Nada fazia prever o que aconteceu: a meio da tarde, por volta das 17h, um grupo de adeptos do Sporting de cara tapada irrompeu alcatrão abaixo como nos filmes do faroeste em que os vilões tomam um lugar à força. E foi assim que entraram, sem aparente resistência, em Alcochete e se dirigiram ao balneário onde se encontravam o plantel, a equipa técnica e o departamento médico da equipa A de futebol. Os jornalistas presentes foram ameaçados: se fossem filmados, poderiam sofrer represálias.
E, depois, estado de sítio.
Durante alguns minutos, futebolistas e técnicos foram fechados e “agredidos à vez com chapadas e cabeçadas”. “Quem abria a boca apanhava. Também ameaçaram as famílias”, contam. De acordo com várias fontes, Jorge Jesus terá levado uma cabeçada e uma cinturada; Acuña, Battaglia, William, Rui Patrício e Bas Dost também foram agredidos com violência – o holandês teve de ser suturado a feridas na testa que lhe foram inflingidas quando tentava socorrer Jorge Jesus. Um dos preparadores físicos do Sporting terá sido inclusivamente esfaqueado.
O balneário foi vandalizado pelos intrusos, que terão lançado tochas para dentro do espaço, ativando os alarmes de incêndio da Academia.
De costas voltadas
Na sequência destes acontecimentos, muitos dos futebolistas decidiram virar as costas à chegada de Bruno de Carvalho e André Geraldes, presidente do Sporting e team manager da equipa, a Alcochete. Os atletas quiseram marcar uma, mais uma posição coletiva perante o líder a menos de uma semana da final da Taça de Portugal. Um deles, Bruno Fernandes, terá mesmo decidido deixar Lisboa e rumar ao Porto, de onde é natural, por sentir que não tem condições para continuar em Alvalade.
Posto isto, coloca-se a forte hipótese de que o plantel avance para rescisão coletiva de contrato de trabalho com justa causa, dando, assim, um passo decisivo para a ruptura final entre plantel e Bruno de Carvalho, duas partes que estão condenadas a desentenderem-se face a tudo o que se tem passado nas últimas semanas: o post do meninos mimados, a resposta no Instagram, a ameaça de suspensão, a conferência de imprensa. Basicamente, está tudo em causa: o plano desportivo, patrimonial, financeiro e emocional.
Esta é a terceira quebra de segurança grave que acontece nos últimos dias em Alvalade: as tochas durante o dérbi que foram enviadas a Rui Patrício; os adeptos que invadiram a garagem para tentarem agredir William Carvalho e Patrício, domingo à noite; e esta que aconteceu agora em Alcochete.
Os episódios de violência desta terça-feira acontecem depois de o Sporting ter perdido o segundo lugar para o Benfica, após derrota por 2-1 diante do Marítimo, na Madeira, e numa semana que antecede a final da Taça de Portugal, marcada para domingo – o adversário é o Desportivo das Aves.
Daniel Oliveira: “Bruno de Carvalho fez muito pelo Sporting. A partir deste momento é evidente que só o destruirá”
Em reação ao sucedido em Alcochete, o comentador e colaborador do Expresso Daniel Oliveira, adepto do Sporting, criticou a postura de Bruno de Carvalho num post publicado no Facebook. Daniel Oliveira pede ao presidente do Sporting que “explique aos sócios, sem ordinarices e joguinhos de palavras, o que está realmente a acontecer”.
Em dois pontos, Daniel Oliveira diz que a direção tem de “encontrar os autores destes atos criminosos contra o Sporting” e que o presidente é “corresponsável pelos resultados desta época”.
“Não aceito que Bruno de Carvalho salte do papel de presidente para o de adepto sempre que as coisas correm mal. Não fui eu que renovei contrato com Jorge Jesus com uma cláusula de rescisão de sete milhões. Bruno de Carvalho fez muito pelo Sporting. A partir deste momento é evidente que só o destruirá.”
A reação oficial: “O Sporting não é isto”
Numa mensagem colocada nas redes sociais do clube, o Sporting repudiou a invasão à academia de Alcochete, sublinhando que não pode "pactuar com atos de vandalismo e agressão a atletas, treinadores e staff" da equipa de futebol.
"O Sporting não é isto, o Sporting não pode ser isto", pode ler-se na curta declaração.