O telefone de Manuel Cajuda começou a latir assim que chegou à porta do estádio do Olhanense. Com poucos meses na presidência do clube de Olhão, costumam ser as más notícias a entupirem-lhe o ouvido. Desta vez era sobre as receitas dos bares e uma dívida em água. Lá fora, o cinzentismo congela, parece até ter manhas para derrubar a obra soalheira. Há uma sensação de abandono no José Arcanjo, as plantas já nem reconhecem um sorriso. Depois de uma breve caminhada entre as agruras do betão esquecido, finalmente surge o verde. Estão a colocar um sintético novo, ainda que os problemas do clube com a SAD impeçam a inscrição de uma equipa sénior do Olhanense. “Temos aqui um campo, isto não é para criar batatas”, avisa o agora ex-treinador, de 72 anos, que tem uma qualidade admirável: quando diz o óbvio, não soa a óbvio. É por isso que ficou acordado ali jogar o Sporting Clube Olhanense 1912, fundado em 2017, que participará na 2.ª divisão distrital.
Cajuda olha com ternura à volta. É de Olhão, morou a 200 metros daqui e até ajudou a construir aquele estádio. “Quer dizer, cuidado, alegadamente ajudei. Andei aqui a apanhar e a levantar pedras”, revela. Este algarvio vai também inaugurando a arte de misturar relatos do passado com opções utilitárias e atuais, como a intenção de mudar os estatutos para o mandato da direção ter mais do que dois anos. “Vinha jogar aqui, nas guerras do meu bairro”, suspira. O futebol federado só se deu quando tinha 15 anos. No vizinho Farense, que usa agora como referência, passou nove anos como jogador e adjunto. Aqui só voltou como treinador. Que ninguém fale mal do Farense ao pé dele.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: htsilva@expresso.impresa.pt