A bicampeã olímpica dos 800 metros, Caster Semenya, parece ter perdido a longa batalha contra o facto de as regras exigirem que mulheres com quantidades altas de testosterona tomem medicação para competir internacionalmente entre os 400 metros e 1 milha. Um tribunal suíço decidiu, na terça-feira, apoiar uma decisão do ano passado do Tribunal de Arbitragem no Desporto que determina a criação de uma política específica para atletas com diferenças no desenvolvimento sexual, para que haja igualdade na competição feminina.
“A decisão do Tribunal de Arbitragem não pode ser contrariada,” afirmou o tribunal suíço. “A justiça no desporto é uma preocupação legítima e forma um princípio central da competição. É um dos pilares que suportam a competição.”
Parece agora mais difícil que Semenya, medalha de ouro em Londres 2012 e Rio 2016, consiga defender o seu título em Tóquio. A atleta respondeu às notícias acusando a World Athletics de estar no “lado errado da história”. “Estou muito desiludida com esta decisão, mas recurso que a World Athletics me drogue ou me impeça de ser quem sou,” disse a atleta. “Excluir atletas femininas ou prejudicar a nossa saúde apenas por causa das nossas capacidades naturais coloca a World Athletics no lado errado da história. Continuarei a lutar pelos direitos das atletas femininas, tanto na pista como fora dela, até que todas possamos correr livres, como nascemos.”
A atleta sul-africana foi quase imparável até que a World Athletics implementou uma nova política para atletas com DSD, incluindo Semenya, o que os obrigou a reduzir os seus níveis de testosterona se quisessem competir em eventos de elite entre os 400 metros e 1 milha. O Tribunal de Arbitragem no Desporto argumenta que as atletas com DSD têm uma vantagem significativa na estatura e na força, desde a puberdade, devido aos seus elevados níveis de testosterona.
Numa declaração, a World Athletics disse estar “satisfeita” que o tribunal mais importante da Suíça se tenha juntado ao mais relevante tribunal de desporto no apoio aos seus argumentos. “A World Athletics tem mantido que as suas regras são legítimas e representam uma forma justa, necessária e proporcionada de assegurar os diretos de todas as atletas de participar em termos justos e igualitários.”
Semenya, que é também tricampeã mundial, pode ainda recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos. No entanto, na sua declaração, o tribunal suíço sugere que um apelo desse género terá poucas hipóteses de sucesso.
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