A garrafa é levantada em sintonia e em grupo. Brinda-se à vitória e o escorrer daquela mistura de cereais fermentados e lúpulo pela garganta abaixo significa muito mais do que matar a sede.
“É a primeira cerveja da temporada!”
Nic von Rupp afirma-o como uma espécie de suspiro de dever cumprido. A temporada de ondas gigantes na Nazaré obriga a muito treino, muito confronto com a natureza e, claro, cuidados com o corpo. Agora que repetiu o triunfo coletivo de 2022, desta vez com o francês Clement Roseyro - que venceu o prémio individual de melhor onda do dia -, é hora de relaxar, mesmo que os níveis de adrenalina ainda estejam no pico. O surfista português exprime-se com gestos acelerados, em várias línguas. Já não são visíveis os danos colaterais que uma prancha atirada pelo poder das ondas da Nazaré lhe provocou há um par de semanas. Dois dentes da frente jazem agora no fundo do mar, ossos do ofício para quem se arrisca aqui nestas montanhas feitas de água.
Mesmo que Von Rupp saiba o que é vencer aqui, no seu habitat, é como se esta fosse a primeira vez.
O sorriso só não ultrapassa os limites das duas orelhas porque tal será humanamente impossível. Porém, olhando para o mar, haverá mesmo humanamente impossíveis para estes surfistas? Já a noite cai quando o lisboeta de nascimento, mas do mundo em quilometragem no passaporte em busca das melhores ondas, conta à Tribuna Expresso que está “super feliz” pela vitória nesta edição do Nazaré Big Wave Challenge, na terça-feira. A felicidade é para partilhar com toda a equipa (o trânsito de motos de água durante a prova abre-nos os olhos para o tamanho da logística) e com colega de dupla, Clement, “um surfista do cara…” - o palavrão não lhe sai na totalidade, Nic está ilibado de tal crime, mas é para que se perceba o entusiasmo.
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