É impressionante como o caminho até ao epicentro de uma festa pode ser, apesar de tudo, silencioso. A trote até ao Marquês há ocasionais buzinas e grupos de jovens vestindo camisolas vintage número 9 de Manuel Fernandes que cantam músicas dedicadas a Viktor Gyökeres, outro 9 que ficará na história do Sporting, imagem que se repetiria ao longo da noite nas ruas das imediações da rotunda que no léxico nacional se tornou uma espécie de sinónimo de campeão.
“Gyökeres, ah ah”, ao ritmo do refrão de “Voulez-Vous” dos ABBA, exportação tão sueca quanto o avançado que já contribuiu com 27 golos para o 20.º título do Sporting (24.º nas contas do clube, mas isso é outro tema), para lá de incontáveis arrancadas que fizeram, desde cedo, os adeptos sonharem com este momento: o da marcha irredutível até ao festejo, a segunda em quatro temporadas depois de largos 19 anos só sabendo porque se ficou em casa.
Em 2021, o país vivia ainda atormentado pela pandemia e a festa do título do Sporting fez-se de caos e confusão - e poucas ou nenhumas máscaras, apesar dos apelos. Com autocarro pelas ruas de Lisboa, mas sem festa oficial no Marquês, o estouro de alegria de adeptos que há quase 20 anos não sabiam o que era festejar foi mais forte que as recomendações. Aí a festa foi orgânica, com a beleza de ver muitos pais e filhos adolescentes sentindo aquela emoção juntos pela primeira vez. Mas sempre tingida de uma tensão permanente, de um arrebatamento que se queria contido, face a um vírus que ainda ditava as nossas vidas. Como um balão que enche, o final de festa foi de explosão, no pior sentido, e tudo acabaria com violência entre polícia e adeptos pouco conformados com regras.
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