, falhou a receção. Ainda assim, a penalidade e consequente adição de sete pontos ao marcador.

Andrew Matthews - PA Images

Sam Warburton foi 74 vezes internacional pelo País de Gales, capitão em 49 delas. Com a sua seleção, ganhou duas vezes o Torneio das Seis Nações. Ainda assim, nos comentários durante a transmissão televisiva do jogo, confessou: “Nunca vi um jogador assim tão bom no ar. Levem-no à seleção inglesa. Este miúdo vai ser fantástico.”

A apreciação foi feita na estreia de Noah Caluori como titular pelos Saracens na Premiership, o escalão principal do râguebi inglês. A equipa que já venceu seis vezes a competição bateu os Sale Sharks (65-14) e contou com o jovem de 19 anos como elemento surpresa. O filho de pai suíço e mãe nigeriana marcou cinco ensaios dos dez anotados pela equipa triunfante.

Num dia, estava a estrear-se no XV dos Saracens. No outro, estava a ser chamado à seleção. Era suposto a convocatória da Inglaterra para os jogos de preparação contra a Austrália, as Ilhas Fiji, a Nova Zelândia e a Argentina ser composta por 36 jogadores, mas a exibição notável fez Steve Borthwick reconsiderar esse limite.

“É um jogador que estava no radar há algum tempo. Toda a gente sabe que é um talento entusiasmante”, referiu o técnico à Sky Sports. “Os primeiros passos no ambiente internacional são sempre importantes, é muito diferente do clube.”

Eddie Keogh

O primeiro ensaio que marcou pelos Saracens, como suplente, não foi conseguido a uma distância temporal assim tão grande. Logo na estreia no Premiership, saltou do banco para contribuir com uma das suas galopantes correrias. No típico mergulho antes de fazer a bola repousar no chão, apercebeu-se a meio do voo que deu um salto excessivamente grande. “Não pensei que o estava a fazer até começar a descer e pensar ‘Não te magoes aqui’”, comentou junto do “Daily Mail” numa entrevista onde revela já ter atingido os 35,6 km/h em jogo.

A Inglaterra não vence o Mundial desde 2003 e o Torneio das Seis Nações escapa-lhe desde 2020. “Há alguns jogadores jovens a chegar. O Noah Caluori é um deles.” O rejuvenescimento que Steve Borthwick alega estar à espreita é parte do processo para trazer o sucesso de volta a casa.

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