É fã de Palhinha e inspirava-se em Weigl: abram alas para o “presidente” Rafael Quintas, melhor jogador do Europeu sub-17
Ben McShane - Sportsfile
Quando era mais novo tinha Julian Weigl como jogador preferido do Benfica e hoje é um admirador de João Palhinha. Rapaz de poucas palavras, Rafael Quintas foi eleito o melhor jogador do Europeu sub-17 após capitanear a seleção à conquista do torneio. Sempre jogou no Benfica, está um escalão acima da idade nos encarnados e na seleção tem uma alcunha presidencial
Também nisto se nota a juventude, a genuinidade da pouca idade intacta pelas forças de hábitos adultos. Já de medalha ao pescoço, ainda no relvado, tem a cara cismada no ecrã de telemóvel que a entrevistadora lhe mostra, espera por ver a surpresa. “Epá, eish…” são os primeiros sons que solta enquanto rasga um tímido sorriso para o vídeo que encurta os milhares de quilómetros entre Tirana e a cantina da Cidade do Futebol, em Oeiras, onde uma câmara indiscreta gravou a reação dos jogadores da seleção A, sentados à mesa, juntos a jantar, à vitória dos sub-17 no Europeu. O capitão da canalha fica sem jeito.
A timidez não o larga, acentua-se à medida que os menos de 30 segundos de vídeo rolam. “O melhor de todos os tempos…”, deixou escapar à curta entrevista ao Canal 11 quando presumivelmente no plano surge Cristiano Ronaldo, à cabeceira de uma mesa. Nem aí a feição envergonhada o deixa, faz uma mão passar pelo cabelo mais para se esconder do que para cofiar a melena. Poderá ser tudo muito rápido, ao mesmo tempo: Rafael é o tranquilo capitão da seleção, sereno a executar qualquer ação no meio-campo, acabou de conquistar o Euro, de ser considerado o melhor jogador do torneio e dali a pouco iria erguer o caneco.
Rafael José Mestre Quintas celebrou 17 anos em março e além das cores de Portugal mais nenhumas lhe taparam a pele fora as do único clube que conhece. Com cinco ou seis circunvalações ao sol chegou ao Benfica e pelo menos há quatro que se divide entre o escalão da sua idade e o de cima, dos mais velhos, subida consentânea com as impressões que transpirou pela Albânia, durante este Campeonato da Europa: joga como se fosse bastante mais velho do que realmente é.
Esta época fez 20 jogos nos sub-19 encarnados, mais do que os seis deixados na equipa para os jogadores da sua geração, acelerando ribanceira do futebol acima, sinal comum aos miúdos que valem tanto que obrigam a que lhes sejam dados maiores desafios do que os proporcionados por quem tem a mesma idade que eles. Assinou contrato de formação pelo clube em 2022, mais gaiato ainda, quando assumia o carinho pelo número 4 por gostar de ver Luisão jogar e confessava ter como preferido da equipa principal o alemão Julian Weigl. Coincidiam na posição em campo: “É em quem mais me inspiro.”
Ben McShane - Sportsfile
Do germânico quiçá retirou a calma, a queda para não falhar passes, também a classe. A João Palhinha terá ido buscar a rotação nos momentos sem a bola para atormentar os adversários. Fã confesso do antigo médio do Sporting e hoje no Bayern de Munique, o molde próprio de Rafael Quintas têm-no como um médio total, de processos simples com a bola e intenso sem ela, à frente da sua idade na forma como parece tomar sempre a decisão correta. Os companheiros de seleção chamam-lhe “o presidente”. A sua postura em campo não desmente a alcunha.
Titular nos cinco encontros de Portugal no Europeu, o médio apenas não fez quatro minutos da partida inaugural e saiu aos 68’ da extenuante meia-final contra a Itália, estendida até aos penáltis. “Não tenho palavras para descrever. Saber que eles me viram é incrível”, disse, selada a conquista, ao comentar o vídeo dos jogadores da seleção A todos juntos a torcerem pelos miúdos. “É bom eles terem-nos visto, dá-nos mais vontade de continuar a jogar”, acrescentou, como se faltasse algo que o impelisse a seguir nesta vida.
Caso a vontade, por algum imprevisto, lhe falhe, que tenha presente o quão aliciante que esta fornada de adolescentes foi para quem a viu jogar: informou que o Canal 11 que a final do Europeu se fixou como a transmissão mais vista da sua história. E vem aí o Mundial da categoria, onde em 19 edições Portugal apenas esteve em quatro e nunca jogou além do terceiro lugar de 1989, quando o selecionador Bino partilhava equipa com Luís Figo ou Emílio Peixe. Desta feita será Rafael Quintas a presidir à equipa nacional.