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Magnus Carlsen e a utilidade do xadrez para a vida: “É impossível ter toda a informação necessária para tomar a decisão perfeita”

Magnus Carlsen e a utilidade do xadrez para a vida: “É impossível ter toda a informação necessária para tomar a decisão perfeita”
Dean Mouhtaropoulos

O norueguês está no Dubai para defender o trono do xadrez mundial contra o russo Ian Niepómniachi. "A vida que levamos, pelo menos nos países avançados, não nos incita a pensar", diz o xadrezista

Tribuna Expresso

A partir de sábado, Magnus Carlsen vai defender a coroa de número 1 de xadrez, que conserva há 12 anos, contra o russo Ian Niepómniachi, no Dubai. Não é algo que o norueguês aprecie especialmente, já que se torna muito tenso, repetitivo e, quando as armas e as ideias secam, angustiante, mas ele tem esperança que o rival sinta o mesmo.

Em entrevista ao “El País”, Carlsen refletiu sobre a utilidade do xadrez. Não só agarrou com as duas mãos a pergunta do jornalista, que sugeriu que servirá para se pensar mais numa sociedade onde se pensa cada vez menos, como foi mais além.

“É tremendamente útil na vida real”, começou por dizer sobre o tema o xadrezista, de 30 anos: “Se tenho de citar um exemplo disto, porque a lista de qualidades que desenvolve é muito grande, escolheria o processo da tomada de decisões”.

Dean Mouhtaropoulos

E continuou: “Na vida tens de tomar decisões constantemente. O xadrezista toma um monte de decisões em cada jogada, não só para a escolher, mas para descartar as que não faz. E é muito consciente, em todo o momento, de que o relógio está a andar. Sabe que é impossível ter toda a informação necessária para tomar a decisão perfeita, porque não há tempo para isso. Por isso, habitua-se a decidir rápido, sintetizando e priorizando a informação que tem. É muito significativo o que nos ocorre com frequência aos jogadores de elite: ainda que nos deem o dobro do tempo para pensar sobre uma posição, a jogada que escolhemos não é melhor que em metade do tempo”.

E isso significa, explica, que desenvolveram “muitíssimo” a capacidade de tomar essas decisões “com informação incompleta e sob pressão do tempo”.

O homem que andou por Cádis a preparar-se para o Mundial, a jogar futebol e a curtir a luz do Atlântico, que adora o Real Madrid (diz que atacam mais este ano e que assim está melhor) concluiu: “Além de tudo isso, o mero facto de te sentares a pensar com frequência é já um exercício que, por si só, te pode ajudar na vida normal”. Afinal, "a vida que levamos, pelo menos nos países mais avançados, não nos incita a pensar", defende.

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