Surf

Alex foi ao México e chegou à final da primeira etapa do circuito de ondas gigantes - mas achava que ia lá só para ver

Alex foi ao México e chegou à final da primeira etapa do circuito de ondas gigantes - mas achava que ia lá só para ver
Edwin Morales/WSL

A história do último par de semanas de Alex Botelho, surfista de Lagos, resume-se assim: o português de 26 anos foi até ao México só para ver a primeira etapa do circuito mundial de ondas grandes e aprender, até alguém se lesionar, a organização convidá-lo a participar e o surfista chegar à final, em Puerto Escondido. Alex Botelho acabou no 5º lugar na primeira vez que surfou numa etapa do circuito fora da Nazaré

De onde apareceu este convite para ires ao México?
Na verdade, tinha um wildcard para este evento, como alternate. Ou seja, tinha uma vaga, mas como substituto, só iria se alguém se aleijasse. Eles fazem a lista final e confirmam com as pessoas três dias antes do início da competição. Quando saiu a lista, não havia vaga para mim.

Ou seja, viajaste a pensar que não ias competir.
Exatamente. Decidi vir à mesma, pronto, pus na cabeça que seria para ver o campeonato e aprender, ficar com alguma experiência no caso de, no futuro, vir a competir cá. Depois, ao segundo dia de estar cá, os organizadores deram-me a notícia de que alguém tinha desistido, que estava mal do joelho. Foi uma grande sorte.

Tinhas levado pranchas e material suficiente para uma prova?
Sim, tinha umas pranchas comigo. Uma pessoa vai sempre com pressão na boca quando viaja para estas coisas, porque é tudo tão em cima e há a preocupação de as bagagens não chegarem de imediato. Ainda por cima são enormes. Para surfarmos este tipo de ondas, as pranchas medem, às vezes, três metros. Às vezes há problemas no avião, mas até correu tudo bem, só me tiraram algumas botijas de CO2, que servem para encher os coletes. De resto, correu tudo bem.

Já tinhas surfado a onda de Puerto Escondido?
Não, foi a primeira vez. É uma onda icónica entre as ondas grandes e já era um sonho que tinha há muito, muito tempo.

O que engrandece ainda mais o feito de teres chegado à final da competição, não?
[Ri-se um pouco] Sim, senti-me que entrei com o pé direito. Há sempre ondas em que uma pessoa se dá melhor, e senti que, neste sítio, encaixei bem. Fiquei com o doce sabor da onda, apetece-me voltar.

Sinceramente, não estavas com medo, ao início?
Medo sim, está sempre presente. Mas acho que é esse medo que, de certa forma, canalizamos para a força. É o combustível para conseguir estar a divertir-me neste tipo de mar. O medo é normal, pelo menos para mim.

[vendo isto, talvez se perceba o medo]

Mas, sendo uma onda que não conhecias, sentes medo do quê, propriamente?
Quase nem quero pensar o que pode pensar. Tento focar-me e pensar que vai tudo correr bem. Se fico a pensar que estou com medo de que aconteça isto ou aquilo, a cabeça começa a entrar em parafuso. Claro que uma das coisas que está sempre presente é o medo de ficar debaixo de água, ou o impacto de uma onda em cima de ti. Mas isso é inevitável que aconteça. Muitos dos atletas saíram desta competição um bocado amolgados, para o dizer de forma leve. Mas pronto, faz parte.

Nunca pensaste em tentar entrar para o circuito mundial de ondas grandes?
Já tinha pensado nisso, mas só este ano defini isso, mesmo, como um objetivo. Esta foi a primeira etapa do circuito, foi um bom começo.

És de Lagos, no Algarve, onde não há ondas grandes. Como é que um surfista de lá apanha este gosto?
Temos algumas ondas fortes, mas sim, não temos ondas gigantes. Foi uma coisa progressiva. Tive um treinador, o Sérgio Brandão, que sempre me incentivou a ir até aos limites, o que me ajudou muito. Depois, como o surf implicar viajar muito, acabei por ir a muitos sítios. E o facto de, em Portugal, termos a Nazaré, foi uma grande ajuda. Está ao nível das melhores ondas do mundo.

E tens pontos de comparação: foste o primeiro português a surfar Jaws, no Havai, e já estiveste em Mavericks, na Califórnia.
Sim, sim. Todas as ondas são assustadoras, mas um pouco diferentes. A Nazaré completamente à altura e, para mim, até é uma das mais desafiantes.

As ondas pequenas, ou melhor, normais, já não te dão a mesma pica?
Tenho vontade de as surfar, claro. Mas o sentimento final depois de uma sessão em ondas gigantes é diferente da sensação com que ficas depois de surfares ondas pequenas. Podem ambas ser estimulantes, claro. Adoro surfar tudo! Estamos aqui no México a ponderar ir surfar ondas diferentes, mais “normais”, o que, obviamente, também me dá uma pica do caraças.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dpombo@expresso.impresa.pt