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Ser campeão pelo Sporting no sofá ainda é o que era? Não, antes cada um via o jogo em casa “relaxadinho” e a festa “era ao sabor do vento”

Ser campeão pelo Sporting no sofá ainda é o que era? Não, antes cada um via o jogo em casa “relaxadinho” e a festa “era ao sabor do vento”
ANTONIO PEDRO SANTOS/Lusa

Com os canecos ganhos isso importará pouco, mas, em quatro dos últimos cinco títulos de campeão nacional, o Sporting teve a conquista confirmada fora de casa ou longe do campo (em 2021 ganhou em Alvalade, mas com a pandemia e sem adeptos). Duas décadas depois, os leões voltaram a ser campeões no sofá e Luís Filipe conta como, em 2002, até viu o jogo alheio que entregou o título aos leões sozinho em casa, longe da equipa: só depois os jogadores receberam um SMS para se concentrarem num hotel e irem dar uma volta ao Marquês, sem direito a paragens. Eram outros tempos, em que “foi tudo um pouco em cima do joelho”

Estávamos no intervalo do prenúncio de uma farra, ainda havia (só) empate entre Famalicão e Benfica, o ‘diabo’ das coincidências costuma tecê-las, prevenir é remédio caso essa tecelagem venha a suceder e foi isso a forçar os dedos que teclaram já a horas de digestão do jantar contra o sossego de Luís Filipe. O “por mim tudo bem” foi a primeira frase do antigo jogador e para sempre sabedor do que é ser campeão nacional desequipado, sem chuteiras, no conforto de casa e com a televisão a fazer de mensageira. Como dali por menos de uma hora os atuais jogadores do Sporting viriam a saber, também Luís Filipe estava no recato do lar, literalmente, em 2002, quando a bênção do título chegou por desgraça alheia.

Ele sabia que poderia chegar, como não?, se o perseguidor Boavista, então segundo classificado do campeonato, não saísse da Luz com uma vitória então os leões seriam campeões sob proteção da matemática. As contas ficariam seladas na penúltima jornada e ele não era, impossível que o fosse, o único a saber. Apesar da iminência de uma possível festa, Luís Filipe viu esse jogo em casa e o espanto perante essa informação agravou-se quando depois acrescentou o desenrolar da noite. “Naquela altura não havia qualquer plano, recordo-me de que estava em casa a ver o jogo e, quando acabou, ou estava quase, mas penso que até foi no final, recebemos uma mensagem para irmos ter ao hotel Radisson”, conta quem só pintado de fresco de campeão nacional recebeu essa convocatória.

Eram outros tempos, é um facto, a internet nem barba tinha e os telemóveis longe estava de serem espertos, mas Luís Filipe, um jovem extremo de 23 anos numa equipa do Sporting a abarrotar de grandes figuras, olhou para a SMS “sem saber muito bem o que iria acontecer”.

Mais de duas décadas passadas, o antigo futebolista junta as colagens possíveis dessa noite a pedido da Tribuna Expresso perante a sina do Sporting que vem dos primórdios da década de 80 - a de celebrar títulos de campeão nacional da forma menos convencional, sem o calor caseiro e o emanado da alegria dos seus adeptos. Excluindo a conquista de 2021, feita em Alvalade, mas com o estádio despido de gente por imposição da pandemia que ainda mantinha os humanos longe uns dos outros, os leões não são campeões em casa, perante os seus adeptos, desde 1980, quando Rui Jordão e Manuel Fernandes ainda marcavam os golos.

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