Portugal

Na seleção onde Martínez fomenta “muita auto-crítica”, Bruno Fernandes veio reconhecer: “O Cris sabe que cometeu um erro”

Na seleção onde Martínez fomenta “muita auto-crítica”, Bruno Fernandes veio reconhecer: “O Cris sabe que cometeu um erro”
ESTELA SILVA

A antevisão ao jogo de domingo, no Dragão, contra a Arménia (14h, RTP1), foi dominada por um tema e Bruno Fernandes classificou a expulsão de Ronaldo como uma reação que custou caro antes de Roberto Martínez manter que o capitão reagiu a uma provocação. Para o encontro em que Portugal pode, finalmente, garantir a presença no Mundial de 2026, o jogador disse que a equipa tem de fazer das suas valências o ponto forte e o selecionador desvendou que Gonçalo Ramos vai ser importante

Para se pronunciar sobre o descalabro de Dublin chamou-se quem não o experienciou no campo. Foi um dos líderes sem braçadeira da seleção, Bruno Fernandes, o escolhido a dar respostas. “O jogo não correu da maneira que queríamos, não conseguimos ser tão objetivos como queríamos contra o bloco muito, muito baixo da Irlanda, e criámos poucas ocasiões por termos pouca gente no último terço”, avaliou, certeiro no diagnóstico: “Tínhamos de ser mais rápidos a rodar a bola para que eles corressem e se cansassem mais.” E teve de ser ele, alheio de responsabilidades no desastre na Irlanda porque suspenso estava para jogar, a não recear tratar as coisas pelos nomes.

Mesmo as delicadas, como se provou na ressaca da derrota. “Infelizmente acontece no futebol, o Cris teve uma reação que lhe custou caro. Ele sabe que cometeu um erro, que era algo que não queria fazer”, opinou o médio do Manchester United, sem hesitações em reconhecê-lo, ao contrário do zelo que Roberto Martínez estimou ter, na quinta-feira, ainda em terra de cerveja preta, ao ser questionado na sala de imprensa sobre a expulsão por agressão de Ronaldo: “A razão por que recebeu o cartão vermelho é por ter muita paixão e ficar frustrado quando a seleção não ganha, é isso que queremos de todos os jogadores.” 

Fiando na análise do selecionador, parecia que a expulsão do capitão era para ser assimilada como algo positivo, um sintoma de dedicação. “O Cris quer dar tudo e não aceita momentos de frustração”, acrescentaria o treinador. Pelo contrário, as palavras de Bruno Fernandes não evitaram os factos. “Independentemente dessa expulsão, já estávamos por baixo do jogo, mas, obviamente, dificultou mais as coisas jogarmos com 10”, constatou quem já poderá jogar este domingo (14h, RTP1), contra a Arménia, e ajudar uma seleção que nutre um ambiente “com muita auto-crítica” para “crescer ainda mais depois de uma derrota”.

Essas foram as garantias de Martínez já no Estádio do Dragão, na véspera do último e decisivo encontro da fase de apuramento rumo ao Mundial de 2026, adiado que já foi, por duas vezes, a garantia de Portugal lá estar. O olhar ao espelho, porém, não era para a conferência de imprensa após a exibição negativa frente aos irlandeses. “Não é o momento para falar desse jogo”, considerou o treinador. Quis focar no positivo que viu entre os seus, na reação ao insucesso na Irlanda: “Já tivemos derrotas juntos, ajuda muito para depois ganhar e melhorar no próximo jogo. No treino de ontem vi-os cheios de alegria, energia e vontade de mostrar o nosso melhor nível. Estamos todos juntos, muito unidos, temos um ambiente ganhador.”

A prioridade é vencer a Arménia que na memória ecoa a goleada trazida de Yerevan, em setembro. A lembrança sugere que a oposição frágil, Roberto Martínez não acredita nas mesmas facilidades. “O novo selecionador não teve muito tempo para trabalhar quando os defrontámos em casa, é uma equipa inteligente, tem jogadores com capacidade criativa e, defensivamente, tem uma estrutura com uma linha de cinco muito solidária. É uma equipa muito competitiva”, reforçou o treinador, fã do trabalho - “gostei muito” - de Eghishe Melikyan desde o 0-5 que pecou por escasso da última vez que Portugal defrontou os jogadores nascidos no resvés entre a Europa e a Ásia Central.

ESTELA SILVA

Mas pouco se quis saber sobre a partida da qual se espera que à terceira seja de vez. Sina de quem treina a seleção portuguesa desde 2003, as perguntas insistiram sobre Cristiano Ronaldo. E Roberto Martínez insistiu na sua tese.

Depois do jogo, introduziu, “as emoções podem não ser claras”, defendendo que Cristiano reagiu “a uma provocação que começou no início do jogo, em todos os lances na área com os centrais, começou no dia antes na conferência de imprensa”. O selecionador aprofundou: “Foi uma reação para tentar continuar a jogar e outros jogadores podem utilizar isso para cair no chão e procurar um penálti. Não foi uma ação violenta, foi uma reação a uma provocação.” Sem confirmar que a Federação Portuguesa de Futebol vai apelar à FIFA que o castigo seja apenas de um jogo (pode chegar aos três em casos de agressão), Martínez acha que “uma sanção longa seria muito injusta”.

Sobre a dispensa de Ronaldo da seleção, ao estar impossibilitado de jogar, o treinador argumentou sem um não-assunto. E mais, comenta que o burburinho em torno de tal é “uma falta de respeito” pelo capitão e “pelos jogadores da seleção”, explicando: “Quando um jogador está lesionado ou tem cartões, não está na seleção. Porquê? O foco dele não é o de jogar. Sempre trabalhamos assim. Quando um jogador não está na convocatória para o jogo, não está na seleção. O Bruno não estava na Irlanda. Para quê questionar o compromisso do Cristiano? É o nosso capitão, ganhou muitos jogos na seleção, o compromisso é impecável.”

Sem os 40 anos, 226 internacionalizações e 143 golos do íman de todas as atenções, sobra Gonçalo Ramos como único avançado disponível. “É um ponta de lança natural que já teve bons momentos na seleção”, explicou Roberto Martínez, prezando o “momento muito bom” que atravessa apesar de mais uma árdua época, a terceira, para conseguir minutos em Paris: 745 espalhados por 16 jogos, só cinco como titular. Tem cinco golos feitos. “Acho que é o atacante com maior média de golos por minutos nas competições europeias”, indicou o treinador, assegurando que o avançado do PSG “vai ser importante” no domingo, mesmo sem o ter sido em Dublin, onde entrou só aos 76 minutos.

Por ele ou via quem seja, os golos terão de surgir contra a Arménia para a seleção não protelar mais a viagem ao Campeonato do Mundo. “Temos que nos focar mais nas dificuldades que podemos causar, temos que ser Portugal, fazer das nossas valências o ponto mais forte do jogo”, animou Bruno Fernandes, o motivador da mensagem. O empate com a Hungria em outubro, a derrota com a Irlanda na quinta-feira “não mudam o facto” que o jogador quis recordar: “Queremos ganhar o Mundial, não escondemos isso.”

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