Entre mensagens e pressões do empresário e a reação dura de Frederico Varandas, o avançado sueco vive agora num paradoxo. O Sporting garante que nunca acertou vendê-lo por €60 milhões + €10 milhões, os representantes do jogador dizem que sim. Mas, entretanto, só o Arsenal se terá chegado à frente
Jornalista
Fundo negro, umas palavras a branco, mensagem simples. As reações de Viktor Gyökeres são um bocadinho como o futebolista Viktor Gyökeres: pouco complicadas, diretas ao assunto. “Há muita coisa a ser dita agora, boa parte é falsa. Falarei quando for oportuno”, escreveu sucintamente o sueco nas stories do Instagram.
Ainda que aparentemente elementar, a mensagem traz um certo paradoxo. Gyökeres está no Sporting, mas parece já não estar. A cabeça e os desejos profissionais do panzer nórdico já estarão noutro lugar, um lugar mais ambicioso que o Sporting e que lhe terá sido prometido. E que agora parece mais longe. Um Gato de Schrödinger futebolístico, como tantos, não fosse o defeso a repetição ad nauseam dessa experiência.
Há um ano, depois de uma primeira temporada com 43 golos marcados, o avançado sueco ficou no Sporting. A continuidade de Ruben Amorim terá sido decisiva para que Gyökeres se mantivesse por Portugal, sob o compromisso leonino de, no final de 2024/25, não cortar as asas ao seu mais prolífico jogador, não exigindo a cláusula de rescisão de 100 milhões de euros para o libertar.
Durante a época, Gyökeres não abrandou, nem depois da saída de Ruben Amorim para o Manchester United. Aliás, subiu os números e o carácter decisivo. Com Rui Borges, o Sporting tornou-se mesmo dependente do nórdico, que marcou impressionantes 54 golos em 52 jogos, aos quais ainda acrescentou 13 assistências. O Sporting foi bicampeão e ainda ganhou a taça. Números e troféus que valeriam, per se, uma chuva de propostas.
Mas é aqui que as duas partes parecem estar em desacordo.
Nos últimos dias, o jornal “Record” deu conta da fúria do avançado. Da parte dos representantes de Viktor Gyökeres há a garantia de que existiu um compromisso, numa reunião em setembro, de deixar sair o jogador por 60 milhões de euros + €10 milhões por objetivos, decidido em conversas com Hugo Viana, então ainda diretor desportivo. O diário diz que o empresário do jogador, Hasan Çetinkaya, estaria mesmo na disposição de tornar públicas mensagens onde alegadamente Hugo Viana, agora no Manchester City, assumia esses números.
Frederico Varandas tem entendimento diferente das reuniões do ano passado e reagiu em força às mensagens passadas pelo empresário do jogador pela comunicação social: “O Sporting não vai exigir a cláusula de rescisão, mas já me deviam conhecer melhor: ameaças, chantagens e ofensas comigo não funcionam. Uma coisa posso garantir: o Viktor Gyökeres não sai por €60 milhões + €10 milhões”, atirou, frisando que o agente do jogador “só está a piorar a situação”.
E não sai, garante o presidente do Sporting, porque nunca esse número terá sido acordado nas reuniões com Çetinkaya, nas quais Gyökeres não esteve presente. Na quarta-feira, em Leiria, Varandas assumiu que houve um compromisso de não exigir o valor da cláusula, até pela idade do jogador, que iria fazer 27 anos, e por respeito ao desejo de Gyökeres em estar numa equipa que possa lutar pela Liga dos Campeões. Mas deixou o resto para o desempenho do sueco nesta época. Frisou também que o Sporting não havia recebido qualquer proposta concreta pelo jogador, nem há um ano, nem no final desta temporada.
“Eu disse esta frase: não vale a pena estarmos a fixar um valor, porque não sei o que vai acontecer daqui a um ano. Não sei se o Viktor vai ter uma lesão grave no joelho, como já tinha tido; pode fazer uma época dececionante. Vai ser o primeiro ano que vai jogar a Champions, que é onde os tubarões vão estar realmente atentos”, sublinhou o presidente do Sporting, que diz ter então prometido “ajustar o valor à performance do Viktor”, que poderia ser de “40, 60 ou 80 milhões de euros”.
E face à época de Gyökeres, o Sporting deverá puxar mesmo o valor para cima.
A resposta do empresário do avançado chegou via Suécia, com o diário “Aftonbladet” a escrever que Hasan Çetinkaya acredita que o Sporting divulgou detalhes da operação que Gyökeres fez ao joelho em maio do ano passado, que deveria ser confidencial, com o objetivo de travar uma potencial transferência.
De Juventus a Atlético Madrid, passando pelo campeonato saudita e Manchester United. Não faltam interessados no concurso do sueco mas, garante o “Record”, só o Arsenal se terá chegado à frente, apresentando uma proposta nas últimas horas de €55 milhões + €10 milhões. Por isso, bem longe das pretensões do Sporting.
O clube de Londres estaria dividido entre o esloveno Benjamin Šeško, mais do agrado de Arteta, e o sueco, uma escolha da estrutura. Estará a avançar para Gyökeres, com o United de Ruben Amorim ainda não totalmente fora da corrida. Com o Sporting a exigir um valor na casa dos 80 milhões de euros, dificilmente as negociações serão rápidas. Gyökeres, para todos os efeitos, ainda é jogador do Sporting até 2028. Ao mesmo tempo, já não parece ser jogador do Sporting.
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