Ladra por ter ido buscar o seu nome a um grande felino da natureza, a marca alemã não é estranha ao futebol português. Enquanto houver memória, haverá quem se lembre de Eusébio da Silva Ferreira e do seu espantoso fulgor de 1966, esguio a ludibriar corpos, imparável a desviar-se de rasteiras que namoravam as suas pernas para deixar nove golos no Campeonato do Mundo. Nos pés do maior namorador de balizas que Portugal já teve no torneio da FIFA estavam botas pretas, com uma tira branca a rasgá-las. Eram as Puma Wembley, calcantes da lenda que dois anos volvidos daria origem às chuteiras mais populares da marca.
As King têm uma fotogenia inconfundível. Em parte, porque estiveram nos pés triunfais de Diego Armando Maradona em 1986, de quando em vez pouco importado com os atacadores desapertados, antes também nos de Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé, durante a conquista brasileira do Mundial de 1970. E, já agora, estiveram com Johan Cruijff no torneio de 1974. Mas esse modelo de chuteiras, cuja mais recente operação plástica surgiu com Neymar, há poucos anos, nasceu derivado a Eusébio: em 1968, a Puma lançou as King “para homenagear o feito” do português ter sido o melhor marcador do Mundial anterior, lê-se numa revista lançada pela marca.
As chuteiras “foram criadas para o Eusébio” e “vamos honrar isso de certeza”. A garantia vem de Arne Freundt. É o CEO da Puma e está descontraído numa sala da Cidade do Futebol, em Oeiras, nem uma hora antes de entrar no auditório da sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para, com Fernando Gomes, anunciar a nova parceria entre a entidade e a marca desportiva alemã: a partir de janeiro próximo, as seleções nacionais vão vestir equipamentos feitos pela Puma. “Estava-nos a escapar aquela equipa de classe mundial que nos pudesse representar nos maiores torneios”, resumiu Freundt à Tribuna Expresso antes de praticamente dizer o mesmo perante as câmaras.
Sem desvendar pormaiores, nem querendo abordar valores - o jornal “Marca”, há ano e meio, noticiou que a Puma iria pagar à FPF o dobro do valor do último contrato com a Nike - ou prazos de validade - Fernando Gomes deixaria escapar que o vínculo será de longo-prazo e pelo menos até 2030, ano do Mundial que Portugal acolherá -, o dirigente germânico valorizou a “nação muito comprometida com jogar ao mais alto nível independentemente de certos jogadores”. Ou de um futebolista em particular.
Por mais que elogie o “papel especial” do Pantera Negra na história da Puma, fundada por Rudolph, um dos irmãos Dassler que andaram às turras (o outro, Adi, criou a Adidas), o líder da marca terá cogitado para os seus botões o que seria passar a vestir a seleção que tem no seu capitão, no seu mais que tudo e no íman de todas as atenções o atleta-bandeira de uma marca concorrente. Cristiano Ronaldo significa, só de escutar o seu nome, muitas coisas, uma delas a Nike. “Primeiro que tudo, é uma lenda e um ícone, tenho enorme admiração pela sua prestação e espero que continue a jogar para termos a oportunidade de celebrar o Mundial juntos. Mas, ao olharmos para parcerias, encaramos sempre o longo-prazo”, reagiu simpaticamente.
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