As Américas aqui tão perto para Portugal: duas vitórias frente a Irlanda e Hungria podem garantir qualificação para o Mundial
Alexandra Fechete/MB Media
Duas vitórias nos dois próximos encontros de qualificação podem chegar para a seleção nacional garantir o bilhete para a 14.ª grande competição consecutiva. A Irlanda é o primeiro adversário (sábado, 19h45, RTP1/Sport TV)
Há certas coincidências cósmicas. A data não é totalmente redonda, mas quando Portugal iniciar, este sábado (19h45, RTP1/Sport TV), o jogo com a República da Irlanda, no Estádio de Alvalade, estarão quase a cumprir-se 30 anos de um outro duelo com a seleção que veste de verde e branco e que marca, para uma alargada geração, o primeiro contacto com uma seleção nacional capaz de chegar aos grandes palcos.
O jogo, disputado sob uma chuva bíblica, a 15 de novembro de 1995, não estava fácil - talvez os irlandeses estivessem mais habituados à intempérie - até Rui Costa, num chapéu mágico, ainda longe da baliza, enganar um desamparado guarda-redes adversário, já à entrada da última meia-hora de jogo. Seguiram-se o 2-0 e o 3-0, mas é possível que muito boa gente, numa espécie de Efeito Mandela futebolístico, ainda acredite que o jogo ficou apenas 1-0. Porque aquele golo de Rui Costa, épico e decisivo, mudou quase tudo no futebol português.
Com a vitória na velha Luz, frente a uma Irlanda que havia participado nos dois últimos Mundiais e batido Portugal em Dublin, a seleção nacional apurou-se para o seu primeiro Europeu desde 1984 e desde esse Euro 1996 que apenas falhou uma grande competição, o Mundial de 1998. Se a Geração de Ouro abria as portas a Portugal, as seguintes, com Cristiano Ronaldo como figura de proa, continuou o trabalho.
Três décadas depois, Portugal é favorito frente a uma República da Irlanda que, em sentido contrário, não chega a uma grande competição desde o Euro 2016 do nosso contentamento. Caso vença o jogo de sábado e, três dias depois, bata a Hungria também em Alvalade, dificilmente a seleção nacional não se apura ou fica perigosamente perto da sua 14.ª fase final consecutiva, o Mundial 2026, nos Estados Unidos, Canadá e México.
JOSE SENA GOULAO
Com dois triunfos, Portugal atinge os 12 pontos e impede Irlanda e Hungria de pontuar em pelo menos um dos jogos. E, assim, só a Arménia poderá ter uma palavra a dizer, precisando de vencer um dos jogos que terá nesta janela (Irlanda e Hungria) para ainda acalentar o 1.º lugar de um grupo com apenas quatro equipas e em que qualquer deslize pode ser complicado de gerir.
Para uma seleção habituada à calculadora, garantir já o Mundial seria o segundo apuramento tranquilo de Portugal, que para o Euro 2024 conseguiu o passaporte só com vitórias - dez em dez - na fase de qualificação. Os últimos três encontros foram já jogados com a certeza que a seleção estaria na Alemanha, onde depois as coisas não correram particularmente bem - Portugal chegou aos quartos de final, onde perdeu com a França, mas a qualidade de jogo andou por níveis pouco consentâneos com o talento do grupo.
Uma nova qualificação mundialista deixaria Portugal num grupo restrito de equipas que, neste século, não falharam qualquer Euro e Mundial. Itália, por exemplo, não se apurou para os Mundiais de 2018 e 2022, enquanto os Países Baixos não estiveram em 2002 e 2018. A Croácia falhou o Mundial de 2010 e a Inglaterra não foi ao Euro 2008. Só França, Espanha e Alemanha têm uma série de participações consecutivas mais longa que a de Portugal.
E quanto a recordes, a qualificação para o Mundial 2026 deixaria Cristiano Ronaldo, que esta semana foi considerado pela Bloomberg como o primeiro futebolista multimilionário de sempre, como um dos jogadores com possibilidade de chegar a uma sexta participação num Campeonato do Mundo de futebol, algo até hoje inédito.
Uma seleção como um clube
O triunfo na Liga das Nações, no último verão, deu força à ideia de Roberto Martínez em gerir a seleção nacional como um clube. Apesar de não se cansar de repetir que as portas estão abertas, frisando sempre que possível a piscina alargada de jogadores que observa, o certo é que as convocatórias carecem de surpresas.
Denis Tyrin - UEFA
Para o duplo compromisso com República da Irlanda e Hungria, que se segue às duas vitórias na Arménia e na capital magiar, há poucas novidades: Rafael Leão e Nelson Semedo, ausentes em setembro por lesão, estão de regresso; em sentido contrário, João Cancelo, figura maior dos dois primeiros jogos de qualificação para o Mundial, sai da lista, com problemas físicos, que acometem também João Neves, dispensado já depois da divulgação dos nomes - foi substituído pelo lateral Nuno Tavares, com início de época intermitente na Lazio.
Matheus Nunes, que saiu de Portugal como médio, mas que tem servido mais como defesa direito para Pep Guardiola no Manchester City, voltou a ser chamado mais de um ano depois. A polivalência, ideia muito do agrado do selecionador nacional, terá sido decisiva. Mas não só: “O Matheus Nunes já trabalhou connosco, conhece bem os nossos conceitos e está num bom momento de forma”. Há poucos milímetros de margem de manobra nesta lista, que não tem, por exemplo, Alberto Costa, numa das figuras do fulgurante início de época do FC Porto. Rodrigo Mora ou Geovany Quenda voltaram, também, a não fazer parte da convocatória, ficando às ordens de Luís Freire nos sub-21.