É a sala de motores de qualquer onze que se preze, dirão sem pestanejar os entendidos do futebol. O meio-campo é o centro nevrálgico da ação no campo e é onde se colocam em movimento as rodas dentadas que pautam o ritmo da equipa e muitas vezes lhe dão o carácter. No 3-4-3 de Rúben Amorim, João Palhinha e João Mário são quase sempre as primeiras escolhas para desempenhar este papel de pêndulos e, habitualmente, distinguem-se pela sobriedade com que desempenham o papel. Hoje, os médios made in Alvalade de gerações diferentes distinguiram-se pelos golos que fizeram na vitória do Sporting por 2-0 frente ao Paços de Ferreira e que coloca o Sporting cada vez mais próximo de celebrar o título que lhe foge desde 2002.
Mais uma jornada, mais uma vitória, a distância a aumentar e o sonho a aproximar-se. Agora com uma diferença de dois dígitos para quem segue mais próximo, à falta de melhor expressão. Em cinco jogos o Sporting ganhou cinco, disparou para a melhor série da temporada e viu o fosso para o segundo lugar, ocupado pelo FC Porto, aumentar de quatro para dez pontos enquanto Sporting de Braga e Benfica se encontram a 11 e a 13, respetivamente. É uma vantagem que nunca foi ultrapassada nesta fase do campeonato e que coloca os leões numa posição invejável da qual não parecem dispostos a abdicar.
Ainda sem derrotas à passagem da 19ª jornada, o Sporting continua a aproveitar os deslizes dos principais adversários e a vitória sobre o Paços do Ferreira chegou com um grau assinalável de naturalidade. O que diz muito da solidez leonina perante uma das grandes sensações do campeonato. A equipa de Pepa chegava à Alvalade com hipóteses de igualar o Vitória Sport Clube no quinto lugar e sem esconder a ambição de ganhar no terreno do líder.
Só que este Sporting raramente facilita perante os adversários. Mesmo sem deslumbrar, a solidez é a palavra de ordem na equipa leonina que quando troca de peças mantém sempre a máquina afinada. Foi o que aconteceu com as entradas de Tiago Tomás, Gonçalo Inácio e João Mário para um onze no qual Paulinho manteve a titularidade. A transferência recorde ainda procura o seu primeiro golo com a camisola dos leões e a utilização do "ainda" já é spoiler para o desfecho de mais um jogo (o sétimo seguido entre Braga e Sporting) sem faturar, mas em que teve a primeira situação de perigo de todo o jogo. Bom envolvimento pela esquerda com a bola a fluir com qualidade pelos jogadores até Pedro Gonçalves tirar um cruzamento para o calcanhar de Paulinho, cuja finalização esbarrou na defesa por instinto de Jordi.
Passavam dez minutos e o primeiro bom apontamento de um jogo em que se o equilíbrio era a nota aparente, este parecia mais consentido pelo Sporting, que perante o posicionamento dos pacenses, tentava colocar bolas nas costas da defesa. Foi o que aconteceu aos 20 minutos, quando Feddal, qual Beckenbauer, pegou na bola, olhou, e arrancou um passe muito longo e muito preciso para a desmarcação de Pedro Gonçalves dentro da grande área e para o corte imediato em falta de Rebocho. O lateral falhou a abordagem e o árbitro não teve dúvidas em apontar para a marca da grande penalidade. A responsabilidade coube a João Mário, e o médio emprestado pelo Inter de Milão não vacilou. Bola para um lado, guarda-redes para o outro, e vantagem para o Sporting.
Laboratório Palhinha
A tendência de equilíbrio consentido acentuou-se após o golo e só mais próximo do intervalo é que voltou a haver perigo acentuado junto das duas balizas. Primeiro, aos 42 minutos, quando após uma boa jogada coletiva, Rebocho cruzou para um remate à entrada da área de Luther Singh à figura de Adán, que defendeu com segurança e mostrou, mais uma vez, o acerto dos leões na sua contratação. A defesa garantiu aos verde e branos terminarem a primeira parte em vantagem, que só não foi maior porque Coates não conseguiu acertar no alvo após uma série de bolas trocadas de cabeça dentro da área adversária.
Não foi nesse lance, foi logo no recomeço da partida e resultado de uma jogada desenhada a papel e esquadro no campo de treinos, daquelas que deixam sempre os treinadores orgulhosos. Canto da direita, e desvio inteligente de Feddal (outra vez ele) para a esquerda onde apareceu o outro João do meio-campo, Palhinha, solto de marcação e a disparar de pé direito ao ângulo para um grande golo que deixava os leões ainda mais seguros em campo e o Paços a contemplar uma tarefa cada vez mais difícil.
Perfeitamente confortável em jogo, o Sporting aproveitou o 2-0 para gerir o ritmo de jogo a seu bel-prazer e a mostrar, se mais provas fossem necessárias, que é uma equipa exímia a gerir os espaços e com uma linha defensiva a um nível muito elevado. Sem consentir veleidades, os leões deixaram os minutos correr, perante um adversário que foi tendo bola mas a que faltou dar mais acutilância à posse. O que, sejamos justos, era muito difícil perante a oposição.
Além de um remate (muito) forte de Douglas Tanque à malha lateral, as oportunidades escassearam e foi sem surpresas que o jogo chegou aos 90 minutos com vitória do Sporting por 2-0 e mais uma etapa cumprida rumo a um título que o 'não candidato', a manter esta solidez, arrisca-se mesmo a ganhar. Agora com uma almofada na casa dos dez.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: i0074@visao.impresa.pt