Não haverá assim tantos nomes de árbitros internacionais que se tenham fixado na memória coletiva portuguesa, nos pesadelos de outros tempos, eras de desilusão que muitas gerações mais novas nem conseguem reconhecer.
Em setembro de 1997, Portugal vencia a Alemanha no Estádio Olímpico de Berlim já a caminhar para o último quarto de hora do jogo. Um triunfo, naquele momento da qualificação para o Mundial de 1998, seria praticamente o carimbar do regresso à prova, depois das más recordações de 1986 - Portugal passaria para 1º do grupo e teria apenas de confirmar o apuramento no jogo seguinte, com a Irlanda do Norte.
Mas, ao minuto 74, três minutos depois de Pedro Barbosa colocar Portugal na frente, o árbitro francês Marc Batta mostrou o segundo amarelo, e consequente vermelho, a Rui Costa, por este se demorar numa substituição que faria Sérgio Conceição entrar em campo. As lágrimas do número 10, na única expulsão que teve em toda a carreira profissional, tornaram-se símbolo do sentimento de injustiça e frustração daqueles jogadores. E de um país. A jogar com menos um, Portugal sofreria o empate. Seria 3º classificado no grupo, atrás de Alemanha e Ucrânia, e esfumou-se o sonho do Mundial.
O nome de Marc Batta transformou-se, assim, em trauma coletivo. Anos depois seria até expulso de um táxi conduzido por um cidadão português nas ruas de Paris. Batta terá, anos depois, pedido desculpas a Rui Costa numa visita ao Estádio da Luz como observador num jogo europeu, mas o Maestro não terá aceitado: exigiu que pedisse desculpa a todo um país, revelou em tempos ao diário “A Bola”.
Não consta que tal pedido de clemência tenha acontecido. Mas esses tempos parecem agora longínquos, para muitos mais novos, para muitos até dos que jogam agora na seleção, o nome de Batta é desconhecido. O borrego foi sacrificado em Paris, em 2016, e desde essa polémica expulsão de 1997 que Portugal se foi vingando em campo: o Mundial de 1998 foi mesmo a última grande competição sem a seleção nacional presente. A vitória frente à Arménia garantiu nova presença no Campeonato do Mundo, a sétima consecutiva: 2002, 2006, 2010, 2014, 2018, 2022 e, agora, 2026. Com maior ou menor sucesso, com futebol mais ou menos champanhe, Portugal virou uma constante nestes palcos, onde antes só havia surgido em 1966 e 1986, feitos vistos como obras do acaso, engalanados por gerações estanques de jogadores especiais.
Esta é também a 14ª presença consecutiva em Europeus e Mundiais, uma série que só tem paralelo em gigantes como França, Espanha e Alemanha. Itália, por exemplo, não esteve nos dois últimos Mundiais. Os Países Baixos falharam 2002 e 2018 e a Croácia não se qualificou para o Mundial de 2010. Inglaterra não foi ao Euro 2008. Portugal junta a estas ainda uma participação na defunta Taça das Confederações, em 2017, e duas presenças na final four da Liga das Nações, em 2019 e 2025, ambas conquistadas.
Na verdade, Portugal garante uma sétima presença consecutiva no Mundial sabendo desde já que terá uma oitava no bolso, já que, como co-anfitrião do Mundial de 2030, tem presença assegurada na prova, tal como Espanha, Marrocos, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Ronaldo pode chegar às seis participações
Confirmando-se que Cristiano Ronaldo jogará até ao verão do próximo ano e salvo algum indesejável contratempo, o português pode tornar-se o futebolista com mais participações em Mundiais, seis, em conjunto com Lionel Messi, que ainda não confirmou se estará nos Estados Unidos, Canadá e México, mas que também já se qualificou, com a Argentina. Os dois, que estão de momento num grupo alargado de futebolistas com cinco participações, podem destacar-se no primeiro lugar. Cristiano poderá estar, assim, na sua 12ª fase final consecutiva: desde 2004 que o madeirense é uma constante, a cola e a transição entre a Geração de Ouro e a geração atual, que será de outro material precioso qualquer, talvez a mais talentosa do futebol português, ou pelo menos aquela com mais jogadores de classe internacional.
Cristiano é também o 4º jogador com mais jogos no Mundial, com 22 encontros. Messi tem mais (26) e o português pode igualar Lothar Matthäus no 2º lugar caso esteja nos três primeiros jogos da fase de grupos. O capitão da seleção nacional já detém o recorde de único jogador a marcar em cinco fases finais de Campeonatos do Mundo, feito que pode reforçar em 2026.
Com oito golos marcados em Mundiais, Cristiano está longe do recorde de 16 de Miroslav Klose. Porém, caso encontre os caminhos para a baliza nas Américas, pode igualar ou ultrapassar os nove golos de Eusébio, todos eles marcados em 1966, e colocar-se no topo da lista dos melhores marcadores portugueses de sempre. O primeiro Mundial da história com 48 seleções, onde estará também Cabo Verde, será a derradeira oportunidade para o jogador do Al Nassr levantar o maior troféu do futebol pela sua seleção - já confirmou que será o seu último Mundial.
Se o fizer, aos 41 anos tornar-se-á o jogador mais velho a ganhar um Mundial, ultrapassando o italiano Dino Zoff, que ergueu a taça em 1982 com 40 anos, quatro meses e 13 dias.