Sentado no banco, curvado sobre as pernas, os cotovelos assentes nas coxas, João Pereira tem a cara vidrada no relvado. Reprimido pelo curso que lhe falta ter, as regras obrigam-no a manter o traseiro no assento e impedem-no de se espraiar na intervenção. É contido a por-se de pé, parcimónio a dar indicações, repetente no mero bater de palmas e no gritar do “vamos!”. Tem um adjunto de cada lado, ambos presos pelos mesmos arames. Diante deles, o único de pé em Moreira de Cónegos, está Tiago Teixeira, um outro adjunto, este sempre fiel à garrafa segura numa mão, a mirar o jogo e reagindo ocasionalmente ao que acontece acolá no campo sem se fazer notar por aí além.
Ciente da lupa atenta das multas que o castigará enquanto não tiver o IV e último nível no grau de instrução dos treinadores, João Pereira é apressado nas poucas vezes em que ousa levantar-se e a chamar um jogador para gesticular uma indicação antes de regressar ao seu poiso. Contra o Moreirense, como em Alvalade frente ao Amarante, Arsenal e Santa Clara, adorna vestes desportivas, apresenta-se de calças e casacos de treino do Sporting, sapatilhas de corrida. É um homem no futebol com vestimenta à futebol obrigado a permanecer quieto no banco de suplentes.
Sem se escutar o que diz no banco, eis um treinador que não pode ser livre no momento em que o seu trabalho mais está a ser julgado por olhos que não veem o resto, preso por limitações e limitado a deixar este tipo de impressões durante os jogos.
Apressado para o cargo pela ida embora de Ruben Amorim antes do tempo previsto por Frederico Varandas, as dores da ambientação de João Pereira à equipa principal do Sporting vão sendo acentuadas pelos resultados: à inconclusiva, por expectável, vitória por 6-0 contra o Amarante, para a Taça, seguiu-se a goleada de 1-5 sofrida em casa, diante do Arsenal e na Liga dos Campeões, tarefeira de engolir mas compreensível; seguiu-se o par de desgostos que agregaram a neblina da dúvida sobre a cabeça do treinador, uma derrota por 0-1 em Alvalade com o Santa Clara e esta outra, de quinta-feira, encaixada no estádio do Moreirense.
Em ambas, antes de se ouvir o treinador mal os jogos acabaram houve que dar o microfone a quem só no papel da ficha de jogo surge como responsável da equipa.
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